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But I'm a creep, I'm a weirdo. What the hell am I doing here? I don't belong here...



Harry
















Se eu pudesse escolher algum dia de minha vida onde eu teria a grande e incrível oportunidade de apagá-lo de minha memória, com toda a certeza do mundo, seria aquele.

Quando "Número Desconhecido" brilhou na tela de meu celular, franzi o cenho, pois aquilo não era algo comum. Pessoas com "Número Desconhecido" nunca, em hipótese alguma me ligavam.

Era estranho.

Dou de ombros e atendo, ouvindo, primeiramente, um gélido silêncio, junto de uma respiração acelerada. Demoro alguns segundos para conseguir ao menos murmurar um "Alô?" e, infelizmente,  tudo o que recebo é o famoso nada.

Mordo minha bochecha, antes de dizer:

- Ok, irei desligar...

- Não! - uma voz grossa e nervosa preenche a linha, fazendo-me saltar levemente, levando uma de minhas mãos ao peito, sentindo meu coração acelerado pelo susto. - Tudo bem, tudo bem, eu... Uh... Você é o Harry?

Mordo a língua para não responder algo grosseiro demais, suspirando e piscando algumas vezes.

- Sou. Quem é você?

Então, a linha fica muda durante um curto período de tempo, mas o bastante para me deixar ainda mais impaciente. Logo, quase penso que o mesmo desligara, porém, mais um vez, o som de sua respiração o denuncia.

Eu já estava praticamente em meu limite, quando o homem pigarreia, murmurando:

- Harry, sou eu... O seu pai...








-----x------



O que me faz voltar a terra, não fora ele implorando para eu o responder, mas sim, as lágrimas idiotas e quentes transbordando de meus olhos sem eu querer, descendo por todo o meu rosto e gritando minha dor, descarregando um pouco do baque que fora ouvir a voz daquele maldito homem. Aquilo me atingiu como uma onda, me engolindo e me afogando sem dó, tirando-me o ar e fazendo-me ter a sensação de estar sem chão.

As lembranças voltam, fortes, vívidas e quase palpáveis demais. Mamãe sofrendo, vendo-me chorar todas as noites, ao que eu perguntava o por que de eu ter sido abandonado pelo meu pai. Ela estava arrasada, sem saída... Eu não a culpava. Ela havia sido forte demais. Ele, ele havia sido fraco.

Covarde.

Quis machuca-lo, tortura-lo de alguma maneira, ao mesmo tempo em que imaginava se o mesmo não tivesse partido. Eu sabia que tudo, tudo teria sido diferente.

E, fora com esses pensamentos, que com as mãos trêmulas e visão embaçada, encerro a ligação. Porém, não demora muito para que ele ligue novamente, e eu aperto o celular entre os nós de meus dedos, deixando-os brancos, antes de trancar o maxilar, soltar um lamurioso berro e  arremessar o aparelho com tudo na parede, assistindo-o se espatifar na hora em diversos cacos.

Minhas pernas cedem no segundo seguinte e eu caio ajoelhado, soluçando e com dor.

Não, não... Não era real. Não era...

- Harry? - a voz preocupada de Sarah se faz presente ao longe, e julguei que a mesma estivesse na cozinha.

Então, passos apressados chegam cada vez mais perto e não tardo a fungar e me levantar, correndo até a porta e a fechando com a chave, encostando-me na mesma, arfando dolorosamente.

Creep | L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora