❝ chapter forty-two. ❞

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Fechei os olhos. Contei até cinco. Mexi meus dedos das mãos e controlei os milhões de palavrões que corriam pela minha cabeça, também segurando a vontade de socar a cara dele. Respirei fundo e coloquei um sorriso nervoso no rosto, pousando minhas mãos nos ombros de Jack.

— Pai, esse é o Jack. Nós estamos juntos. — As sobrancelhas de papai se levantaram.

Vi a cor de Jack ir embora e seu rosto ficar pálido quando ouviu a palavra "pai". Seus ombros ficaram tensos e eu sentia que ele estava prestes à cair duro.

— Que surpresa, filha. — Meu pai confessou. — Não tinha comentado dele antes.

— Faz pouco tempo que estamos juntos. — Meu pai assentiu e eu olhei pra Jack. — Vai se servir. — Falei baixo e selei seus lábios. Ele concordou com a cabeça rapidamente e foi fazer o que eu disse. Senti vontade de rir com seu desespero.

Me sentei novamente e logo Gilinsky se sentou ao meu lado com seu prato de comida. Continuamos com o nosso diálogo tranquilamente e agradeci à Deus por não pairar um clima ruim. Papai sempre foi muito tranquilo, mas em relação à mim, não podia deixar de mostrar seus ciúmes. Isso já me incomodou muito, mas depois que deixei de ser adolescente ele deu uma afrouxada nessa questão e tudo ficou mais tranquilo.

— Então, Jack, com o que você trabalha? — Meu pai iniciou um assunto e eu segurei a mão de Gilinsky por baixo da mesa.

— Eu sou entregador de pizza, mas faço técnico de enfermagem. — Me surpreendeu.

Eu ainda não havia descoberto com o que Jack trabalhava, até então. Evitava de perguntar porque não queria incomodar.

Depois de iniciar um diálogo com meu pai sobre profissões, a conversa foi pulando pra vários assuntos até chegar em gostos musicais. Olhei pra cara de Helena com tédio e ela riu fraco, se levantando e olhando pros meus irmãos.

— Arthur, Maria, vamos dar uma volta com a Aileen? — Helena perguntou e as crianças concordaram animadas. Toquei o ombro de Jack que me olhou de canto de olho.

— Vou dar uma volta, ok? — Ele apenas assentiu e eu dei um beijo em seu rosto antes de me levantar. Jack literalmente cagou pra mim de tão entretido que estava na conversa com papai.

Helena também falou com meu pai e logo saímos do apartamento, também rapidamente saindo do prédio.

— Tem um shopping aqui perto. O que acha de darmos uma volta por lá? — Perguntei e Helena abriu um sorriso.

— Seria ótimo, Aileen. Espero que não incomode. — Eu neguei.

— Nunca é incômodo estar com a família.

Entramos num táxi e fomos em direção ao shopping. No caminho, jogamos conversa fora sobre roupas e coisas do tipo. Perguntei também sobre as crianças. Helena me contava cada história dos dois que eu morria de rir. Querendo ou não, meus irmãos não eram mais crianças. Estavam entrando em sua pré adolescência e aquilo era muito empolgante até pra mim.

Assim que chegamos ao nosso destino, Helena insistiu para dividir o dinheiro do táxi e eu acabei cedendo. Descemos do veículo e entramos no enorme estabelecimento, logo começando a passear por aquela imensidão. Entramos em diversas lojas e saímos de algumas com poucas sacolas. Eu estava adorando tudo aquilo.

— Então — Helena e eu caminhávamos enquanto Arthur e Júlia estavam mais à frente. — Aquele menino, o Jack, é seu namorado?

Eu neguei com a cabeça.

— Ainda estamos nos conhecendo. Ele lutou muito. — Eu ri fraco.

— Como assim?

— Eu não queria me render à ele, entende? — Ela assentiu. — Achava que ele era igual a todos os homens e eu não estava com paciência pra pagar de babá de homem velho.

— Eu entendo. Passei a mesma coisa com seu pai. — Levantei as sobrancelhas.

— Mãe, eu e o Arthur podemos comprar sorvete? — Maria questionou e Helena assentiu. Ela ia puxar sua carteira mas eu segurei seu braço, a impedindo o que fez a mesma me olhar.

