Capítulo 17

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Acordo com uma batida forte na porta, minhas costas doíam e meus olhos estavam praticamente grudados de tanto que eu chorei, acabei dormindo no chão abraçada com o Jogi.

Continuo paralisada onde estou apenas ouvindo as batidas na porta, meu coração acelera e sinto calafrios. Eu não tranquei a porta, levanto correndo e viro a chave na fechadura.

"Pamela?" Ouço uma voz familiar. Meus olhos lacrimejam novamente, eu não sei se eu quero atender. "Eu só quero saber como você tá, se você não abrir pra mim vou ter que ir atrás da sua amiga doidinha, a Aline"

Fecho os olhos e me preparo pra humilhação que vou sentir quando olhar pra ele. Além dele ter me deixado plantada ele deve ter ouvido tudo que aconteceu ontem com o Saulo. Ele deve ter ouvido eu apanhando!

Ele bate na porta de novo com uma certa urgência.

Abro a porta de uma vez e ele faz uma cara de surpresa ao olhar meu rosto, ele entra sem esperar eu falar algo e fecha a porta.

"Foi por minha causa?" Ele diz e segura meu rosto delicadamente analisando. Eu não tinha nem coragem de ir na frente do espelho ver a marca que ficou.

"Nem tudo é sobre você, Vitão" ele me lança um olhar de reprovação mas não fala nada

"Você..."

"Ouvi a mensagem? Sim" Como assim mensagem? Meu Deus eu tive a chance de apagar e não fiz? "Desculpa não ter vindo antes eu tava enrolado no estúdio... demorou tanto pra eu conseguir vir embora, eu sinto muito" ele continua olhando meu rosto preocupado.

"Então você não atendeu a ligação?" Pergunto com o tom de voz inseguro.

"Não, foi pra caixa postal"

"Que patético" acabo falando alto o que eu estava pensando.

"Não, não foi...eu queria ter atendido, esse cara é um covarde" Ele anda até a cozinha como se fosse dono do local. "Gelo?" Ele pergunta e eu vou até a cozinha acompanhá-lo. Aponto pro refrigerador e ele abre pegando uma forma de gelo. Fico desconcertada olhando ele mexendo nas coisas da minha cozinha e pega o pano encima do balcão e envolve um cubo de gelo com ele, antes que eu pudesse piscar ele me segura no colo com uma mão só e me coloca no balcão, fico me sentindo uma criança enquanto espero. Ele coloca o pano com gelo no meu rosto e eu não consigo conter a expressão de dor "Tá doendo muito?"

"Mais ou menos" falo e desvio o olhar do dele.

"Você vai denunciar ele né?"

"Não me cobra isso" murmuro tão baixo que tenho quase a impressão que ele não me escutou mas quando olho pra ele vejo ele com uma expressão de quem está com o pensamento longe.

"Você devia" ele fala no mesmo tom.

"Eu dúvido que ele sequer ficaria preso, os pais são muito influentes" Confesso. Seria muito fácil pra ele se safar de uma acusação assim, os pais acreditariam nele fielmente e usariam a influência deles pra livrarem ele de tudo.

"Mas só por precaução" ele fala e olho ele puxar o celular do bolso, ele aponta pro meu rosto e ouço um barulho indicando que ele tirou foto. "É bom ele torcer pra eu nunca mais ver ele na minha frente" ele diz enquanto guarda o celular.

"Eu não quero que você brigue por minha causa, pode te prejudicar" Ele revira os olhos e não me responde. Não tenho coragem de tocar no assunto da última vez que nos vimos, para todos os efeitos vou fingir que estava bêbada demais e esqueci de tudo pra poupar minha vergonha.

"Ele já...é a primeira vez que ele te agride?" Ele pergunta

"Você ouviu a briga toda?" Ignoro a pergunta dele.

"Ouvi quase tudo" ele tira o gelo que meu rosto e analisa com cuidado "e também descobri outra coisa...é você minha admiradora secreta né?" Ele levanta a sobrancelha e naquele momento eu queria sumir, eu tinha esquecido desse grande detalhe, é óbvio, eu liguei pra ele sem querer ele viu que era o mesmo número.....como se já não bastasse toda a humilhação.

