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  A música soava por todo o salão, o brilho dos lustres de ouro e cristal quase o cegava, demorou um tempo até que ele se acostumasse ao ambiente.

   — Lawrence?

   Alguém lhe chamou a atenção, era Monique, a mulher com quem ele estava dançando aquela valsa, a mulher que ele amava.

   — Pois não? — Respondeu ele, piscando os olhos fortemente, mas sem parar de dançar.

   — Você não parece bem.

   A jovem estava usando uma quantidade considerável de pó de arroz no rosto, uma peruca de fios cinzentos que deixavam seu cabelo alto, um vestido imenso e várias jóias. Ele não se importava muito com a aparência de Monique, ela era a mulher de sua vida, mas ele estranhou aquela aparência, ela parecia tão artificial...

   — Eu estou bem sim meu amor... — Ele deu uma pausa na dança, tirando as mãos da cintura dela e colocando em sua cabeça. — Só estou sentindo uma terrível dor de cabeça...

   — Venha comigo.

   Ela sorriu, segurando a mão do loiro e levando para fora do salão de baile, ele estava no palácio de Versalhes, e caminharam até os jardins, era uma bela noite de lua cheia, a nobreza estava em mais uma das festas, todas as revoluções contra a monarquia falharam, Lawrence nunca foi condenado à guilhotina, ele tinha a chance de passar o resto da vida com seu amor e sua família.

   Mesmo que para sustentar o estilo de vida da nobreza, a população tivesse que sofrer.

   Os dois já estavam a uma distância considerável do palácio, Monique olhou para Lawrence com um sorrisinho nos lábios, acariciando o rosto dele.
 
   — Eu sei que você está nervoso porque vamos nos casar em três dias, eu entendo, mas tente se acalmar, vai dar tudo certo...

   Ele iria se casar!?

   — Vamos nos casar?!

   — Sim, Você fez o pedido seu bobo. — Ela colocou os braços ao redor do pescoço dele, não tirando o sorriso do rosto.

   Os dois estavam em um jardim lindo debaixo da luz do luar ao lado de um baile, era o clima perfeito para que os dois trocassem alguma carícia, mas Lawrence não conseguia fazer nada, ele estava imóvel.

   Monique tentou beijá-lo, mas o homem rapidamente a afastou, vendo a decepção no olhar dela.

   — Eu não estou me sentindo muito bem Monique... — Ele suspirou.

   — Eu me esforcei tanto para ficar bonita para você esta noite... — Monique abaixou a cabeça. — Você estava bem quando saímos de casa, o que houve?

   — Primeiro, você não precisa de tudo isso para ficar bonita, nenhuma mulher precisa de toneladas de maquiagem ou um monte de jóias pra ficar bonita, você é linda Monique, você não precisa de nada para ficar mais bonita. — Ele acariciou o rosto dela, e ela sorriu. — E eu não sei o que houve comigo, eu só não estou bem...

   — Você é incrível Lawrence. — Ela beijou a bochecha dele. — Eu te amo.

   — Vamos voltar, eu preciso beber alguma coisa.

   Lawrence tocou a bochecha, Monique poderia ter colocado todo o carinho do mundo naquele beijo, mas ele não se sentiu bem, era como um beijo na bochecha comum, não o beijo na bochecha de sua noiva.

   O que estava errado?

•••

   Benjamin acordou em um susto, com lágrimas nos olhos e chorando desesperadamente.

   Já faziam tantos anos que ele não via seus pais, ele tinha uma irmã, ele sempre quis um irmão e pedia para seus pais com certa frequência, era a vida que ele sempre quis, e tudo aquilo não passava de uma ilusão.

   Ele ficou pior quando olhou ao redor, era seu quarto quando ele era pequeno, estava exatamente como na noite em que ele saiu de carro com seus pais, a cama bagunçada, seu baú de brinquedos no canto do quarto, eles estavam atrasados para sair naquela noite então a porta do guarda roupa estava aberta, seus bichinhos de pelúcia favoritos estavam na cama...

   Ele abraçou seu macaquinho de pelúcia, ainda chorando, ele sentia tanta falta de sua família, a dor que estava sentindo em seu peito era agoniante, ele queria ter ficado só mais um pouquinho, ter abraçado a mãe e o pai mais uma vez, ter feito algum carinho em sua irmã...

   Ele queria voltar para a ilusão.

   Ficou chorando por longos minutos, até sua mente voltar a trabalhar, ele se lembrou que estava em um almoço de família em comemoração ao retorno dele e de Joseph, e de repente tudo ficou claro, e ele acabou ali.

   Alguma coisa havia acontecido com as serpentes.

   — Joseph? — Ele deixou o bicho de pelúcia na cama e se levantou, secando as lágrimas. — Roger? Brian? Freddie? Paul? Alguém?

   Ele saiu do quarto, indo em direção ao corredor, procurando por qualquer um que estivesse naquela casa, olhou no quarto de seus pais mas não achou nada, o quartinho de hóspedes também estava vazio.

   Ele desceu as escadas, olhando para a sala e para a cozinha, mas não havia nada ali, ele até considerou estar em uma espécie de viagem no tempo. Benjamin saiu da casa, e percebeu que só ele estava vendo a casa, já que as pessoas até atravessavam as paredes.

   — Inferno. — Ele resmungou, quase que arrancando os cabelos para tentar pensar em algo.

   Até que teve uma brilhante ideia, iria usar seus poderes para se teletransportar para onde o Joe estava, e teria funcionado, se ele não sentisse uma sensação de fraqueza antes de pensar no teletransporte.

   — Meus poderes... O que houve com os meus poderes? — Ele olhou para as próprias mãos, estava se sentindo incrivelmente fraco, era como se aquela ilusão tivesse gastado todos os seus poderes.

   Bom, aquilo era a extração.

   Era um feitiço extremamente complicado que estava sendo feito pelos corvos da morte, para extrair os poderes da serpentes. Benjamin ainda estava tendo seus poderes extraídos, mas agora que estava acordado, o processo iria ficar mais lento, e ele iria ter uma falsa sensação de melhora em alguns minutos.

   Era muito mais fácil fazer a extração com as serpentes em coma, por isso os corvos investiram todo o poder deles naqueles dois feitiços. A extração não poderia ser interrompida de forma alguma, e se os três fizessem juntos, as serpentes iriam sumir mais rapidamente.

   Benjamin não sabia daquilo, nenhum deles na verdade.

   A falsa sensação de melhora chegou para o loiro, que usou seus poderes para ir até Nova York atrás de seu marido.

   Só não sabia que, quanto mais poder utilizava, mais ele colaborava com a extração.

The Deal • The Final ChapterOnde histórias criam vida. Descubra agora