Capítulo 2

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A viagem até Saint-Raymond fora bastante rápida.

Achou ela. Levou um caminho inteiro a ofender mentalmente Luke Corbyn.

Como é que um homem tão bonito conseguia ser tão... Horrível?!
Não no sentido físico, pois...
Deus deu-lhe uma enorme beleza, mas um cérebro de tamanho reduzido.

Durante os cerca de sessenta quilómetros que separam o Québec da pequena cidade de Saint-Raymond de Portneuf, Açucena foi refletindo no assunto "atração pelo sexo oposto". Ela nunca tivera problemas com relacionamentos, mesmo com o seu biótipo. Muito pelo contrário, Açucena sempre teve pretendentes, mas nunca houve a química ideal para que o relacionamento fosse duradouro.
Inclusivamente, nunca apresentara um namorado à família.

Já que pensava no assunto, o problema dos seus relacionamentos serem relâmpago devia-se, principalmente, ao facto de Açucena ser muito independente e "maria-rapaz". Fora outros motivos, tais como conversas desinteressantes ou, até, falta de gostos em comum.

Também apaixonada pelo campo e por motas, não era fácil conseguir cativar esta mulher, ainda mais sendo ensinada pelos irmãos a ter em conta a postura de qualquer homem que se aproximasse dela com intenções duvidosas. Claro, com isso, ela é que acabava por se aproveitar dos homens que se mostravam interessados nela, muitas vezes tendo casos de uma só noite.
E não se podia esquecer que dedicava muito do seu tempo à Baker Cargo S.A..

Respirando fundo, Açucena relembra a intensidade do olhar azul de Luke Corbyn.

Não era justo aquele homem ser tão bonito.

Envolvida em pensamentos, dá por si a chegar à entrada da Baker Cargo, sendo cumprimentada pelo acenar alegre de Piers, o segurança do portão de entrada. Com um sorriso enorme, ela retribui o cumprimento, manobrando o camião no estacionamento, parando-o por completo.

Açucena cresceu dentro da empresa, fazendo parte constante da rotina diária, mesmo na altura em que se empenhava nos estudos. A mãe tinha de ralhar com ela, porque houve um momento em que era raro o tempo que tinha de descanso e Açucena esteve perto de chegar a um esgotamento, quando a empresa passou por algumas dificuldades.

O certo é que ela e o pai conseguiram reerguer o negócio e manter todos os funcionários, que foram imprescindíveis para lhes dar uma ajuda, trabalhando horas extra sem receber um tostão a mais. Por isso, é que os Baker tratavam a sua equipa com familiaridade.
Como diz o ditado, uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto.

Muitos dos membros da equipa de funcionários da Baker Cargo vêm Açucena como uma filha, então, não era de estranhar que se aproximassem uns cinco, dos que estão a terminar o último turno.

A receção calorosa que eles lhe dão, ao descer do camião, leva um pouco do cansaço embora.

- Fiquei com o coração encolhido de preocupação, menina!

- Credo, Joe, não era para tanto. - Açucena responde, abraçando o homem.

- Como é que correu?

- Tirando a porcaria de um pneu rebentado e da molha que apanhei ao trocá-lo, correu bem. - Ela suspira. - E a tua pequena, Tom?

- Já está em casa. Como lhe disse na mensagem, apenas um susto por causa de uma infeção na garganta que, ao fazer febre, causou a convulsão.

- Ainda bem que ela está melhor.

Continuando na conversa, dirigem-se ao pavilhão onde se situa o escritório. Ainda nem tinha acabado de cruzar a porta do corredor lateral, que dá acesso às salas de reunião e outros gabinetes, o pai dá-lhe um abraço de urso.

Tudo na vida pode ser um instanteOnde histórias criam vida. Descubra agora