"Meu Deus, já são três" acabo falando alto pra mim mesma, sinto que eu devo estar vermelha como um pimentão

"Três o que?" Ele acaricia meu rosto suavemente e nossos olhares se encontram. Eu não posso gostar de você, minha mente me avisa... Eu não posso me envolver com alguém que possivelmente nem vai dar certo comigo, e até parece que ele ficaria comigo, só comigo. Ele é instável e eu não consigo depositar mais minha confiança em homem nenhum.

"Humilhações né, elas decidiram vir todas juntas, nem pra esperar um dia de cada" cruzo os braços irritada.

"Você até que me enganou." Ele confessa e dou uma risada sem humor.

"É, mas agora você já sabe" Droga, por que eu fui ouvir a Aline nessa?

Ele troca o gelo do pano e coloca novamente no meu rosto.

"Eu achei criativo, não é humilhação" ele fala depois de alguns segundos. Até parece que não é humilhação né, amado.

"Você tá falando isso só pra eu não me sentir mal" faço uma careta e depois fecho os olhos ao sentir meu rosto doer por eu ter forçado sua musculatura onde está machucado.

"Ele te bateu só no rosto?" Ele pergunta e antes que eu possa responder ele olha meus braços, minhas costas, meu pescoço pra ver se encontrava alguma marca. Eu queria saber qual é o segredo pra ele parecer tão calmo em situações assim, se fosse ao contrário eu estaria desesperada, o que ia piorar a situação, mas ele conseguiu me acalmar.

"Só...eu não pensei que ele fosse fazer isso" meus olhos se enchem de lágrimas quando um filme do que aconteceu horas atrás passa pela minha cabeça.

"Ele é um covarde" ele fala com uma expressão de raiva. Ele tira o gelo do meu rosto e olha pra ver como está novamente

"Você acha que vai ficar roxo?"

"Talvez, você tinha que denunciar ele, eu vou com você."

"Não! Eu não quero" nego na hora, só de pensar em sentar na frente de um delegado e contar tudo que acontece me dá arrepios.

"Você tem medo do que? Ele não vai mais chegar perto de você" Ele continua insistindo e eu me sinto desconfortável falando disso com ele.

"Como você sabe? Você não vai estar comigo o tempo todo, você tá aqui agora mas daqui 2 segundos você pode olhar pra mim e falar que tem que ir embora. Você sempre vai embora" Levanto a voz trêmula e acabo falando tudo que eu estava pensando de vez.

"Eu não vou embora" ele fala depois de ficar uns segundos me olhando.

"Vai sim, umas horas atrás você estava comigo e do nada você foi embora e me deixou sozinha, sabe o quanto isso me fez sentir uma idiota?" Limpo meus olhos antes que as lágrimas comecem a descer, eu estava com os sentimentos a flor da pele, não sabia se era uma boa decisão discutir qualquer assunto agora e eu não queria que ele soubesse que o que ele fez na boate me magoou, eu não queria parecer fraca.

Ele me abraça e eu sinto o perfume dele invadir meu nariz. "Eu sei, eu sei...eu sou um babaca" Ele sussurra e aquilo me incomoda, eu não gosto quando as pessoas se auto depreciam. "Mas eu tô aqui agora, ele não vai mais chegar perto de você" ele fala como se fosse uma promessa, mas não tem como ele me garantir isso, ele quase nunca vai estar por perto e o que nós somos? Absolutamente dois estranhos.

Ele me leva até o quarto e me coloca na cama, não o paro quando ele começa a desabotoar minha calça jeans e tirar ela. Ele olha ao redor até achar o que ele procurava, uma coberta, ele me cobre e ajeita meu travesseiro depois olha pra mim

"Você vai embora?" Eu não quero que ele vá embora, eu me sentia protegida com ele aqui, e eu não quero ficar sozinha, mas eu sei que ele nunca fica.

"Não" ele responde pra minha surpresa e vai até o outro lado da cama. Sinto quando ele deita do meu lado e meus olhos começam a pesar, ele se aproxima mais de mim e começa a mexer no meu cabelo, logo eu esqueço de tudo e caio no sono.



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