O dia foi relativamente divertido. O aço gelado da corrente ainda me machucava muito mas não me importei enquanto ela estava aqui. Conversar com ela era excitante. Me fazia rir até doer a barriga, nossos diálogos foram basicamente falando mal daquele ser humano sem escrúpulos que nos fez de refém.
Pelo menos se tivesse que ficar aqui sei que não seria tão ruim pois ela me fez bem hoje. O frio foi chegando ao meu corpo rápido, estava tremendo e me inclinei como que em um casulo, ainda estava dormindo no chão duro e sem nenhum tipo de conforto. Precisava resolver isso se não morreria aqui. Amanhã conversaria com ela. Espero que me ajude. Com esse sujeito estranho eu não posso contar com nada, apenas com a sua esquisitisse.
Me aconcheguei no chão como uma pinha qualquer que acabara de cair da árvore, deitei sobre meus braços e coloquei a boca por dentro do casaco assim com a respiração quem sabe me manteria aquecido até cair no sono. O desconforto começou a me irritar, tento me imaginar longe desse lugar, longe dessa energia negativa e do desespero que sinto quando ouço passos fortes vindo em direção ao porão.
Nunca dei valor a minha cama quente e ao café que meu pai fazia todas as manhã para mim. Era divertido conversar com ele antes de ir para a aula, o dia não começava bem se não tivéssemos nosso pequeno momento em família. Ele, eu e minha pequena irmã. Que saudade da Emma, aquela menina não sossegava um segundo mas amava cada momento em que estávamos juntos rindo e nos divertindo. A ideia de que talvez nunca visse ela novamente correndo pela escadaria me assustava. Preciso sair daqui por ela, pela minha família. Preciso sair daqui e levar a menina junto comigo, não posso deixar ela nesse lugar horroroso, ela não merece. Apesar de que não sei a razão dela estar aqui, na verdade não sei nada. O sono vai chegando e deixo-me entregar.
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Assim que sinto meus olhos se abrindo vejo uma luz forte em meu rosto, olho para os lados e me vejo em um lugar diferente, não estou mais no chão de madeira e não há mais correntes. Me viro rapidamente e olho a menina no canto, assustada assim como eu.
Estávamos em um cubo grande, com um material parecido com vidro, era rígido e transparente. Podia ver as vigas de madeira do porão e os mesmo materiais inúteis e aterrorizantes que aquele homem tinha em mãos na tarde retrasada.
- Onde estamos? - perguntei assustado
- Na Jaula - ela respondeu me olhando e vejo o pavor em seus olhos.
- Que lugar é esse?
- Não sei como ele teve coragem de me colocar aqui de novo, eu fiz tudo certo, não mereço.
- Você já esteve aqui? - estou confuso com tudo isso.
- Quando ele me trouxe pra cá fiquei por muito tempo nesse cubículo.
Antes mesmo de responder vejo ele se aproximando da jaula, estava de máscara e com muitos casacos.
- Por que você fez isso comigo? Achei que tivéssemos um acordo - ela diz com a voz alta enquanto gesticulava com o homem parado a nossa frente.
- Não se intrometa nos meus métodos, você sabe que não te interessa.
- Como você ousa fazer isso comigo?
Se não estivéssemos naquele cubo seu indicador estaria no rosto dele agora
- Como eu ouso Alice? Por acaso você acha que tem algum tipo de poder aqui? Você faz o que eu quero a hora que eu quero e sem abrir o bico ou a sua querida família vai parar no fundo do poço. Você sabe que eu posso fazer isso a qualquer momento. Quer me desafiar? Quer? Levanta essa voz agora e me diz o que pensa.
Ela fica em silêncio e abaixa a cabeça. Vejo uma lágrima cair no chão e sua respiração fica profunda.
- QUER ALICE? - ele grita
- Não senhor - responde ainda de cabeça baixa.
- Bom mesmo.
Ele continua andando pelo lugar e mexendo em algumas pastas que estavam em cima da mesa. Fiquei quieto diante a situação, não sabia o que fazer e nem como agir, queria agredi-lo mas mesmo que estivéssemos frente a frente apenas um soco dele e eu estaria inconsciente no chão.
Ele continuou fazendo suas coisas da qual não me faziam o menor sentido e eu continuei tentando entender aquele lugar.
Eu nunca tinha visto algo assim, era literalmente um grande cubo que parecia ser vidro, mas não era vidro, toquei algumas vezes e era muito rígido pra ser vidro.
Existiam algumas dobradiças mas não conseguia identificar algum tipo de porta. Comecei a temer por minha vida, acho que agora seria o fim. Em cima da jaula tinha alguns buracos pequenos que certamente era para ventilação. Mas sem chance de sair.
Em um canto uma privada igual as que são encontradas em prisões e finalmente nossas novas camas que na verdade eram apenas dois colchões finos com um lençol no chão.
Estava tão focado naquela jaula engenhosa que esqueci completamente da menina. Ela estava sentada no chão com uma cara de quem acabou de levar um sermão do pai. Não queria puxar assunto na frente daquele homem então esperaria ele sair e então conversaríamos. Quem sabe ela me explique mais sobre esse lugar.
Finalmente depois de alguns minutos ele estava se aprontando para ir. Subiu as escadas e deu uma última olhada em nos. Saiu pela porta e a ouvi sendo trancada.
- Você está bem?
- o que? - ela diz me olhando meio perdida após sair de seus devaneios.
- Você está melhor? - tento perguntar carinhosamente
- Sim, pode se dizer que sim.
- Que bom, eu imagino que você deve estar aterrorizada por voltar a esse lugar, deve ter passado por coisas ruins.
- É - sua voz agora tinha um tom grave e melancólico
- Voc.. - ela me interrompe
- Olha eu não estou muito afim de conversar
- Desculpa - falo rapidamente e me esquivo um pouco
Entendo que ela pode estar em um estado de choque, melhor deixar ela com seus pensamentos e eu com os meus.
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Rua Jardim de Monet
Mystery / ThrillerNa rua Jardim de Monet tudo parecia ser calmo, era como se tudo acontecesse em perfeita sintonia. Apesar da calmaria, no fim da rua em uma casa simples, um psiquiatra, que não aparentava ter boas intenções era motivo de desconfiança entre os vizinh...