parte II

123 7 2
                                    





Assim que sai da casa de Chase e os amigos dele fui pedir um uber para voltar até o hotel, todos insistiram para que eu ficasse mas não queria incomodar pois já tinha muitas pessoas de visita na casa então resolvi ficar pelas redondezas.
Tive que subir até uma rua um pouco isolada pois o uber não vinha diretamente até a casa.
Enquanto andava apenas pensava em como tudo ia ser diferente agora, talvez tivesse que me mudar para Los Angeles, seria melhor já que tenho mais amigos aqui e a oportunidade de ser modelo em grandes companhias é enorme. Acabei saindo dos devaneios quando senti algo pesando sobre minha cabeça, meu corpo perdeu o sentido e o vi sendo puxado sem pudor algum.
Era um homem. Via suas costas grandes e largas e a única coisa em que conseguia pensar era "o que essa pessoa queria comigo?" nesse instante apaguei.
Acordei em um tipo de porão, úmido e sem revestimento. As madeiras eram avermelhadas e me lembravam por algum motivo os dias frios que passei em Minnesota. Tentei me mexer e percebi que estava preso a um aço gelado que apertava meu pulso. Eram correntes diferentes das quais já vi em toda minha vida. Aquilo só me fazia ficar com mais medo do que estava por vir.
Minha cabeça ainda ardia muito e acabei perdendo a consciência novamente.
Meus olhos foram se abrindo e consegui ver alguém na minha frente. Era uma menina. Estava sentada e com uma bandeja. Me assustei e acabei me esquivando por conta do susto. Quando vi seu rosto finalmente não senti medo algum, ainda não sei ao certo a razão mas ela não me parece com a intenção de me matar também.
    ⁃    Oi, desculpa, não sinta medo, eu não vou te machucar - suas palavras saiam de forma calma
    ⁃    Acredito em você.
    ⁃    que bom. Enfim eu achei que estivesse com fome e trouxe algo pra você. Como não sabia do que gostava acabei fazendo um sanduíche de frango. Você gosta?
    ⁃    Gosto sim - naquele ponto qualquer coisa aparentava ser muito boa
    ⁃    Maravilha, ah e também um pouco de suco e água.
    ⁃    Obrigado.
    ⁃    Desculpa ficar te olhando enquanto dorme, é que faz tempo que não falo com alguém diferente.
Essa frase ficou ecoando em minha cabeça. A quanto tempo ela está aqui? Será que passou pelo mesmo que eu? Precisava me aproximar dela, quem sabe eu consigo uma chance para fugir daqui, não tinha nada a perder se pelo menos conseguisse uma amizade
    ⁃    Não tem problema. A quanto tempo você está aqui?
Ouço um barulho vindo de cima. Vejo o corpo da menina se estremecer por inteiro. Ela levanta rapidamente e sai correndo.
    ⁃    Desculpe, preciso ir.
Não digo nada e apenas vejo ela subir correndo e abrir a pequena porta de madeira que me separa de tudo aquilo. Ouço a voz grossa e repugnante daquele homem, cada palavra me dava arrepios. Como essa menina consegue?
Meu corpo gela quando ouço um forte tapa na cara de alguém.
    ⁃    EU JÁ NÃO DISSE PRA NÃO DEIXAR BAGUNÇA NESSA PIA?
    ⁃    Desculpe senhor eu fui levar a comida do menino.
    ⁃    SUA OBRIGAÇÃO É LIMPAR NÃO FICAR DE CONVERSINHA. QUER PERDER SEU QUARTO E SUAS MORDOMIAS?
    ⁃    Não senhor.
Ouço outro tapa seguido de fortes palavrões.
Tudo fica quieto por um tempo, a briga que eles tiveram foi feia. Fiquei me perguntando por qual motivo essa menina estava aqui e como aguentava tudo isso calada. Vários pensamentos foram passando pela minha cabeça até que ouço passos fortes vindo da pequena porta. Ela se abriu mostrando a imagem asquerosa daquele homem. A cada momento sentia mais nojo e medo ao olhar em seu rosto.
    ⁃    O que você quer comigo? - tive que perguntar, não sei por quanto tempo aguentaria tudo isso.
    ⁃    Eu não vou te matar - Ele dizia enquanto perambulava pelo lugar
    ⁃    Isso não responde a minha pergunta
    ⁃    Nós não vamos nos falar muito. A menina será encarregada da maior parte do processo
    ⁃    Processo de que?
    ⁃    Ela provavelmente fará parte dele também. Mas ainda não tenho certeza
    ⁃    do que você esta falando?
Ele continua andando pelo vasto lugar mexendo em muitas ferramentas e utensílios que nunca havia visto. Não me respondia o que me deixava ainda mais furioso.
    ⁃    Por favor, me responde. Você quer dinheiro? eu posso arranjar. Não tenho muito mas..
Ele solta uma gargalhada me interrompendo. Não entendia aquele sujeito e nem o que queria comigo.
Precisava de algum assunto para me aproximar e descobrir alguma coisa. Qualquer coisa
    ⁃    Por que ela também não está presa? Ela parece ter medo de você então presumo que não sejam próximos.
Novamente ri das minhas palavras. Devo ser uma piada para ele.
    ⁃    Ela passou por muita coisa para ter as mordomias que tem.
Mordomias? Me pergunto ironicamente se ser obrigada a limpar a casa de alguém de tamanha ignorância como ele e constantemente ter medo do que fazer ou não seria uma mordomia.
    ⁃    O que eu preciso fazer para ter algum tipo de "mordomia"?
    ⁃    Ainda está longe.
    ⁃    O que está longe?
Não entendia nada do que esse homem falava. Tudo era um enigma. Precisaria decifrar tudo de agora em diante? Sinto uma veia na testa saltar e começo a me preocupar com os próximos dias que estão por vir. Não fazia ideia do que podia acontecer. Ele me afirmou que não iria me matar, agora me resta confiar nele ou não.
Desisto de tentar conversar e apenas fico o observando mexer nas coisas que me pareciam inúteis. Acabo pegando no sono pouco tempo depois.

Rua Jardim de MonetOnde histórias criam vida. Descubra agora