CAPÍTULO 3 | PERDEU A VAGA, TROUXA!

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Passaram-se dois dias e ainda não recebi nenhuma ligação. Meu coração estava apertado. Claro que não esperava uma resposta imediata, mas a ansiedade me consumia. Suores frios percorriam minha pele ao pegar o celular e verificar se havia alguma chamada perdida.
Será que fui bem naquela entrevista? Talvez tenha impressionado Bastien Speer. Mas duvido que o tenha surpreendido. Dizem que Bastien é um homem desafiador. Para trabalhar com ele, é necessário ter inteligência, determinação e capacidade para lidar com seu humor oscilante e suas provocações.
Trabalhei dois anos sob uma chefe que me detestava. Por quê? Porque todos preferiam minha companhia à dela. Ela tornava minha vida um inferno todos os dias. Desde então, aprendi a enfrentar desafios com paciência, calma e, se necessário, com tapas.
Costumava escrever cartas para ela, que as guardava em cima do roupeiro, sem saber quem as enviava. Ela jamais as lia. Não guardo rancor, pois acredito que ninguém nasce frio e amargo. Todos têm suas razões. Minha chefe foi traída, o que a transformou na pessoa que é hoje.
O mesmo se aplica a Bastien Speer. Há quatro anos, era alegre e gentil. Tinha uma esposa, a Rosa, que trabalhava com ele na Loft Art. A tragédia os transformou. Um acidente aéreo levou seus pais e Rosa em seu sétimo mês de gestação. Lembro das notícias, Bastien ficou devastado, nunca mais foi o mesmo.
Prometi a mim mesma que, se conseguisse o emprego na L.A., tentaria compreendê-lo melhor. Talvez pudesse mostrar que há mais na vida do que fugir do passado. Não seria fácil, mas valeria a pena tentar.

[...]

   Passaram-se duas semanas e eu já estava ficando bem ansiosa e irritada. Sem nenhuma ligação à vista, comecei a perder as esperanças. Até que...

*Trim trim!*

   Meu celular toca enquanto eu estava sozinha tomando café da manhã. Num gesto rápido, deixo o pão e o queijo de lado para atender.

- Alô? Quem fala? O que deseja?- atendi, cheia de expectativa.

- Oi, Lith! Calma... O que foi isso? Só queria te avisar que hoje eu não irei voltar pra casa.

- Ah, oi, Madeline. Está certo.

- O que está acontecendo, amiga? Por que está tão ansiosa?

- Nada demais. Apenas esperando aquela ligação da Loft Art.

- Ah, fica tranquila, Lith. Eu acredito em você!

- Obrigada. Você ficará com o Gael hoje?

- Sim, sim. Ele manda um abraço.

- Mande outro para ele. Nos falamos mais tarde, então. Beijo!

- Beijo!

   Desligo o telefone e retomo meu café.
   Gael era o namorado de Madeline. Estavam juntos há cinco anos e ainda eram apaixonados como no início. Uma história típica de cinema, algo que só acontece nos filmes, esbarram-se no metrô e blá blá blá.
   Cerca de meia hora depois, meu celular toca novamente. Imagino que seja Madeline mudando de ideia, mas é uma voz desconhecida.

- Alô?

- Olá. Gostaria de falar com a senhorita Lilith Everhart.

- Sou eu. Quem está falando?

- Bom dia, senhorita Everhart! Eu sou Jane, aquela que a acompanhou até a sala do senhor Bastien. Estou ligando da Loft Art. Você tem um momento para conversarmos?

   Ah, lembro-me agora, era a mulher impressionante da Loft Art. Claro que tenho tempo!

- Sim, claro! Pode falar!

- Então, Lilith. Queria informar que sua entrevista foi um sucesso. Você superou as expectativas do senhor Bastien e ele gostou muito de você. Achou você responsável e competente.

- Sério? Ele disse isso? - Estava extasiada. Será que consegui a vaga?

- Na verdade, ele não disse. Nunca admitiria isso. Mas conheço bem o Bastien e sei que ele pensa assim.

- Ah, sim, compreendo.

- Por isso estou ligando para me desculpar...

- Desculpar? Por quê?

- Infelizmente, você não conseguiu a vaga. Lamento muito.

   Nesse momento, meu sorriso desaparece. Meu chão se desfaz. Toda a esperança se esvai.

A Sinfonia de BastienOnde histórias criam vida. Descubra agora