— Até amanhã, Oliver.
— Até, Senhora Carter.
Deixei o hotel e tomei um caminho diferente, porque mamãe pediu para que eu passasse no mercado antes de voltar para casa. Ela mesmo passaria, como sempre faz, mas eu sei que ela quer que eu passe mais tempo fora de casa, ainda mais depois dela ficar sabendo que Nicolle teve que ir embora, pois ela sabia que eu voltaria para o início. E eu voltei.
Matteo não está mais no hotel, o que facilita um pouco as coisas. Não era muito bom sentir a ansiedade em minhas veias enquanto o elevador subia até o quinto andar. Mas também é ruim, porque nunca mais o verei novamente. Únicas lembranças que posso guardar são as boas, as lembranças de quando ele era meu marido e nos amávamos.
Suspirei fundo e guardei minhas mãos dentro do bolso da minha calça jeans. Eu não posso pensar demais, pensar demais me destrói, e eu preciso arranjar um jeito de ficar melhor, porque mamãe quer me ver melhor.
Eu só preciso atravessar a rua, pensei E vou chegar ao mercado.
Mas, ao invés disso, dei meia volta e me sentei em um banco na calçada, que fica de frente para um orfanato.— Moço! — ergo meu olhar e avisto uma mulher morena correndo em minha direção. — Moço!
Automaticamente me levantei do banco.
— O que houve?
— Eu trabalho no orfanato — ela apontou o dedo para a direita e, foi quando eu percebi. É esse o orfanato aonde eu adotei Peter. — Uma das nossas crianças quebraram a perna, eu já chamei a ambulância mas está demorando uma eternidade!
— Me desculpe, mas eu preciso fazer minhas compras.
Seu rosto desesperado, se transformou em completa decepção.
— Tudo bem, eu entendo. Obrigada mesmo assim.
A mulher deu de costas e saiu com passos rápidos.
Eu também me virei de costas e esperei o sinal verde para poder atravessar a rua.
Mas e se Peter tiver machucado a perna?
Impossível.
Matteo e Nicolle são reais, por que ele não séria também?
O sinal ficou verde, porém fiquei imóvel, enquanto outras pessoas atravessaram.
Olhei de relance para o lado, e a moça que trabalha no orfanato, ainda estava ali.— Moça! Moça! — comecei a correr. — Espere um segundo!
Ela se virou. Parecia confusa ao me ver.
— Eu vou ajudar, aonde está a criança?
— Sério? — balancei a cabeça. — Muito obrigada, senhor! Venha comigo, rápido!
Quando chegamos, a primeira coisa que eu vi foi Peter. Ele estava deitado no sofá, com vários adultos em cima dele. Sua perna, era bem óbvio que estava quebrada e ele chorava escandalosamente, como se fosse morrer, e isso fez meu coração se aperta. Agora eu sei como mamãe se sente.
— Peter! — empurrei todas as pessoas em minha frente, desesperado, até que consegui chegar até ele. Me ajoelhei no chão e peguei em sua mão. — Peter, querido.
Ele olhou para mim, ainda chorando.
— Dói, moço, dói muito.
Coloquei minhas mãos sobre suas bochechas e limpei suas lágrimas, o que foi inútil, já que várias outras desceram em seguida.
— Eu sei, mas vai ficar tudo bem, a ambulância já está chegando e eu estou aqui com você.
Ele deu um pequeno sorriso e segurou em minha mão, o que me fez lembrar da época que em eu e Matteo o adotamos. Ele era apenas um bebê, e suas mãos eram tão pequenas que apenas conseguiam pegar em um dos meus dedos e dos dedos de Matteo. Mas agora elas são maiores, porque na época que eu deveria ter adota-ló, eu estava em coma, sonhando com tudo isso.
— Qual o seu nome, moço?
— Oliver, e o seu? — perguntei, como se não soubesse.
— Você já sabe.
— Sei?
— Você me chamou pelo nome. Como sabe meu nome?
— Mágicos nunca revelam seus segredos.
Ele sorriu mais e tentou se mexer, porém, eu impedi.
— Não se mexa, se não vai doer mais. Se concentre apenas em mim.
Peter olhou para mim de novo e perguntou, com inocência:
— Você vai me adotar?
Abri a boca para responder, mas fui interrompido com um grito:
— Eles chegaram! Chegaram!
Vários médicos com roupas verdes entraram e pediram para que eu me afastasse. Eles colocaram Peter em uma maca e desapareceram com ele.
Antes que eu pudesse correr até ele, senti uma mão em meu ombro. Era a mesma mulher de antes.— Ele vai ficar bem, não vai?
— Claro que vai — ela afastou a mão e senti uma vontade horrível de chorar. — Como você sabia o nome dele?
Ignorei a pergunta e retirei meu celular do bolso.
— Esse é o meu número, quando ele voltar para o orfanato, quero que me ligue, por favor.
— Tudo bem — ela pegou uma caneta e um papel e depois voltou para anotar o número. — Eu entrarei em contato.
— Obrigado.
No final das contas, eu não comprei nada no mercado. Mamãe vai ficar uma fera.
— Mãe?
— Aqui na cozinha!
Deixei minhas coisas sobre o sofá e caminhei até onde ela estava.
— Oi, querido — ela beijou minha testa. — Como foi no trabalho?
— Bem.
— Cadê as compras?
— Ah! As compras! — fingi preocupação. — Me desculpe, mãe! Esqueci completamente!
— Tudo bem — ela puxou a cadeira e se sentou. — Se sente, eu quero conversa com você.
Também empurrei a cadeira e me sentei de frente para ela, esperando que o sermão sobre eu aceitar as coisas e viver minha vida começasse.
— Quando você iria me contar que no final das contas, esse Matteo existe e que a nossa Nicolle era exatamente a mesma Nicolle do seu coma?
— O que?! — quase gritei. — Como você...
— Ele veio aqui hoje.
— Veio?!
— Sim — respondeu. — Ele disse que Nicolle estava mal esses dias e que a levou para o veterinário. Os exames não deram em nada e ele sabe o porquê dela estar assim, então veio aqui porque queria conversa com você. Mas eu disse que você estava trabalhando e que era para ele voltar outro dia.
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A vida depois de você
RomanceOliver e Matteo se conheceram em 1995 e se apaixonaram. E, como todos os apaixonados, eles começaram a namorar, mais tarde, se casaram e adotaram um filho de 5 anos no orfanato da cidade e uma gata branca que eles encontraram abandonada na rua. Poré...