Lá estava eu, chorando igual uma criança que acabou de perder seu brinquedo preferido. Era meu primeiro ano na escola. Eu tinha me mudado da minha antiga cidade por conta de "problemas familiares". Não era bem um problema... Mas é um pouco complicado de explicar.
- Pare de chorar, Sam, você está ficando patética. – depois de inúmeros minutos chorando, eu lavei meu rosto e saí daquele banheiro. - Preciso ser forte, eu sempre fui.
Entro na sala de aula B, pego minha mochila e minha pasta, bato na porta da sala dos professores e a diretora abre após alguns minutos.
Peço para sair mais cedo naquele dia, pedido esse que ela pondera bem antes de permitir com um bilhete para minha mãe. Eu agradeço com um leve aceno de cabeça e um sorriso.
Depois daquilo, lá estava eu no pátio caminhando apressadamente pra ir pra casa. Caminho de cabeça baixa escutando música com fones e pensando em coisas aleatórias, em meu pai também quando esbarro de novo em alguém. Foi um esbarro e tanto.
- Desculpe! – digo fechando os olhos. Era a segunda pessoa com quem me esbarro, isso não iria parar?
- Não tem problema. Não deveria andar de cabeça baixa. - parecia ser um garoto pela voz grossa.
- Eu ando meio avoada recentemente. Mais uma vez, me desculpe! - digo e saio dali sem ver o rosto do rapaz.
- Olá querida, chegou cedo porquê? – ela estava se preparando para ir para o trabalho quando abro a porta de casa.
- Problemas no "paraíso". - passo por ela lhe entregando o bilhete da diretora - O meu estado entrega tudo. - e aponto para minha roupa suja de molho. Eu subo as escadas para chegar ao meu quarto. Precisava de um banho frio.
Por que parece que todos naquela escola não gostam de mim? Sou o alvo principal da irmãzinha do representante de turma o que faz eu ser o animal de circo da escola. É injusto. Meus únicos amigos se mudaram há anos... Sem eles eu fico solitária e o pior é não termos um meio de contato sequer.
Me joguei na cama e fiquei refletindo. E se eu tentasse me aproximar das pessoas que não se metem tanto nas minhas humilhações? Têm as garotas da minha aula de história, elas parecem legais... Que tal Rosalya? Ela é legal, uma das únicas que não faz brincadeira comigo. Pode dar certo eu me aproximar dela.
Mas pode ser difícil, eu sou introvertida demais e ela é... Tchum!
Acho que não custa tentar. Como diz minha irmã, o "não" eu já tenho.
Eu nunca tive muitos amigos por ser introvertida e não muito sociável em trabalhos em grupo, entretanto o ponto é que eu nunca me importei tanto com a solidão. No lugar que eu morava era muito fácil se acostumar a ficar sozinha por conta dos inúmeros lugares pra ir ou das coisas para passar o dia. O sentido muda completamente quando você se muda para um lugar completamente diferente da sua realidade.
Eu poderia achar coisas para fazer na nova cidade, achar lugares para frequentar, porém duraria quanto até ficar monótono? Conhecer pessoas novas pode me ajudar a abrir novos caminhos.
Deixo essa ideia para lá e passo a continuar alguns trabalhos que seriam entregues na próxima semana.
Quando vi eram 18h48min e alguém bateu na porta. - Sim?
- Já está na hora do jantar. – Catarina, minha irmã mais velha abre uma pequena fresta da porta. O suficiente para passar sua cabeça.
- Tô sem fome. - me levanto e pego meu pijama no cabideiro atrás da porta.
- Assim vai ficar mais magra do que já é! – ela ri fracamente.
- Eu preciso falar uma coisa pra você. – atraio a atenção dela.
- Fale. - ela entra no quarto e afaga minha cabeça.
- Eu tô cansada de ir para a escola - digo suspirando - Digo, não por conta da escola em si. Ninguém gosta verdadeiramente daquele lugar. - solto uma risada fraca - Mas das pessoas em si.
- Como assim?
- Você sabe, eu nunca fui de me enturmar. Sempre fui a excluída de todas as festinhas e eu nem ligava pra isso, eu gostava de ficar sozinha depois que os dois foram embora. - suspiro. - Só que às vezes isso cansa. Nos mudamos e eu apareci nessa nova escola. Talvez lá eu não consiga me encaixar, as pessoas não abrem uma brecha pra isso.
- Está sendo bem complicado, não é?
- E como. Chega uma hora que você não consegue mais fingir que não está nem aí. Isso realmente machuca...
- Se as pessoas não abrem uma brecha. Faça uma. Você é uma garota incrível, Sam, as pessoas só precisam te conhecer melhor pra poderem ver isso.
- É, mas-
- Sem essa de "mas"! Você precisa se impor contra as pessoas que te machucam. Você é uma garota corajosa, vai saber o que dizer para os bullies.
- Talvez.
- Não desista, ok? Faz apenas dois meses que chegamos aqui, você vai conseguir achar seu lugar. Agora vamos jantar! – diz ela puxando minha mão.
Despertador apita. Novo dia começa. Pareço mais disposta hoje, mas estou com medo. Ansiosa.
Veja bem, eu disse para mim mesma que era uma ideia meio louca tentar me enturmar justo com uma pessoa extrovertida, talvez, só talvez, eu tenha pulado muitas etapas e fui pro nível mais alto do meu livro mental "como arrumar amigos aos poucos".Mas é tentando que se aprende! E o que é a vida sem algumas escolhas arriscadas?
Fui pra sala de aula e esperei o sinal tocar enquanto desenhava algumas coisas. Eram rabiscos, na verdade. Eu não sabia desenhar tão bem quanto criar poemas, mas pelo menos eu tentava! A prática leva à perfeição, como dizem.
O sinal toca indicando que a minha aula favorita tinha começado.
- Turma, todos sentados. - P. Faraize põe seu material em sua mesa e olha para o restante da turma. - Hoje vamos estudar sobre a Revolução Francesa.
Eu tentava prestar atenção no que ele falava, porém minha mente ficava desviando da aula para pensar em como começar uma conversa com a Rosalya. Ela era super extrovertida, totalmente alegre e e bem estilosa. Ela tinha algumas amigas e não parecia mesquinha, mas vivíamos em mundos diferentes e isso era uma das coisas que me faziam questionar a minha escolha.
Quando a aula acabou, juntei meu material e fui falar com ela, mas a menina anda rápido, pelos Deuses! E, na minha tentativa de alcançá-la, eu trombei com alguém novamente.
- Desculpe, desculpe mesmo. - digo. - Eu sou tão estabanada, eu sempre estou esbarrando com alguém.
- Precisamos parar de nos trombar assim.- ele ri. Oh, eu reconheço aquela voz.
- Oh, você é o garoto de ontem! Mil desculpas! - eu encolho os lábios, formando uma linha reta, nervosa - Eu tenho que ir, desculpe mais uma vez!
- Sem problemas.
Foco, força e fé. Eu precisava encontrar a bendita, seria uma boa maneira de começar um pequeno desvio na minha vida.
Arranjar novos amigos, aí vou eu.
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My Heart is a Ghost Town
Ficção AdolescenteApós mudar-se de cidade e entrar em uma nova escola, Samantha Musicien Blane se viu reclusa em seu próprio mundo apenas com sua paixão para Música e História. Reescrever uma nova vida podia ser assustador para ela, mas largar mão de tudo que tinha n...