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DUOLOGIA OCULTOS - I
Chaol Brekker, tinha um passado árduo; o homem portava seus demônios enraizados por escolhas que não foram lhe dadas no passado. Toda a sua vida havia si...
Somos livres, e este é o inferno. Clarice Lispector.
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Não precisei abrir os olhos para saber de quem era a presença em meu quarto. Seu leve e suave caminhar, as portas que não rangiam ao serem abertas, a forma certeira como ele caminhou até o cômodo; ninguém conhecia aquele lugar tão bem quanto eu e ele. Mesmo no canto escuro, conseguia vê-lo sentado naquela poltrona no canto do quarto.
Sequer me importei com a presença da mulher ao meu lado, movi os braços e peguei a faca que escondia entre o vão da cama. O couro do cabo aqueceu minha mão; reconfortante.
Ao abrir os olhos, todo o mundo pareceu girar, mas a ressaca não seria um empecilho caso Thomas tivesse voltado para brigar. Ele continuava sentado na poltrona que arrastou silenciosamente para o canto da grande janela. Seu olhar vagou de mim para a mulher que dormia ao meu lado, e notei o divertimento que passou sob o seu olhar.
— Você nunca se cansa de brincar? — Começou. — Estou sempre tão ocupado com o trabalho e você arranja tempo para se banhar em um corpo qualquer.
Apesar de sua voz não passar de um sussurro, o tom que ele impunha ao falar era letal. Sua voz era o que mais se destacava nele. O modo como Thomas sabia fazer com que cada palavra tivesse o tom certo para causar o que desejava em uma pessoa. Com um simples sussurro Thomas conseguia fazer homens molharem as calças, e ninguém nunca duvidou que ele fosse capaz de fazer o que dizia. Entretanto, suas palavras nunca me assustaram, desde que me conheceu Thomas sabia que eu não era um homem qualquer; por isso nossa amizade havia prevalecido com os anos.
Me levantei, e ainda nu caminhei até a porta do closet, adentrando o grande cômodo cheio de roupas e armas.
— Me poupe dessa visão horrorosa, Brekker.
Dessa vez era o verdadeiro Thomas que falava. Não que fizesse diferença, para ele estar ali no meio da noite só podia ser uma coisa: trabalho.
— A garota na cama discorda de você. Ela amou cada visão que teve do meu corpo.
