Estou acalmando Alice desde que sua mãe chegou aqui, tiveram uma discussão feia e eu nem sei como começar a tentar entender o que está acontecendo. Estou mais perdido que ela mas não posso ser fraco agora, ela precisa de mim.
Seu corpo está deitado sobre meu peito e estou acariciando seu rosto, é como se eu estivesse em câmera lenta vendo cada gesto dela. Quando suas bochechas se curvam em um sorriso eu perco a postura, é como se nada no mundo existisse e só estivéssemos eu e ela. Graciosamente levanta seu rosto e me olha com culpa.
- Não queria que você conhece minha mãe desse jeito. - diz em um sorriso fraco e em seguida olha para baixo
- Tá tudo bem Alice, toda essa confusão não é sua culpa.
- E se for? Se eu tivesse insistido em continuar morando com a minha avó nada disso estaria acontecendo.
- Talvez não com você mas ele poderia ter pego qualquer outra pessoa e eu provavelmente estaria aqui do mesmo jeito.
- Tem razão, Desculpa, eu to enlouquecendo nesse lugar.
Ela tem razão, cada dia que se passa tenho ficado mais paranóico, é como se tudo fosse uma matéria de um documentário bizarro e Alice eu somos os protagonistas subordinados a vida de prisioneiro.
Não sei mais quanto tempo vou aguentar aqui, os dias são relativamente calmos mas ao mesmo tempo cansativos, posso dormir mas nunca me sinto disposto.
- Olha, vou fazer uma brincadeira que quando eu era criança meu pai fazia comigo quando eu tinha crises de ansiedade e acho que talvez possa nos ajudar, pode ser?
- sim.
- Vamos imaginar que não estamos aqui, que estamos em um lugar muito calmo e relaxante. Um lugar com muito sol e água fresca, estamos relaxando sentados na grama apenas curtindo o tempo livre, o som do canto dos passarinhos é o que nós deixa mais felizes, o cheiro da chuva é inconfundível, a sensação de estar livre completa nossos corpos.
- Seria divertido estar nesse lugar de verdade. - ela diz ao dar uma risada leve
- Claro que seria, só nós dois aproveitando cada momento.
Logo ao dizer isso ficamos quietos enquanto ela olhava em meus olhos, ela já sabia que eu estava perdidamente apaixonado por ela. Claro que sabia. Minha cara de bobo me entrega. Nossos olhares são intensos e ela então deu um passo pra se aproximar ainda mais de mim. Rapidamente sinto sua respiração calma sobre minha pele.
Sempre imaginei me apaixonar por alguém estando em um lugar especial e mágico, e mesmo esse lugar horroroso não sendo nada como eu gostaria, posso afirmar que nunca senti algo tão especial quanto sinto por Alice. Me sinto forte e importante ao lado dela, posso ser quem eu sou e falar o que penso sem me preocupar pois sei que ela vai me entender.
Sua mão passa pelos meus cabelos, cada movimento parece uma massagem em meu couro cabeludo, faço a mesma coisa e sinto o quão macio seu cabelo é. Minhas mãos deslizam por seu rosto a trazendo mais perto até finalmente colar nossos lábios. Parece que fogos estão no céu comemorando nosso beijo, é uma explosão de sentimentos. O beijo se aprofunda cada vez mais até nos separarmos por falta de ar. Sem ao menos pensar em fazer algo ela me puxa novamente, seguro sua cintura encostando nossos corpos. Estamos quentes, famintos um pelo outro.
Somos interrompidos ao ouvir a porta se abrindo bruscamente, quebrando todo o clima.
Ela me empurra longe, barrando qualquer sentimento que pudesse em algum momento ter existido ali, bato com as costas no vidro atrás de mim. Ela se encostou e ficamos de frente um para o outro apenas processando tudo o que tinha acontecido.
Fred andava desengonçado para um lado e para o outro, a mão pesava no ombro e suas feições eram indecifráveis como todos os outros dias. Ele chega perto e se esquiva algumas vezes, talvez ensaiando sua fala.
- Ela me avisou em cima da hora que viria.
- Eu não sei nem o que dizer - Alice diz enquanto encara um ponto fixo no ar completamente perdida em seus pensamentos.
- Eu sei que ela disse que sente sua falta, mas eu não quero que crie esperanças. Você não vai sair daqui.
Olhamos um para o outro, no fundo já sabíamos que isso era verdade, apenas não queríamos que fosse real. Me sinto corpulento, maciço, como se nada tivesse um rumo, o resto da minha vida seria aquilo e ponto final.
Ele ainda insistiu e ficou dizendo mais algumas coisas mas eram em vão, falava para as paredes. Tanto eu como Alice estávamos viajando na ideia de que não sairíamos daqui. Nossos olhos grudados um no outro tentando entender como isso era possível.
Quando me dou conta ele já estava subindo, acho que percebeu que não estávamos ouvindo e desistiu. O barulho rotineiro das chaves trancando a porta foi o que predominou o momento, continuei parado no mesmo lugar, sem mover um único músculo, assim como Alice.
Sinto meu corpo começar a formigar, toda essa raiva e decepção que invadem meu corpo estão em briga para ver quem é mais forte. Me deito no colchão e minha começa a rodar, era como se eu estivesse em um carro e o mesmo havia dado perda total, girando e girando em uma pista até finalmente colidir com algo. Felizmente a adrenalina me faz pensar em coisas impossíveis e no mesmo instante eu me decido.
Levantei rápido e me coloquei em frente a minha colega, um suspiro longo e encorajador foi meu ponto de partida
- Alice, nós vamos fugir daqui.
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Rua Jardim de Monet
Gizem / GerilimNa rua Jardim de Monet tudo parecia ser calmo, era como se tudo acontecesse em perfeita sintonia. Apesar da calmaria, no fim da rua em uma casa simples, um psiquiatra, que não aparentava ter boas intenções era motivo de desconfiança entre os vizinh...