Arranje um emprego!, mamãe disse Você já tem 27 anos, pare de agir como um adolescente!
Ela ainda não entende como dói, ou talvez entenda, mas precisa me botar de pé de alguma forma. Mamãe também já cansou de me ver chorando pelos cantos, deve ser de partir o coração ver seu filho tão triste, mais no fundo do poço do que você. Eu odiaria um dia ter que ver Peter chorar entre quatro paredes, como se não tivesse mais como dar um jeito em sua vida. No fim, jamais verei, porque Peter não existi, ele existe apenas em minha cabeça.— Peter — sussurrei e senti uma imensa vontade de chorar, porém me segurei, agarrando o cabo da vassoura com força. — Papai sente sua falta, muita a sua falta. Papai te ama.
Eu obedeci mamãe, procurei por um emprego. Foi um pouco difícil, porque eu não terminei minha faculdade, graças ao acidente. Mamãe disse que se eu não quisesse trabalhar, que eu deveria terminar minha faculdade de medicina, mas eu não sei se realmente quero terminar a faculdade, muito menos a de medicina, então fui atrás de um emprego e eu consegui. Sou faxineiro do Hotel Pleasure, hoje é meu primeiro dia.
Limpar quartos é cansativo, eu acho que deveria ter continuando a faculdade, eu pensei, dentro do elevador, que subia para o último andar. Só mais alguns quartos e eu poderei ir embora para casa.
O elevador parou no quinto andar e eu sai, empurrando o carrinho com os produtos de limpeza.
Parei em frente ao quarto 405, e bati na porta. Esperei por um tempo, nada veio. Decidi bater outra vez. Nada.— Caso ninguém atenda, é porque não tem ninguém em casa, ou talvez alguém tenha morrido, ou simplesmente não tem ninguém hospedado naquele quarto — a Senhora Carter, minha chefe, me disse. — E, caso a porta não estiver aberta, pegue a chave e abra. Faça seu trabalho.
— E se a pessoa estiver morta? — perguntei, citando o caso de quando ela disse "ou talvez alguém tenha morrido".
— Então me procure.
Tirei as chaves que a Senhora Carter me dera do bolso e procurei pela chave do quarto 405. Não foi uma tarefa difícil, afinal, cada chave tinha desenhando seu número.
Abri a porta e entrei, guardando o punhado de chaves de volta em meu bolso do uniforme.
Olhei em volta, vendo que eu não teria muito trabalho. Aquele cômodo já estava praticamente limpo.
Voltei para fora e peguei o que séria necessário para a limpeza e entrei novamente.
Decidi que começaria com a mesa no centro da sala, que, por algum motivo está lotada de papéis. Me aproximei para ver mais e me surpreendi ao ver aqueles papéis não passavam de cartazes de um gato branco, muito parecido com Nicolle, desaparecido.
Peguei um dos cartazes em mãos e analisei.
Seja lá quem esteja hospedado aqui, com certeza perdeu o animal, é uma pena.— Quem é você?
De repente, o cartaz foi retirado bruscamente das minhas mãos.
Dei um passo para trás e acabei tropeçando nos meus próprios pés, para minha sorte, cai no sofá.— Me desculpe! — exclamei, abaixando a cabeça, sem ao menos ver o rosto daquela voz. — Não queria me intrometer! Apenas sou o novo faxineiro do hotel!
— Pode ir embora, não preciso de faxina hoje.
Ergui meu olhar, para poder me levantar do sofá, porém, não o fiz.
— Matteo...
Ele franziu o cenho.
— Desculpa, mas como você sabe meu nome?
Olhei de relance para o cartaz.
Não é um gato, é uma gata. Não é qualquer gata branca, é a gata branca. A Nicolle em minha casa, é a Nicolle.— Pelo amor de Deus, não chore! — apenas quando ele disse isso, que eu percebi que lágrimas passeavam pelas minhas bochechas.
Desculpa, mas como você sabe meu nome?
É claro que ele não se lembra de mim e nem tem como ele se lembrar de algo que aconteceu apenas em minha cabeça.
Mas ele é real! É real! Deus! É real!— Desculpa — sussurrei, limpando a lágrimas em meu rosto. Ele deve estar constrangido, Matteo nunca soube lidar com pessoas chorando. — Desculpa.
— Quer uma água, conversar?
Nunca soube lidar com pessoas chorando, mas ele tentava.
— Não, obrigado. — me levantei do sofá e, de repente, senti vontade de vomitar.
— Tem certeza?
Sua mão se apoiou no meu ombro e, rapidamente, me afastei.
— Não encosta em mim!
Ele parecia paralisado.
— Desculpa.
Comecei a caminhar com passos firmes até a saída, pegando o carrinho de limpeza, e percebi que minhas mãos estão tremendo.
— Espera! Meu nome, como você sabe o meu nome?
O elevador estava a minha espera, então apenas entrei. As portas se fecharam e tudo ficou um pouco embaçado em minha volta.
Eu acho que vou vomitar.
O elevador abriu as portas de novo e a última coisa que eu vi foram olhos castanhos.— Só volte amanhã se estiver melhor, Oliver.
— Me desculpe, Senhora Carter — apertei o tecido da minha calça jeans, envergonhado. Afinal, quem passa mal no primeiro dia de trabalho? — Me desculpe, prometo que isso não vai se repetir.
— Não se preocupe tanto, as pessoas ficam doentes, é normal — ela colocou o óculos quadrado sobre seu rosto. — Agora vá para casa e só volte se estiver melhor.
— Tudo bem.
— Tenha um bom dia, Senhor Evans.
É Brown, pensei, mas eu sabia que não era mais, e talvez nunca mais séria.
Deixei a cadeira e me dirigi até a porta.— Espere um segundo.
Olhei de relance para ela.
— Sim, chefe?
— O homem que te ajudou, o Matteo Brown, ele disse que queria conversa com você.
— Sério?
Eu não estava surpreso, para falar a verdade. Quem não gostaria de conversa com alguém que você supostamente não conhece, porém essa pessoa, sabe seu nome e depois começa agir de forma estranha? Matteo com certeza, ele é e sempre foi de longe um tremendo curioso.
— Sim, porém eu disse para deixar para outro dia por você estar passando mal, se importa?
— Não me importo, na verdade, muito obrigado por isso.
— Não agradeça — ela ajustou o óculos no rosto. — Vocês são conhecidos?
Abaixei meus ombros e cerrei meus olhos, tentando conter as lágrimas.
Fiquei em silêncio por um tempo, até que achei a resposta:— Não mais.
Então, dei de costas e sai da sala.

VOCÊ ESTÁ LENDO
A vida depois de você
RomantizmOliver e Matteo se conheceram em 1995 e se apaixonaram. E, como todos os apaixonados, eles começaram a namorar, mais tarde, se casaram e adotaram um filho de 5 anos no orfanato da cidade e uma gata branca que eles encontraram abandonada na rua. Poré...