Muitas informações correm pelo meu cérebro e não sei lidar com elas. Alice e esse homem são praticamente parentes. Deve haver um motivo para ela estar aqui. Certamente um que só faz sentido para ele.
Estou completamente perdido, toda noção de tempo e espaço que antes tinha, agora não existiam.
Nas primeiras horas que se passaram tentei colocar meus pensamentos em ordem. Acontece que não tenho tantos pensamentos assim.
Minha cabeça estava dividida em três partes. A primeira era em como Alice chegou aqui, a segunda basicamente em como fugir e na terceira e última só lembrava dos meus amigos e familiares. Me perguntava se eles estavam procurando por mim.
Me perguntava também se alguém estava procurando por Alice, se seus amigos sentiam falta dela tanto quanto eu sinto dos meus. Não fazia ideia de como sua família era e como era a relação entre eles. Com o pouco que a conheço já percebi que ela é muito sozinha e fechada em relação ao seu passado apesar de ser muito alegre e extrovertida enquanto conversamos.
- Alice - falo chamando sua atenção.
- Sim..
- Você acha que tem alguém procurando por nós?
- Sinceramente não sei, a única pessoa que poderia se preocupar comigo todo esse tempo talvez fosse a minha avó. E você?
- Talvez meu pai e meus amigos. Você tinha muitos amigos.. antes de tudo isso?
- Conhecidos e colegas sim, mas não muitos amigos. Tinha um ou dois com qual sempre pude contar, mas já faz tanto tempo que eles devem achar que estou morta ou algo assim.
- Que horror pensar isso. - digo incrédulo
- Bom eu penso assim, provavelmente eles me procuraram mas eu continuo aqui, então eles cansaram e desistiram.
- Isso está me dando dor de cabeça - desisto da conversa.
.As horas fluem de forma densa. Abro a boca e transpiro na parede transparente em que me encostava e em seguida desenho um relógio com o dedo.
- Você acha que são que horas agora?
- Não sei, talvez umas 9h ou 12h, alguma coisa assim
- Eu estou morrendo de fome - vejo minha barriga roncar.
- Eu também.
Nesse mesmo instante vejo a porta no alto da pequena escadaria se abrindo, o mesmo rosto coberto por barba e raiva desce as escadas e vem ao nosso encontro com uma bandeja nas mãos. Percebo os pratos e talheres e minha boca saliva comemorando o fato de finalmente ter uma refeição vindo até mim.
Alice levanta e se encosta nos fundos esperando o momento em que poderá atacar a comida.
Ele vem manso e se ajoelha no chão em frente ao meu colchão. De forma suave puxa algum tipo de maçaneta e uma pequena porta retangular se abre. Tamanho suficiente para passar apenas a bandeja.
Sem pensar em outro coisa apenas pego a comida deliciando minha boca nessa refeição que de certa forma me pareceu suspeita. Comia rápido por conta da fome e no canto do olho percebi que ele nos encarava enquanto comíamos. Alice se alimentava naturalmente e nem ligava para presença do aterrorizante homem a nossa frente. Não consigo nem imaginar quantas vezes ela já passou por isso, ter alguém observando e calculando cada passo seu.
Cheguei a engasgar um pouco, não gostava de ser observado dessa forma.
Em suas mãos tinha um caderno e uma caneta, ele anotava algumas coisas e contava os segundos nos dedos. A teoria que comentamos sobre ele ser um psiquiatra nunca fez tanto sentido como agora.
Ao terminarmos ele fez o mesmo processo de antes, abriu a pequena porta, pegou a bandeja e se retirou.
Na hora percebi que essa era a bandeja mais fina que já vi na minha vida. O amarelo queimado dela era apenas perceptível por conta do contraste com o metal dos pratos.
Tudo voltou ao normal e nos deitamos no colchão satisfeitos. Ele pode ser um homem terrível mas cozinha muito bem.
Enquanto meu estômago fazia digestão, eu me peguei observando Alice.
Reparei nos olhos castanhos e no cabelo quase que em um total e profundo preto. Suas sobrancelhas faziam movimentos de dúvida. Provavelmente estava pensando nas anotações. Ela tinha uma beleza natural, em seu rosto não havia maquiagem alguma e em seus fios era perceptível a naturalidade. Não posso negar que estou encantando, me sinto em um livro de suspense onde por um acaso duas pessoas acabam em uma encruzilhada e se apaixonam de repente. Talvez eu esteja um pouco apaixonado. Certamente não posso me dar ao luxo de estar assim, ela nem me conhece, vai me achar um louco se descobrir isso.
Muito provavelmente eu não consiga evitar, sou muito entusiasmado no quadrante relacionamentos já que nunca namorei e provavelmente não vou namorar daqui pra frente. Tudo é novo e interessante.
Os sentimentos que ela vem causando em meu corpo e alma me fazem delirar pensando em clichês românticos que poderiam acontecer entre nós.
Depois de minutos apreciando cada detalhe em seu rosto ela olha em meus olhos e sorri belamente. Meu rosto cora imediatamente, as bochechas travam em um sorriso bobo e não sei como reagir. Meu coração por um segundo bombeia rápido e perde o compasso das batidas. O que ela está fazendo comigo?
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Rua Jardim de Monet
Misterio / SuspensoNa rua Jardim de Monet tudo parecia ser calmo, era como se tudo acontecesse em perfeita sintonia. Apesar da calmaria, no fim da rua em uma casa simples, um psiquiatra, que não aparentava ter boas intenções era motivo de desconfiança entre os vizinh...