CAPÍTULO 11 | SEM SAL

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Não sei por que me levantei tão cedo. Ainda nem eram oito horas da manhã e Bastien sequer havia tomado café.

- Ele sempre sai de casa tão tarde assim? - perguntei a Estela, que preparava o café dele.

- Normalmente sim. Você pode levantar mais tarde, se quiser, mas certifique-se de estar sempre de pé antes dele - respondeu ela, com um sorriso.

- Ah, sim... - falei, aproximando-me. - Quer uma ajuda? Sou excelente na cozinha! Faço uns bolinhos de tirar o fôlego, uma das receitas da minha falecida mãezinha. Os famosos bolinhos malucos.

Ela riu junto comigo e logo me olhou.

- Espero um dia experimentar esses famosos bolinhos malucos, mas enquanto o senhor Speer estiver em casa, a cozinha fica por minha conta, senhorita - rimos juntas.

Ela se virou e mostrou-me a bandeja de café da manhã de Bastien. Não era à toa que ele tinha um físico impressionante, excelente saúde e muita força. Enquanto minha bandeja continha apenas guloseimas como panquecas doces e danones, a bandeja do meu chefe continha um panini americano, um copo de suco de laranja, granola com iogurte natural, cereais integrais com frutas misturadas e uma bebida com leite de amêndoas. Tudo parecia muito saudável, embora não particularmente apetitoso para mim.

- Anote o que vai nesta bandeja, senhorita Lilith. Pode ser que você precise saber um dia. Não pode faltar nada nem ter nada a mais que isso, ele sempre come esta mesma quantidade - disse Estela.

Não entendi exatamente o que ela quis dizer com "pode ser que você precise saber um dia", mas apenas assenti.

- Sim, senhora... - peguei um caderninho que carregava no bolso e comecei a anotar.

Enquanto Estela levava o café ao quarto de Bastien, fui para a sala, esperando que ele terminasse de comer e descesse. Esperei mais uns trinta minutos até que Estela voltou, dizendo que ele já estava para descer. Ela retornou à cozinha e Samuel apareceu diante de mim.

- Bom dia, senhorita Lilith. Como passou sua primeira noite neste casarão? - perguntou ele.

Adoro o sotaque gaúcho, e ouvi-lo falar é música para meus ouvidos.

- Bom dia, Samuel. Foi tudo muito tranquilo e confortável. Obrigada por perguntar.

- Ah, então está bom. Sabe... eu não pude deixar de ouvir você e a Estelinha conversando mais cedo... eu também vou querer experimentar um desses teus bolinhos malucos, hein! - disse ele, envergonhado.

- Mas é claro! - falei, rindo. - Pode deixar que vou fazer bolinhos em grande quantidade e chamar todo mundo para experimentar - concluí, ainda rindo.

Não percebemos a chegada de alguém enquanto ainda ríamos.

- Qual o motivo de tanta graça, senhores? - falou Bastien com um leve, mas marcante, tom de sarcasmo, entrando na sala e fazendo com que Samuel e eu ficássemos sérios imediatamente.

- Nós apenas... - começou Samuel, sendo logo interrompido.

- Você não tem que ir cuidar dos meus carros, Samu? - disse meu chefe, com um sorriso.

- Você não tem que ir cuidar dos meus carros, Samu? - disse meu chefe, com um sorriso

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   Já percebi que esse homem adora interromper os outros, que falta de consideração.

- Sim, eu tenho - respondeu Samuel.

- Então não vejo motivos para você estar aqui na sala de risadinhas com a minha assistente - gargalhou Bastien.

   Adoro pessoas que acordam de bom humor.

- Com licença... - disse Samuel, retirando-se para a garagem.

   Eu sabia que não tinha o direito de falar nada... mas aquilo fez meu sangue ferver. Por que tanta ignorância? Ouvir as pessoas comentarem sobre como ele trata os outros sempre foi normal para mim. Mas vivenciar isso é totalmente diferente, e eu não consigo aceitar.

- Bastien, a culpa foi minha. Fui eu quem chamou a atenção dele, não o culpe - tentei explicar... em vão.

- Não me lembro de ter pedido a sua opinião, querida - disse ele, me olhando com aquela infame delicadeza.

- Não me lembro de ter pedido a sua opinião, querida - disse ele, me olhando com aquela infame delicadeza

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   Então vá se danar! Brincadeira, eu não disse isso, mas bem que gostaria.
   Com os outros, eu não aceito. Comigo, relevo. Prefiro manter a compostura, afinal, ele é meu chefe. Já percebo que teremos sérios problemas.

- Você está pronta? - perguntou ele, atraindo meu olhar novamente.

   Eu não sabia do que ele estava falando, mas seja lá o que fosse...

- Estou - respondi sem muito ânimo.

- Então vamos ver como você se sairá no seu primeiro dia de trabalho. Stefan! - ele chamou. - O meu casaco.

   Stefan se aproximou e ajudou Bastien a vestir o casaco. Isso mesmo! Ele vestiu o casaco em Bastien.

- Vamos! - disse ele, dirigindo-se à garagem. Eu o segui.

   Fomos ambos no banco de trás do carro, e eu apenas sentia o adocicado aroma do perfume dele, uma mistura de arrogância e sarcasmo com uma pitada de mau humor. Na tentativa de quebrar o gelo, arrisquei-me.

- Senhor Speer?

- Sim? - respondeu ele, sem me olhar.

   Fiquei surpresa, pois já esperava um "O que você quer?"

- Você me mostrará o que fazer? - perguntei.

- Hoje e amanhã sim, serão dois dias de treinamento. A partir de quarta-feira, você lidará com tudo sozinha - falou ele, ainda sem contato visual.

- Certo.

   Eu estava ansiosa para chegar à empresa e começar o meu primeiro dia de trabalho. Depois de uns 25 minutos, chegamos. Eram nove horas, o que me surpreendeu. Será que ele chegava todos os dias a esse horário? Uma jovem, que parecia ser uma estagiária, veio correndo até ele quando adentramos o escritório.

- O que acha, senhor? - disse ela, toda animada, mostrando a Bastien uma folha que continha um vestido que havia desenhado.

   Todos no local observavam chocados a atitude da moça. Bastien olhou para a moça, pegou a folha e analisou, antes de finalmente falar.

— Acho sem graça, sem estilo, sem cor, insosso... - Ele suspirou. - O decote está muito largo, eu optaria por um decote em "V" ao invés de "U". Está sem barra na bainha, as mangas estão muito curtas, é um desastre total. Resumindo... sem potencial, assim como você. Está demitida! Não só pelo vestido horrível, mas também por me importunar enquanto eu mal coloquei os pés na empresa.

   Com os olhos arregalados, todos voltaram aos seus afazeres, enquanto a mulher, perplexa, deixou o local. Bastien suspirou e continuou seu caminho até a sala como se nada tivesse acontecido, e eu o segui.

A Sinfonia de BastienOnde histórias criam vida. Descubra agora