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When you were here before, couldn't look you in the eye...




                                             Harry








Alguma vez você já se sentiu forte? Já se sentiu tão forte a ponto de parar e pensar:

''Eu poderia me jogar de um prédio facilmente, mas eu sei que eu não morrerei. Eu sou forte. Eu consigo.''

Pois, eu já. E eu fiz isso.

Uma perna quebrada e muita dor foram as consequências. Tudo bem que era o primeiro andar e nem ao menos era tão alto, mas realmente e francamente... Aquela fora a última e única vez em que tive esse pequeno... Surto. Lembro dos olhos de minha mãe sobre mim, tão confusos e dolorosos, berrando palavras silenciosas. E, infelizmente, eu as entendia.

''Eu estou te perdendo... A cada dia que passa, você se vai...'' e ''O que está acontecendo com meu menininho? Por quê? Por quê Deus está fazendo isso comigo? Por que Deus está fazendo isso conosco?''

A coisa mais triste, fora que eu a perdi. Eu era uma pequena e problemática criança de nove anos quando o real inferno começou, então, a partir daí, nunca mais eu e minha família fomos os mesmos. Mamãe se foi quando eu tinha dez, porque sofreu uma grave overdose. Ela tomou diversos remédios para dormir porque não conseguia ver seu pobre filhinho naquela maldita depressão. Eu sei que ela não quis morrer. Eu sei... Mas ela morreu. Ela poderia estar viva se não fosse alérgica a eles e ela poderia estar cuidando de mim até hoje. Ela poderia ter me envolvido em seus braços amorosos e cheirosos quando algum colega zombasse de mim, ou, quando eu caísse e ralasse meu joelho por causa de meu vício em skate e rampas totalmente arriscadas e quase suicidas demais para a porcaria de uma criança.

Ela poderia estar viva se não fosse por mim.

- Harry! - Liam me tira de meu estupor, fazendo-me pular e arregalar os olhos, encolhendo-me levemente.

Observo seu rosto com um enorme ponto de interrogação, onde dizia claramente um ''Alo? Você está ai?'' e, para a minha própria infelicidade, sim, eu estava ali.

- Desculpe - murmuro, de forma baixa, voltando a lustrar o balcão sem graça com diversos tipos de besteiras em cima e dentro.

- Cara, o que deu em você hoje? - ele pergunta, amarrando seu avental e reposicionando as bandejas com muffins de chocolate e canela.

Mesmo Liam tendo sobrancelhas gradativamente grossas, olhos desafiadores, lábios sempre franzidos e expressão séria, quem o conhecia mesmo, sabia que isso era só fachada. Na realidade, Liam era doce, como aqueles muffins. Era sorridente, como as batatas com sorrisos que eu costumava comer todo sábado à noite e era luminoso como um raio de sol. Confesso que eu o invejava às vezes e me odiava por isso.

- Acho que estou pensativo demais? - eu digo, levantando um dos ombros e franzindo o cenho.

- Isso se chama falta de sexo - ele diz, apontando um dos dedos para mim, ao que eu reviro os olhos e tranco um sorrisinho.

- Não - resmungo - Sem essa.

- Vai por mim, cara - ele sai de trás do balcão e caminha até a porta, onde vira a plaquinha de ''Open'' e abre as portas, suspirando quando a luz do dia ilumina todo o café e a vitamina D invade seus poros - Amém, luz do dia...

Mesmo achando que ele estava sendo totalmente um hippie natureba, dou-me por vencido e murmuro um ''Amém'' baixo e quase inaudível, ao que ele abre um de seus enormes sorrisos.

Creep | L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora