VERTIGO (COMPLETO NA AMAZON)

XI

Erra muito menos quem, com olhar sombrio, considera esse mundo uma espécie de inferno e, portanto, só se preocupa em conseguir um recanto à prova de fogo.
Arthur Schopenhauer

Não conseguia compreender essa mania que as pessoas tinham de entrar em minha casa as escondida. Estava na academia já que o sono não vinha, quando vi Clint parado na porta, tão silencioso como sempre fora.

Ele me observava com os braços cruzados. Sua barba estava grande e os cabelos grisalhos também, o deixando com uma aparência perigosa; emanava fatalidade.

— O que deseja?

O homem se sentou no banco de um dos equipamentos, me olhando sério, aquela era a primeira vez em muito tempo que lhe dirigia a palavra. Sabia que para Campellone o mandar ali, era um assunto tão importante e confidencial que teria que falar com ele de qualquer jeito.

— Passar as informações do caso.

— Então diga — ordenei, ríspido e direto.

Clint não se abalou com o meu temperamento, pois já estava acostumado com esse tratamento, porém isso não o impediu de bufar frustrado. Alisando a grande barba, começou a falar:

— Ambos sabemos que ele só te chamou naquele galpão para mostrar que pode, para mostrar que nenhum de nós pode simplesmente tirar férias.

Sabia que meu comportamento fora do desagrado do meu chefe, contudo, depois do meu último caso, não conseguia voltar para a ativa. Precisava de um descanso que nunca me dei.

Levar durante duas semanas uma vida boêmia com bebidas e sexo não era o recomendável, no entanto, quando se está no inferno tem que se provar do pecado. E foi o que eu fiz, me tornei o maior pecador.

— Eu ainda limpei sua barra, pois você estaria morto agora por agir como um adolescente revoltado — seu olhar frio me queimava como gelo quando fica muito tempo em contato com a pele.

— Não pedi para você fazer isso — devolvi, travando uma guerra de olhares.

Os frios olhos que ele possuía contra a chama de ódio que sempre ardia em mim quando estava por perto. Eu queria provocar, irritar; fazer doer igual ele sempre fazia.

— Pare de agir como um adolescente, Chaol, e comece a agir como um homem — começou, sem paciência para ter que continuar no mesmo ambiente que eu. — Você tem um trabalho a fazer, e vim te passar as informações. Porque nosso chefe está tão possesso com você, que iria te jogar no meio daquela festança para se virar sozinho.

Caminhei para longe dele na sala, buscando por minha camiseta. Assim que a encontrei, passei pela minha cabeça e decidi que não iria travar mais uma guerra com ele quando estava aqui para — supostamente — me ajudar.

— Eu sempre me dei bem sozinho, mas a partir do momento em que você me deu uma equipe, aprendi que em algumas vezes uma ajuda é bem vinda.

Clint sorriu, sujo, porque sabia o que a minha equipe significava pra mim. Sabia que Avery e Thomas, além de parceiros, eram a minha família.