22 - Escuridão

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São duas da manhã, acordo no sofá de Jason e olho para o telemóvel que teima em manter o silêncio. Faz horas que quando ligo para ele sou atendida pelo gravador do seu telemóvel. Estou a desesperar, vou até a cozinha beber água e quase me engasgo ao ouvir o som da fechadura, olho para ele e o sentimento é o mesmo que temos quando uma grande tempestade se aproxima...

- Não devias estar aqui! - Ele pousa as chaves no móvel da entrada com um ar derrotado, ve-lo assim é como receber uma facada no coração.

- Liguei-te vezes sem conta, preciso explicar o que aconteceu. - Queria abraça-lo mas dá para ver que ele mantém a distância o que é um péssimo sinal.

- Poupa-me, estou cansado e sem vontade de gastar saliva com conversas inúteis .

- Desculpa Jason, aquele beijo foi um plano do Rock.

- Claro que foi mas tu foste ter com ele ao contrário do que te pedi e aquele beijo é verdadeiro, não importa as circunstâncias, vocês são casados e estão ligados... - Ele fala com tanta raiva e pior ainda com tamanha magoa que me faz morrer por dentro, ele já foi traído antes, teve uma vida complicada e não merecia isto, ver aquelas fotos deve ter doído nele muito mais que em mim. - E agora têm um filho, a família feliz!

- NÃO!! como podes dizer iso depois do que ouviste naquela reunião, depois do que te contei...

- Sai da minha casa, fica longe de mim Alysson. - Ele abre a porta da rua e convida-me a sair.

- Jason não faças isso connosco.

- Não fui eu que fiz algo, foste tu então assume as consequências.

Eu não queria distânciar-me mas, conheço-o bem se ficar será pior. Passo por ele de cabeça baixa, ver no seu olhar o quanto o magoei foi a pior coisa que me aconteceu, não queria ser causadora de tanta mágoa. Entro na casa de Marilyn arrasto-me até ao quarto, sento-me e fico por um longo período de tempo a chorar, tanto que o sol nasceu e eu não tinha pregado olho. A porta abre e Lee vem saber como correu a nossa conversa mas pela minha cara percebe de imediato que estou arrasada. Quando ele saiu foi Mary que veio consolar-me com uma bandeja de pequeno almoço e palavras de incentivo. Rock destruiu o meu relacionamento o que seria de esperar já que ele não se importa com ninguém sem ser ele mesmo mas não é por isso que regressarei para ele. Tomo um duche e volto para a cama preciso descansar um pouco. Não sei como aconteceu mas acordo com Lucas sentado ao meu lado desfolhando um livro de carros...

- Boa tarde Aly.

- Que horas são? - Esfrego os olhos ainda com preguiça.

- Três da tarde, estou aqui a uns vinte minutos a espera que acordes.

- Desculpa querido, estava cansada. - Sento-me ao seu lado e beijo o seu rosto.

- Eu ouvi Mary a discutir com Jason, ele veio trazer as tuas coisas. - Então é assim, ele não me vai dar uma chance de me defender?

- É feio ouvir as conversas alheias. - Finjo estar chateada com o seu comportamento para disfarçar a minha dor.

- Fiquei com raiva dele, não entendo se ele te ama porque não te quer ver mais? Vocês podiam fazer as pazes.

- Nem tudo é assim tão fácil, eu errei, magoei-o e ele não me perdoa.

- Foi assim tão grave? - É adorável a forma como olha para mim.

- Eu pedi desculpa e não fiz de propósito mas ele não me quer ouvir.

- É ele quem perde, nunca mais quero estar perto dele.

- Desce e avisa Mary que eu já desço.

Quando ele sai levanto da cama para lavar a cara e sinto uma dor no fundo da barriga, uma colica quase insuportável que desaparece com a mesma rapidez com que apareceu, desço as escadas e vejo Lucas ajudar Mary na cozinha, sinto uma nova cólica mas desta vez mais forte, caio de joelhos no chão...

- Aly estás bem?

- É uma dor insuportável. - Era mil vezes mais forte que uma dor menstrual.

- Lee não está - Ela ajoelha-se ao meu lado - Luca corre até a casa de Jason, temos de ir ao hospital.

Não podia recusar ajuda nem tinha capacidade para o fazer, as dores eram cada vez piores e tão intensas que parecia estar a ser rasgada por dentro, sinto as minhas calças húmidas e quando passo a minha mão...

- Sangue!

- Alysson? - Ele entra pela porta como um louco.

- Jason leva-a ao hospital eu vou tentar falar com Lee e Antônio e vamos lá ter.

Ele pega em mim e tranporta-me até ao banco traseiro da sua carrinha, fico deitada e tento encontrar uma posição que seja menos desagradável...

- Calma são apenas alguns minutos de caminho. - Ele conduz com alguma rapidez mas mesmo assim parece ser uma eternidade.

- Eu não sei se vou aguentar Jason.

- Claro que vais, és uma lutadora!

Ao chegar no hospital fiz uma montanha de exames, não tinha noção do que se passava, depois de ser consultada acabo por ser encaminhada para um quarto com soro injetado na minha mão. Sempre fui saudável, nunca fui submetida a cirurgia ou qualquer tipo de tratamento, admito que tenho receio. Quando um médico entra no quarto com algumas folhas na mão eu sabia que haviam respostas mas nada podia ser pior do que ele acabara de dizer, ouvir a palavra aborto era como se o meu maior receio se tornasse realidade, como se todos os meus sonhos se tornassem pesadelos! Eu nem sabia que estava grávida e mesmo assim sinto a dor de perder não só o bebê que eu tanto desejava mas um filho do homem que amo. Estava devastada Brandon sempre teve o dom de acabar com os meus sonhos mas desta vez ele trouxe até mim a escuridão. Eu recebi outra visita de uma enfermeira que me encheu de medicamentos, alguns deles tinham o efeito analgésico e calmante, tudo o que fazia era dormir e era ótimo porque talvez assim o tempo apagasse da minha memória tudo o que precisava ser esquecido. Não posso dizer por quanto tempo estive sedada mas numa das vezes em que acordei haviam flores no quarto, bastantes mesmo. Sento e passo a mão na cara, estico-me para pegar na pequena garrafa de água e carrego no botão para chamar a enfermeira, ela não tarda a entrar no quarto...

- Boa noite Sra Rock, precisa de alguma coisa? - Idiota!

- O meu nome é Alysson Scott!

- Como se sente? - Ela olha para mim como se eu estivesse prestes a ataca-la, eu estava na verdade.

- Preciso falar com a minha família!

- Há um pequeno grupo na sala de espera.

- Quero falar com Marylin e ninguém mais.

- Ela é da família?

- Minha mãe! - É sério, a enfermeira estava a irritar-me sem fazer nada por.

- Vou ver se ela está lá fora, já volto.

Espero impaciente por ela, penso em sair da cama mas tenho medo que as dores voltem ou que não tenha forças, então só há que respirar fundo e esperar que ela chegue.

Nas Garras Do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora