CAPÍTULO 2 | ENTREVISTA CURTA

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   Após o incidente com Verônica, um silêncio angustiante pairava no ar. Nenhuma das outras candidatas presentes ousou rompê-lo. Já se passavam uns quinze minutos desde que a primeira candidata havia entrado para a entrevista, então decidi quebrar o gelo.

- E então, meninas, tudo bem? Meu nome é Lilith. Vocês também estão aqui para a entrevista da vaga de Artes Visuais?

- Sou a Mary e sim, estou torcendo para conseguir o emprego. Preciso ajudar minha mãe - disse uma menina baixinha com o nariz arrebitado.

- Eu também estou precisando de um emprego. Sou a Anne. Acho que todas nós estamos, não é mesmo? - disse a mais alta.

   Aquela última não me era estranha; até lembrei de tê-la visto no Theo's antes de vir para cá.

- Sim, exatamente - concordei.

   A porta pela qual as candidatas entravam para a entrevista se abriu, e a primeira garota saiu, mas não da mesma forma como tinha entrado. Ela entrou confiante, erguendo a cabeça e decidida, mas agora saía triste, com os olhos vermelhos e a cabeça baixa. Eu, Mary e Anne nos olhamos confusas, e admito que um pouco assustadas. O que teria acontecido lá dentro? O nervosismo começou a me dominar naquele momento, mas consegui controlá-lo. Anne foi a próxima a entrar e, logo em seguida, saiu quase chorando também. O que estava acontecendo naquela sala para todas saírem quase em lágrimas? O medo começou a surgir, mas não permiti que tomasse conta de mim. Tudo aquilo apenas me incentivou a mostrar o quanto sou forte.
   Percebi que Mary estava tremendo. Gosto de ajudar as pessoas, então parecia certo ajudá-la. Como não sou boa com palavras, resolvi escrever um bilhete para ela. Dirigi-me ao balcão da atendente.

- Com licença, senhora - chamei a atenção da mulher, que tinha por volta de uns 55 anos e estava desligando o telefone sem fio que estava próximo à sua orelha.

- Pois não, senhorita - ela me deu um sorriso adorável.

- Você poderia me emprestar um pedaço de papel e aquela caneta ali? - apontei para uma caneta rosa ao lado do computador.

   A mulher me entregou papel e caneta, e eu comecei a escrever:

"Percebo que está nervosa. Tenho certeza de que você vai se sair bem. Mantenha a calma e mostre a Bastien que você está determinada a conseguir este emprego. Se não conseguir, não se preocupe, tudo acontece por uma razão. Sei que pode parecer estranho estarmos competindo por uma vaga juntas e eu escrever essas palavras de apoio, mas aprendi uma coisa muito importante com minha mãe, que já se foi, que Deus a tenha: devemos sempre ajudar quem precisa. Ah, e seja lá qual for o problema de sua mãe, vai ficar tudo bem. Agora, se prepare e arrase!

Com carinho, Lilith."

- Senhorita Lilith Everhart, por favor, dirija-se comigo até a sala de Bastien Speer! - pronunciou uma mulher alta de pele escura, com traços faciais notáveis que lembravam os de uma deusa.

Agradeci à senhora do balcão pelo papel e caneta, entreguei o bilhete a Mary, que sorriu para mim, e encaminhei-me para a sala. Envolvi-me tanto em ajudar Mary que esqueci de cuidar de mim mesma. Quando percebi que estava a caminho da sala do senhor Speer, meu coração acelerou. A ficha ainda não havia caído.

- Consigo perceber que você parece ser a mais forte comparada com as últimas candidatas - comentou a deusa.

- Obrigada!

- Também percebi que você é diferente. Vi o que fez com Verônica e também vi o que fez com a outra moça. Parabéns, você colocou Verônica em seu lugar e encorajou uma rival. Você parece ser única, Lilith. Aproveite essa oportunidade e dê o seu melhor por este emprego - prosseguiu a mulher que me guiava até a sala.

A Sinfonia de BastienOnde histórias criam vida. Descubra agora