❝ chapter twenty-six. ❞

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Estava anoitecendo

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Estava anoitecendo. Eu estava completamente hipnotizada pela cor alaranjada do céu enquanto o sol ia embora. Neste exato momento, eu estava voltando de uma entrevista de emprego para ser uma recepcionista de um consultório de odontologia. Enquanto o escritório de advocacia não respondia minha candidatura, eu precisava fazer algo para me virar sozinha. Eu não queria de forma alguma viver apenas da herança da mamãe e do pouco dinheiro que o papai manda pra mim. Não tem nada melhor do que ser independente.

Senti o vento fresco bater contra o meu rosto e vi que o relógio marcava 18:00. Meu dia tinha sido cansativo. Acordei cedo para essa entrevista e ainda fiz milhares de coisas na rua. Nunca pensei que a vida de uma garota de 21 anos seria tão agitada.

Parei em uma praça que havia por ali e me sentei num banco qualquer. Tomei um gole da minha garrafa d'água enquanto observava o movimento. Vi algumas crianças brincando no pequeno playground que havia ali e logo lembrei de quando eu tinha essa idade. Minha única preocupação era chegar em casa à tempo da escola para poder ajudar a mamãe a fazer muffins para o lanche da tarde. Lembro que minha maior alegria era isso. Passar um tempo com a mamãe.

Sinto muita falta dela.

Respiro fundo e encosto meu queixo na palma da mão enquanto continuo a observar a praça até que, para a minha surpresa, aquela jaqueta preta que não enganava ninguém abrigava braços fortes de alguém caminhando despreocupadamente por ali.

Jack se dirigiu até uma vendinha que havia ali e comprou um sanduíche de sorvete. O encarei com cautela e percebi que seu maxilar estava tenso. Parecia nervoso ou estressado com alguma coisa. O que será que era?

De imediato, lembro da pequena "discussão" que nós tivemos. Suspiro ao lembrar que havia chateado ele.

Era tudo muito confuso. Todos os homens que apareceram na minha vida foram extremamente tóxicos e escrotos comigo. Isso me gerou um trauma e desconfiança muito grande. Mas, Jack parecia não ser assim, mas do mesmo jeito, eu não confiava nele. Era um homem. Capaz de qualquer coisa e eu não estava afim de pagar pra ver.

Enquanto via Jack se encostar na parede e comer o seu sanduíche, percorri meus olhos sobre o mesmo. Seu semblante estava cansado. Parecia exausto com suas pálpebras pesadas. Isso me deu um pouco de dó, pois ele normalmente é sempre muito eclético e "animado".

Meu transe foi cortado quando percebi que eu já não estava mais o encarando sozinha, pois seu olhar também estava vidrado ao meu. Ele tinha um semblante sério e aquilo talvez me desse um pouco de medo, se seu bigode não estivesse branco por conta do sorvete. Eu ri fraco e ele pareceu não entender, pois me olhou com o olhar confuso. Apontei para o meu buço e passei o dedo sobre o mesmo, indicando que o dele estava sujo. Jack encostou os dedos na região abaixo de seu nariz e logo notou que estava sujo de sorvete. Eu ri quando vi a cara que o mesmo fez. E, como uma das primeiras vezes, ele riu pra mim de volta. São pouquíssimas vezes que eu vejo esse homem sorrir de verdade e, talvez, significasse alguma coisa pra mim.

Logo, nosso olhar e silêncio se manteve novamente. Senti meu coração apertar, gritando para que eu fosse falar com ele, mas meu orgulho dizia outra coisa. Eu estava numa disputa eterna e interna.

Jack estava demonstrando ser um cara legal comigo. Então, o que custava dar um voto de confiança? Digo, não totalmente, pois sei muito bem do que essa raça era capaz. Mas, eu não sei, talvez eu devesse confiar em mim mesma.

Finco minhas unhas na palma da mão e, pela primeira vez, eu deixei meu orgulho de lado. Me levantei e aquilo pareceu surpreender Jack. Pois é, Gilinsky. Não é só você que está surpreso.

Em passos lentos, eu me direcionava até o cara que estava encostado na parede, com uma mão dentro do bolso da jaqueta e a outra segurando seu doce. O barulho do pequeno salto das minhas botas parecia que só aumentava toda aquela tensão. Por que diabos eu estava fazendo isso? Eu deveria estar ficando louca mesmo.

— Não consegue viver sem mim, não é? — Ele deu uma mordida no seu doce e eu revirei os olhos.

— Se você quiser, eu dou meia volta e te deixo aí com esse bigode de creme.

Ele riu pelo nariz.

— É o desejo incontrolável de beijar minha boca? — Ele passou a língua sobre os lábios.

Maldito.

— Sem gracinhas, Gilinsky — Peguei o sorvete de sua mão, dando uma mordida. — O que tá fazendo aqui essa hora?

— Você se importa? — Ele arqueou a sobrancelha. Eu fiquei em silêncio. — Foi o que pensei.

— É curiosidade. — Dei de ombros. — Mas, já que não vai falar, tudo bem.

Ele olhou pros seus pés. Parecia pensativo.

— Eu discuti com a minha mãe. — Me surpreendeu. — Ela tem alguns problemas mas, não quer ser ajudada.

— Quais problemas?

— Alguns problemas financeiros. Nada demais. — Ele brincou com seus dedos. — Ela deve muita gente. Meu pai foi embora e nos deixou com problemas até o meio do pescoço. Mas, o trabalho da minha mãe não dá dinheiro o suficiente pra ela pagar todas essas dívidas. — Chutou uma pedrinha no chão. — E ela não quer que eu ajude. Eu tenho meu dinheiro. Eu faço minhas coisas.

— Eu não sabia nem que você tinha mãe. Nem trabalhava. — Eu olhei pra ele que me encarou de volta. — Nunca me falou nada sobre.

— Na maioria do tempo, você só quer me tacar pedras.

Eu ri fraco. Era verdade.

Depois dessa fala, ficamos em um silêncio desconfortante. O que Jack havia me contado tinha despertado muito a minha atenção. Ele tinha uma mãe viva e trabalhava. Não sei o que eu pensava pra achar que ele vivia sozinho no mundo e que dinheiro caía do céu.

— Aileen — Ele me chamou.

— Sim? — Respondi. Ele tinha uma expressão séria no rosto.

— Vamos pra minha casa. — Ele mordeu seus lábios nervosamente.

Eu revirei os meus olhos. Eu sabia que não havia mudado.

— Tchau, Gilinsky.

Eu estava pronta pra dar as costas, mas ele segurou meu braço.

— Eu não vou fazer nada. Eu só quero ficar mais próximo de você. — Falou rapidamente. — Vamos ver algum filme, série, preparar comidas ou sei lá. Só quero experimentar ser a porra de uma pessoa normal, pelo menos uma vez.

Ele suspirou. Eu estava em choque.

— Por favor.

Uma guerra se formou em minha cabeça.

O que eu responderia?

𝐒𝐄𝐗 𝐆𝐀𝐌𝐄, 𝗴𝗶𝗹𝗶𝗻𝘀𝗸𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora