CAPÍTULO 19 | MEU GATINHO

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~Martín
- Patrick! - exclamei com veemência. - Patrick, venha cá imediatamente!

  Era difícil acreditar, mas já estávamos em novembro. Este mês, para mim, sempre foi neutro. O Natal se aproximava, e éramos sempre unidos, era sempre perfeito. Contudo, este ano, não seria assim.

- O que houve, Martín? - indagou ele, correndo em minha direção, visivelmente alarmado.

- Que história é essa de você e papai convidarem o idiota do Bastien e a besta da irmãzinha dele para a festa de Natal? - perguntei, caminhando impacientemente pela sala.

- Vamos lá, Martín... - disse ele, revirando os olhos. - Não está na hora de você e ele deixarem essa briga pueril de lado?

- Ele é quem me provoca, Patrick! - rebati.

- Não importa, se você não der atenção, ele acabará desistindo.

- Aviso-lhe uma coisa... se ele vier com piadinhas sem graça, não me responsabilizo por minhas ações - disse, erguendo o dedo em sua direção.

- Está tudo bem, senhores? - perguntou Victoria ao adentrar a sala.

   Victoria era a empregada.

- Está sim, Victoria... - respondeu Patrick sem tirar seus olhos de mim. - Martín apenas se exaltou um pouco - eu suspirei profundamente.

   Patrick saiu em direção à garagem. Victoria se aproximou de mim ao perceber a ausência dele.

- Não se preocupe com isso, meu bem... - disse, acariciando meus cabelos.

- Eu estou bem... - respondi, olhando para ela.

   Ela selou nossos lábios e depois dirigiu-se à cozinha.

[...]

~Lilith
- Olá! Como estão as coisas aí na casa do seu magnífico chefe? - indagou Madeline pelo telefone.

   Eu estava em meu horário de almoço, então pude atender.

- Ele é meu chefe, mas não é magnífico. As coisas vão de mal a pior... juro que te esganarei da próxima vez que me ofereceres algum tipo de bebida alcoólica. E olá para você também - respondi sem entusiasmo.

- Nossa, Lilith... o que de tão ruim aconteceu para você estar assim? - perguntou ela.

- Ah... eu vou te contar. Cheguei bêbada em casa e Bastien teve que cuidar de mim no sábado passado. Só isso... - falei ironicamente enquanto Madeline se matava de rir do outro lado da linha. - Não ria. Até agora não consigo olhar para a cara dele direito.

- Isso deve ter sido hilário, amiga! - ela ainda ria.

- Ligue-me quando terminar de rir, está bem? - falei.

- Não! Calma, Lilith - ela tentava se recompor. - Desculpe, mas imaginar isso foi realmente muito engraçado... mas conte-me! Como assim ele teve que cuidar de você? - perguntou.

   Expliquei-lhe tudo o que ocorrera naquela noite desastrosa e ela não conseguia conter o riso, até que eu também comecei a rir. Em um momento de pausa, mudei de assunto.

- Você tem notícias do Rael? - perguntei.

- Ouvi dizer que ele está querendo sair de novo neste sábado. Ir ao lago Viso, talvez.

- Se aquela mulher estiver lá, eu não irei. Era para eu, Rael, Gael e você estarmos saindo em casal, não essa tal de Jen. Argh! - falei, bufando.

- Sinto muito, amiga. Se quiser, eu e Gael ficamos em casa e não saímos mais com eles.

   Embora isso talvez me fizesse sentir um pouco melhor, achei que não deveria me meter e estragar os planos de Madeline.

- Não, Made! Pode ir, eu realmente não me importo - me importo sim. - Preciso desligar, está bem? Nós nos falamos mais tarde.

   Despedi-me dela e desliguei o telefone. Estava tão chateada. Tão magoada. Olhei para as pessoas sentadas nas mesas do restaurante ao meu redor e comecei a analisar cada uma delas. Havia uma mulher muito bonita, de olhos castanhos, baixa e sorridente à minha esquerda. Ela me lembrava minha mãe. Que saudade da minha mãezinha. À minha direita, havia um homem que me lembrava meu pai, pois era grosseiro e atraente. E à minha frente... pois é, o homem que estava à minha frente lembrava-me o Rael. Aliás, o que será que meu gatinho viu naquela tal Jen que eu não tenho? Ela seria mais divertida? Mais atraente? Ou talvez mais inteligente? Eu não sabia responder... não sabia. Eu o amava desde a adolescência... Rael sempre foi quem eu mais cuidava, quem eu mais me importava e, se necessário, abandonaria meu conforto para proporcionar conforto a ele. E ele sempre viu isso como uma amizade. Sou uma idiota mesmo. Agora ainda tem as cartas desaparecidas...
   Debrucei-me sobre a mesa e comecei a chorar sem me importar que eu estava em um local público.

[...]

~Bastien
   Era hora do almoço e, como de costume, fui ao meu restaurante favorito, onde já havia almoçado com Lilith e Jane. Entrei e sentei-me à mesa quatro. Pedi o de sempre e aguardei.
   Um dos meus passatempos preferidos nas horas vagas era desenhar. Gostava de analisar o visual das pessoas, seja casual ou mais elaborado, e desenhá-las, modificando um detalhe aqui e ali para obter inspiração. Quando, então, meus olhos se fixaram em uma moça muito familiar. Ela estava sentada de costas para mim e resolvi desenhar algo semelhante a ela. Ela tinha ombros pequenos, cabelo comprido, e usava uma saia jeans e uma blusa listrada com sandálias pretas. Modifiquei-a, colocando-a em movimento, com uma mochila e tênis de cano alto, com meias altas e coloridas. Adicionei também um relógio e uma pulseira. Ao terminar o desenho, vi Lilith no papel. Era Lilith. Eu havia desenhado Lilith. Quando olhei para a mesa onde estava a moça familiar que me inspirou, ela estava debruçada sobre a mesa. Resolvi me aproximar para verificar com meus próprios olhos se era mesmo ela ou se eu apenas estava enxergando Lilith em todo lugar. Fui cautelosamente até a mesa dela e parei a cerca de seis metros de distância. Eu não conseguia me lembrar que roupa Lilith estava usando pela manhã; senão, seria mais fácil saber se era ela ou não. Deixa de ser covarde e chame a moça, Bastien!

- Lilith? - chamei.

   Ela levantou a cabeça da mesa e se virou para mim.

- Posso ajudar, senhor? - perguntou a estranha.

   Não era Lilith. Pelo menos, não a que eu conhecia.

- Ah, me desculpe... confundi você com outra pessoa - saí apressado de volta para minha mesa.

   Que vergonha eu havia passado. Mas que susto levei. Ri de mim mesmo. Tranquilizei-me ao saber que não era Lilith e que eu só estava ficando louco enxergando-a em todo lugar. Ufa...

A Sinfonia de BastienOnde histórias criam vida. Descubra agora