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Filipa Pessoa

Escuto alguém entrando, é João e Marcelo, acompanhados por uma enfermeira.

- Filipa, ainda bem que está acordada. - Diz Marcelo com olheiras profundas e olhos vermelhos, provavelmente por causa de choro, dando um sorriso amarelo para mim.

- Eu sinto muito. - Minha voz falha, e as lágrimas invadem meus olhos.

João se senta ao meu lado, colocando o braço em volta de mim.
Não éramos mais tão próximos como antes, mas ainda sim, ele sempre me ajudava e visse versa.

- Poderá ir embora depois do almoço senhorita Pessoa. - Diz a enfermeira que não teve nem a decência de dizer um "eu sinto muito".

Os soluços involuntários de choro quebram todo o silêncio do quarto, João ainda está me abraçando.

- Acho que vou dar um pulo lá em casa, tomar banho, e volto para buscar vocês. - Tio Marcelo estáva cansado, eu podia ver. Apenas concordo. - Você vem, macho?

- Agora não, vou ficar mais um pouquinho. - Ele sorri de lado e sai.

- João, por que isso tinha que acontecer? - As lágrimas já molhavam minha pele. - Foi tudo culpa minha.. - Minhas mãos vão até meu rosto e escondem meus olhos. Consigo sentir o olhar sobre mim, o cacheado não sabe o que dizer para me confortar..

- Não te culpa, não. - Ele me puxa para deitar a cabeça em seu ombro, escondo meu rosto ainda com as mãos, mas me deito.

- Eu não deveria ter deixado eles lá, não deveria. Agora eu estou sozinha, João.

- Se você tentasse ajudá-los iria acabar como eles.. E, eu estou com você. - As palavras de João me confortam por breves segundos, mas o desespero bate novamente.

- Eu não tenho amigos e agora não tenho família! Eu to sozinha... - Novamente lágrimas percorrem minha pele.

- Tu tem eu, tem o Marcelo, tem o Pessoal da escola! Tem todos nós.

- Eu sempre tratei eles mal, João. Eles nunca vão querer me ter por perto.

Um silêncio se alastra no quarto. João apenas move sua mão até minha cabeça, fazendo carinho em meus cabelos.

- Quando é o enterro? - Eu quebro o silêncio, com os olhos fechados, quase dormindo.

- Amanhã de manhã.

- Ok...

(...)

Me levanto assustada, meu coração está batendo tão forte que sinto como se fosse explodir, o desespero em meu peito é tanto que lágrimas desgovernadas já estão molhando minha pele quente, gritos medrosos tomam conta do quarto de hospital.
Meu desespero foi por conta de um pesadelo. Minha família estáva em uma floresta e derrepente tudo estáva em chamas e eu não consegui fazer nada. As cenas de vê-los queimar é horrível.

Olho para todos os lados, João não está mais lá. Isso faz com que eu me desespere mais.
Enfermeiras adentraram meu quarto, desesperadas, elas vem em minha direção e tentam me acalmar.

- Filipa, respira: um, dois, três...

Isso ajuda, e em poucos segundos estou voltando ao normal. A sensação de desespero ainda está ali.

- O que aconteceu? - Uma delas pergunta.

- Eu vi eles, ouvi os seus gritos por socorro, deveria ter ajudado eles.. - As lágrimas que tinham acabado de serem secas, novamente molham minhas bochechas.

- Não fica assim.. Isso é muito recente pra você.

João e Marcelo entram no quarto, com cara de tacho.
As enfermeiras me levam até o banheiro, me alcançando minhas roupas para que eu possa ir para casa.

Me visto, me despeço e pegamos a estrada para casa de tio Marcelo.

Aviso🐦

Oi gente, eu só queria dizer que as vezes vai dar a loka no João e ele vai falar igual gaúcho/Paulista pq eu n sei fazer o sutaque nordestino dele..

Meu Abrigo | JolipaOnde histórias criam vida. Descubra agora