— Deixa que eu pago, Lena.

Ela ficou meio relutante mas cedeu. Dei o dinheiro na mão deles e eles foram num point de sorvete que havia no meio do shopping, próximo da onde nós estávamos. Helena e eu nos sentamos num banquinho. Pedi para a mesma continuar a história e ela assentiu.

— Meu ex marido era muito agressivo comigo. Cheguei a ficar grávida daquela peste, mas Deus sabia que não era pra ser e eu perdi o bebê. — Eu abri a boca em choque. — Quando perdi meu neném, foi por conta dos nervosismos que ele me fazia passar, em brigas e diversas coisas. Em uma dessas brigas, ele me jogou da escada — Sentia meu coração palpitar rapidamente. — Deu no que deu. Tomei coragem e pedi o divórcio. Logo depois que nos separamos, eu conheci o seu pai. Mas eu já estava muito farta, sabe? Cansada, sem esperança e perspectiva de absolutamente nada. Aos poucos, ele foi se mostrando o homem incrível que era e que merecia todo o meu amor. Não demorou muito pra ficarmos juntos e pouquíssimo depois descobri que estava grávida da Maria Júlia. Foi o melhor sentimento da minha vida. Eu me senti totalmente abençoada. — Ele contava tudo com um sorriso no rosto. — Um ano depois, descobri a gravidez do Arthur. Minha gestação foi bem complicada. Eu tinha fortes dores e cheguei a pensar que ele nos deixaria. Mas, novamente, Deus agiu e meu meninão nasceu saudável como nunca. Agora, estou aqui contando essa história pra minha terceira filha. — Meus olhos se encheram de lágrimas. — Somos mulheres muito fortes, Aileen. A dor de perder alguém da família é arrebatadora. Mas, nunca desista. Quando algo vai, é porque coisas extraordinárias estão pra acontecer.

Eu mordi meu próprio lábio e assenti lentamente, depois de tudo que ela havia me falado. Eu nunca vou cansar de dizer que sou uma mulher muito forte e vou continuar sendo até não aguentar mais. E, caso eu não aguentar e cair, me levanto de novo.

Dei um abraço na minha madrasta e agradeci a Deus por ter ela ali comigo. Valorizo esses pequenos momentos pois descubro quem realmente está ao meu lado.

Meus irmãos voltaram com casquinhas nas mãos e trouxeram para nós também. Tomamos o sorvete com uma enorme felicidade e logo resolvemos ir embora. Ao chegarmos na porta do apartamento, uma barulheira sem fim preencheu meus ouvidos. Fiquei confusa.

Coloquei a mão na maçaneta e abri a porta, me fazendo e fazendo Helena e meus irmãos terem a melhor visão possível.

Jack e meu pai estavam em uma eterna gargalhada, com copos de cerveja nas mãos e um controle de vídeo game no colo de cada. Ainda sem notar nossa presença, eles fizeram um toque de mão e continuaram a jogar. Prendi meu riso entre os dentes e cruzei os braços, ouvindo Helena dar uma tosse seca e aqueles olhares se virarem pra nós.

— Vão fazer baderna na minha casa e nem me chamam? — Perguntei fingindo estar brava e eles riram. Coloquei as sacolas de compras num canto e me sentei no braço do sofá, vendo que eles jogavam um jogo aleatório de futebol. Helena se sentou na outra ponta do sofá e meus irmãos no meio de Jack e papai. Logo, os controles que estavam com eles, passaram para Maria e Arthur que de começo não sabiam jogar muito bem, mas logo entraram em uma competição sanguinária e assim por diante. Na minha vez, eu senti vontade de quebrar a televisão na cabeça de Jack, enquanto todos riam da minha fúria. Em pouco tempo, aquela sala foi tomada de gargalhadas e um clima extremamente agradável para todos nós.

Enquanto continuavam jogando, meu coração se esquentou e eu encarei toda a minha família ali com um sorriso no rosto. É exatamente aqui onde eu devo estar, junto da minha família. Sem qualquer tipo de dúvida.

𝐒𝐄𝐗 𝐆𝐀𝐌𝐄, 𝗴𝗶𝗹𝗶𝗻𝘀𝗸𝘆.  ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora