CAPÍTULO 15 | CAMBALEANDO

47 7 6
                                    

~Jane
- Eu prometo! - falei, fazendo um gesto com as mãos.

- Nos últimos sete dias, tenho conhecido Lilith de maneira mais profunda. E cada vez mais me convenço de que ela poderia ser uma cópia exata de Rosa - disse meu irmão.

Ai, Bastien... você precisa esquecer Rosa e seguir em frente.

- Lilith te faz lembrar de Rosa? É por isso que você está triste? - perguntei.

- Eu nunca esqueço de Rosa. Mas, frequentemente, relembro dos meus momentos com ela e de seu jeito peculiar, sua empatia, seu carinho e a delicadeza combinada com uma acidez na medida certa. Tudo isso vem à tona quando estou com Lilith. Ela, muitas vezes, age com calma e delicadeza, é atenciosa e é a primeira pessoa que suporta minhas iras sem reclamar - falou Bastien.

- Você tem razão. Lilith tem muita paciência com você - acrescentei.

- Sinto algo diferente. Sinto vontade de não ser um babaca com ela, de não ser esse monstro que sou com todos e com todas as garotas - ele disse, encolhendo as pernas para perto do corpo.

Se eu não o conhecesse bem, diria que ele está começando a se interessar por Lilith.

- Não fale assim, Bastien. Você não é um monstro. É apenas um homem sofrido. Um homem que apanhou da vida e agora tem medo.

- Exatamente! Sinto vontade de ser gentil com Lilith, de conhecê-la melhor, mas... - ele ia falando quando o interrompi.

- E por que você não tenta, Bastien? Lilith parece ser uma mulher admirável.

- Jane... sei lá, eu... - ele colocou as mãos na cabeça, passando os dedos pelos cabelos... - Eu não sei... eu acho que tenho medo... - ele disse, colocando a cabeça entre as pernas e suspirando profundamente.

A última vez que vi Bastien assim foi no funeral de Rosa. Ele nunca costumava expor seus sentimentos. Por mais triste que estivesse, sempre mantinha a pose de durão e raramente assumia seu lado sentimental.

- Medo de quê, querido? - perguntei, levantando levemente sua cabeça para que me olhasse enquanto conversávamos.

- Tenho medo de me machucar ou até mesmo de machucar a ela. E se ocorrer outra tragédia como a de Rosa e nossos pais? Nunca me perdoaria por colocá-la nessa situação.

- Bastien, não! A morte de nossos pais e de Rosa não foi culpa sua, e você sabe disso!

- Se eu não tivesse mandado que fossem de helicóptero, talvez... $ Ele sacudiu a cabeça, parecendo tentar se livrar dos pensamentos. - Posso parecer ter sido durão esses últimos anos, mas eu não sou tudo isso, Jane. Eu nunca esqueço desse acidente!

- Oh, querido... Eu estive aqui o tempo todo, por que nunca conversou comigo? - falei, colocando o braço ao redor dele, tentando confortá-lo.

- Eu não sei, Jane, eu só não sei...

Percebi que Bastien estava profundamente abatido e as lágrimas batiam a porta. Percebi também que ele estava muito febril e precisava descansar. Algo estava errado, aquele realmente não parecia ser o Bastien que eu conhecia.

- Vou buscar um remédio, precisamos baixar essa febre. Depois, ficarei com você até se sentir melhor, tudo bem?

Ele assentiu com a cabeça e eu saí atrás de Estela.

[...]

~Bastien
Decidi permanecer na cama durante o resto da tarde após a saída de Jane, e à noite, levantei-me. Ainda estava um pouco abatido, mas a febre havia cessado. Sentia-me com o estômago embrulhado, mas precisava me alimentar. Dirigi-me à sala.

- Estela, prepare um filé de carne vermelha para mim e traga um remédio para dor de cabeça.

- Desculpe a intromissão, senhor... mas, outro? Já é o quinto remédio hoje... - disse ela, hesitante.

- Você tem razão... traga apenas a carne.

Sentei-me no sofá e acabei pegando no sono. Acordei com o pulo de Sarah que se sentou ao meu lado.

- Oi - disse emburrada.

- Oi... - falei, colocando a mão na cabeça e me endireitando no sofá. Já tinha notado que ela estava estranha comigo, eu só não sabia o porquê. - O que está havendo, Sarah?

- Você sabe que dia é hoje? - perguntou com os braços cruzados, me olhando.

- Sábad... o baile de boas-vindas. - Ah, não... o baile... - falei, batendo com a mão no sofá.

- Droga, Bastien! Hoje era o dia do baile! Mais uma vez você falhou comigo. Você nem saiu para comprar sua roupa! Ficou o dia todo deitado! - ela gritou, furiosa, levantando-se.

- Ainda podemos ir, Sarah! - falei, levantando-me também.

- Esquece, Bastien - exclamou desapontada. - Você já viu a hora? - eram onze horas da noite. - A esta hora, a festa já deve estar em meio caminho andado.

- Sarah... - eu ia falando, mas ela me interrompeu.

- Por que você não pode ser como todos os outros? Por que você não é um irmão normal? Você só tinha que me acompanhar! Você prometeu! - ela estava triste. - Eu odeio você! - ela subiu bufando para o quarto.

Reconheço que vacilei com ela. Sou um idiota mesmo. Segunda-feira vou ir ver sua professora e resolver uma parte dos problemas.
Após consumir o jantar preparado por Estela, decidi verificar se Lilith já havia chegado. Bati à porta de seu quarto e chamei por ela, mas não obtive resposta. Assim, resolvi abri-la. Notei alguns papéis parcialmente escondidos sobre a estante e, movido pela curiosidade, fui inspecioná-los. Peguei um deles e percebi tratar-se de uma carta endereçada a "Rael", conforme indicava o verso.

"Hoje, eu e você estudamos juntos. Na mesma sala. Não posso conter minha alegria de estar ao seu lado. Sinto como se milhares de borboletas estivessem no meu estômago. A professora disse para fazermos o trabalho de história juntos. Será que você gostou? Como você me vê? Eu vejo você como o herói de um filme e eu sendo a mocinha... você consegue imaginar, Rael?

Com amor, Lilith"

Era deveras curioso. Junto ao nome do homem havia uma data, sugerindo que Lilith estava no colegial quando escreveu aquela carta... interessante. Guardei as cartas que encontrei, pois planejava usá-las mais tarde.
   As palavras de Jane me confortaram. A dor de cabeça havia diminuído, a entindo-me melhor, resolvi jogar algum jogo na sala. De repente, ouvi o som de um carro e fui até a janela observar. Vi Lilith saindo de um veículo estranho, cambaleando levemente.

A Sinfonia de BastienOnde histórias criam vida. Descubra agora