CAPÍTULO 1 | ENCRENQUEIRA DO PEDAÇO

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~Lilith - September, 24

Despertei com antecedência naquela manhã, uma mistura singular de excitação e nervosismo percorrendo cada fibra do meu ser. Sabia que o dia prometia ser especial. Estava prestes a encarar a tão aguardada entrevista para o emprego dos meus sonhos. A euforia superava qualquer vestígio de apreensão, nutrindo em mim a certeza inabalável de que tudo transcorreria conforme o planejado. Era pouco depois das sete horas quando decidi descer para o café da manhã. Madeline já se encontrava ocupada na cozinha, dando os últimos retoques.

- Lilith? Já de pé a essa hora? - indagou-me, concentrada em um omelete que ameaçava passar do ponto.
- Falando assim, parece que tenho o hábito de dormir até tarde... - brinquei, arrancando-lhe um sorriso. - Mas então, o que temos para o desjejum? Omelete ou carvão?

Compartilhamos uma risada.

- Por que não vem cozinhar, então? - provocou-me, fingindo-se de brava.

- Tenho uma queda por carvão, confesso... - ri novamente - Hoje é o dia da minha tão esperada entrevista de emprego - sentei-me à bancada, saboreando um pedaço de torrada.

- Fico feliz por você ter essa oportunidade, Li - ela dirigiu-me um olhar caloroso. Mordisquei uma maçã. - Que Deus te acompanhe nesta entrevista. Mas lembre-se, se não der certo, mantenha a cabeça erguida!

- Obrigada! - respondi, saboreando uma banana antes de tomar um gole de suco e sair da cozinha.

A fome era quase inexistente...

- Já está de saída, menina? - Made me interpelou. - Sua entrevista não é daqui há uma hora, Lilith?

- Vou passar no Theo, depois seguimos!

Despedi-me e saí do nosso apartamento.
Madeline era minha melhor amiga e confidente. Desde a infância, havíamos feito um pacto para compartilhar um lar, um espaço que, embora modesto, acomodava confortavelmente duas pessoas. Made era encantadoramente carismática, ao mesmo tempo ousada e atenciosa, capaz de me provocar com um simples sorriso. Acima de tudo, era a melhor amiga que alguém poderia desejar. Se não fosse por ela, não sei como teria enfrentado a perda dos meus pais. Minha melhor amiga, com seus vinte e três anos, apenas um a mais que eu, mantinha uma aparência juvenil. Cabelos curtos, louros e cacheados, olhos claros, baixinha e bonita. Eu, em contrapartida, possuía longas madeixas castanhas lisas e olhos igualmente castanhos, como âmbar.
Dirigi-me ao estacionamento e segui para o meu café favorito, o Theo's Coffee. Ao adentrar, avistei o dono, um amigo íntimo, ocupado atendendo uma mesa.

- Fala, Theo! - cumprimentei-o em alto tom, ele respondeu com um aceno de cabeça, absorto em suas obrigações.

Acomodei-me em um dos confortáveis sofás, aguardando que meu amigo me atendesse. Pediria, como de costume, o chocolinda. Theo batizara este café em minha homenagem, tornando-se aqui o meu refúgio quando fiz dezoito anos, este foi o presente que ele me ofereceu.

- E o que a moça mais encantadora deste mundo vai saborear hoje, hmm? - perguntou-me meu amigo, envolvendo-me em um longo abraço.

- Mande o de sempre, Theo! E, por gentileza, acrescente um delicioso cinnamon roll ao pedido. Madeline anda um tanto quanto insegura na cozinha... - ri, e ele acompanhou.

- Conforme desejar, minha cara! - respondeu ele sorrindo e dirigindo-se à cozinha.

   Theo era um homem de espírito alegre. No auge dos seus trinta e cinco anos, seu café era considerado o melhor da cidade. Apesar de ser baixinho e calvo, ostentava alguns fios no rosto, que ele insistia em chamar de barba, o que me proporcionava diversas oportunidades para fazer piadas. Após breve intervalo, retornou com o chocolinda e um irresistível rolinho de canela com chocolate, cujo aroma era simplesmente inebriante. O chocolinda, uma variação do mocha, surpreendia pelo tamanho e pela generosa porção de chocolate, realçada por um leve toque de canela e avelã.

A Sinfonia de BastienOnde histórias criam vida. Descubra agora