XV

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Essa é a última lamúria,
E talvez a parte mais difícil.
Versos e vozes valsantes de luxúria,
Põe-se afora de meu ser em sacrifício.

Dores remotas que serpenteiam ao chão,
Se dirigem ao fogo que acendi para queimar-te.
Vão-se as notas e as letras da canção,
Que lancei às chamas coloridas como arte.

Quiçá houvesse maneira mais fácil,
De arrancar o teu gosto da alma e do peito.
O cheiro impregnado e seu toque grácil,
Esse mal intratável que me havia feito.

Pesadas penas puseste em meus ombros,
À fulgurantes ilusões me fizeste ser fiel.
O escuro mata e me envolve em assombro,
O contrário da limpeza feita pelo fogaréu.

As fotos recortadas com seu rosto afável,
Já são menos que pó no meio do incêndio.
Não quero ser salvo neste estado deplorável,
Prefiro morrer queimado que viver em vilipêndio.

Ofereço-te agora o meu último adeus,
Enquanto minha pele pálida no fogo arde.
Descansa minh'alma longe dos olhos teus,
Depois que a fumaça densa o meu peito invade.

Este será o último verso,
A última nota que cantarei aos sussurros.
Gritaria alto no calor perverso,
Mas prefiro abafar-me nos meus prantos obscuros.

Amada minha, meu abrigo,
Agora queimo como Sol que outrora foi meu inimigo.

Chão de giz (Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora