A vida depois de você

Capítulo 16

— O tio Matteo cozinha tão bem! — Peter exclamou, assim que acabou o almoço e deixou seu prato vazio.

— E eu?

— Você também, papai.

— Bom mesmo.

Ele riu, antes de se levantar e colocar seu prato na pia da cozinha. Depois, ele se voltou para Matteo, com as bochechas vermelhas.

— Tio Matteo — disse baixinho, parecia envergonhado. — Você tem Netflix?

— Por que a pergunta, Peter?

— É que eu queria assistir homem-aranha — brincou com os dedos. — A vovó sempre coloca para mim.

Peter sempre amou o homem-aranha, é seu super-herói favorito, só por um simples motivo: eles tem o mesmo nome, Peter.
Matteo abriu um sorriso de orelha a orelha antes de se levantar e pegar ele no colo.

— Claro, querido! Não precisava nem pedir!

— É que papai e vovó dizem que eu devo ser educado.

— Sim, mas não comigo, eu sou quase seu segundo pai, não precisa ser formal.

Os olhinhos de Peter brilharam.

— Então você e meu pai vão se casar?!

— Não — riu. — Não foi nesse sentindo, mas cá entre nós, eu casaria com o seu pai.

Peter levou as duas mãos a boca e gargalhou. Eu torci para que aquilo não fosse só uma brincadeira.

— Você sabe que o meu papai está logo atrás de você, não é?

Matteo fez sinal de silêncio e ele riu de novo.

— Homem-aranha, certo?

— Certo!

Eles saíram da cozinha, me deixando sozinho apenas com o "eu casaria com o seu pai" dentro da minha cabeça.
Senti algo entre minhas pernas e percebi que eu não estava sozinho. Peguei Nicolle no colo e acariciei seu pelo, enquanto ela ronronava no meu colo.
De repente, escutei passos, quando ergui meus olhos, Matteo estava lá. Ele sorriu para mim, antes de chegar mais perto.

— Eu posso beijar você?

— Como Peter está? — tentei mudar de assunto.

— Ele está assistindo homem-aranha na Netflix — respondeu. — Agora você não quer responder-me também?

— Sabe, Nicolle parece magra, você tem a alimentando direito?

— Ei! Não sou o único que cuida dela! — resmungou. — E pare de mudar de assunto, você sabe que eu gosto de você.

Travei no lugar. O suficiente para Nicolle ficar injuriada e sair do meu colo.

— V-você gosta de mim?

— É claro que eu gosto! O que você achava? — questionou. — Se eu quisesse só diversão eu simplesmente teria transado com você naquela noite e nunca mais teria olhado na sua cara, e eu nem sou o tipo de pessoa que faz isso.

Não, ele realmente não é.
Continuei em silêncio, o que foi o suficiente para Matteo continuar a falar:

— Eu gosto de você e de Peter, vocês são quase uma família para mim — ele coçou uma das bochechas, demonstrando que estava triste. — Você achou que era só diversão? Então você nem ao menos gosta de mim também?

Continuei em silêncio, sem saber como reagir. De todas as coisas, eu não estava esperando por isso.

— Quer saber? Eu vou fazer companhia para o Peter e o "homem-aranha".

Matteo saiu da sala, dessa vez me deixando realmente sozinho, já que Nicolle também tinha ido embora.
Comecei a sentir-me como se a qualquer momento fosse vomitar.

Olhei para os três, jogados no sofá, Matteo tinha adormecido e Nicolle também, mas Peter permanecia atento no desenho do homem-aranha, até que ele percebeu minha presença.
Peter se levantou com cuidado e veio até mim.

— Papai você precisa se desculpar, o tio Matteo está muito triste!

Senti meu corpo todo tremer, acho que estou pronto para me trancar no banheiro do meu ex-marido e chorar outra vez.

— Ele está?

— Papai, o tio Matto te ama! Vocês podem se casar e serem meus papais! Não tenha medo, seja forte como o homem-aranha! — falou animado e depois bocejou. — Estou com sono.

— Por que não descansa com eles? — perguntei, apontando para Matteo e Nicolle. Peter concordou e se deitou ali, aconchegando se ao lado do seu ex-pai.
Eu desliguei a televisão e me sentei no braço do sofá, bem ao lado de Matteo que dormia. Sinto falta disso, de acorda em algumas manhãs mais cedo e poder ver Matteo dormindo bem ao meu lado. Às vezes nu depois de uma noite de sexo ou com suas roupas.
Lembrei-me do que Peter disse e então prometi mentalmente para ele que eu vou ser forte como o homem-aranha.
Inclinei-me e deixei um beijo na testa de Matteo.

— Eu não gosto de você, idiota, eu amo você.

Comecei a acariciar os cabelos de Matteo. Eu costumava fazer isso quando ele estava triste. Deixava ele chorar no meu ombro, enquanto eu fazia carinho naqueles fios escuros.
Os olhos dele começaram a abrir devagar e eu afastei meus dedos.

— Desculpe por te acorda.

Ele olhou para mim e depois se ajeitou no sofá.

— Tudo bem.

Matteo desviou o olhar para Peter, provavelmente ele não queria falar comigo depois daquela conversa na cozinha.
Eu suspirei fundo e decidi que séria agora ou nunca, não importa as consequências.
Seja forte como o homem-aranha!

— Matteo, eu preciso te contar algo.

— Diga.

— Vamos para a cozinha, não quero correr o risco de acorda o Peter e a Nick.

Sem dizer mais nada, ele se levantou e seguimos para a cozinha. Lá, ele apoiou suas mãos na mesa e olhou para a janela. Não vou obrigá-lo a olhar para mim, mas espero que ele entenda cada palavra que eu disser agora.
Arrastei uma das cadeiras e me sentei.

— Eu espero que você não me ache louco ou coisa assim — Matteo não disse nada, me dando uma deixa para continuar. — Eu sofri um acidente de carro aos 22 e entrei em coma por 5 anos.

— Você me disse isso uma vez.

— Sim, mas sabe quando as pessoas que entram em coma tem um sonho comprido até acordarem ou morrerem?

— Sei.

— Isso aconteceu comigo, e durante 5 anos, você foi meu marido, Peter nosso filho e Nicolle a nossa gatinha — percebi que algo gelado escorria entre minhas bochechas. Eu não sei quando comecei a chorar mas sei que estou chorando. — Quando eu acordei vocês não estavam mais lá e eu quis morrer.