Empurrei a cadeira e me sentei, ainda surpreso com toda a comida sobre a mesa.
— Mãe, para que tanta comida?
Ela se virou para mim e colocou um prato vazio na minha frente.
— Não quero que desmaie de novo.
— Eu não desmaiei por comer pouco.
— Então foi por que então?
Suspirei e cocei minha nuca em seguida. Não vou contar para mamãe que Matteo, no final das contas, é real, mais que real. E que a gata branca que está deitada de baixo da mesa, acariciando meus pés, é a mesma Nicolle. Ela jamais acreditaria, ela vai pensar que talvez eu tenha enlouquecido de vez.
— Estava muito calor, minha pressão deve ter caído.
— Você é muito novo para ter pressão baixa — ela colocou uma xícara de café ao lado do prato. — Agora coma e vá trabalhar, já que você disse que está se sentindo melhor.
— Tudo bem.
Sai do elevador, empurrando o carrinho de limpeza.
Encarei o quarto 405, aonde ninguém menos que Matteo Brown está hospedado. Ou talvez não, eu torci muito para ele já ter ido embora do hotel e voltar para casa.
Levantei minha mão, fechada, para bater na porta, e bati. Esperei por um tempo e percebi que minhas mãos tinham começado a soar. Fechei os olhos e respirei fundo, não posso cair duro no chão aqui de novo.— Oi — ergui meu olhar, e lá estava ele. — Eu estava esperando por você.
— Estava é?
— Sim — Matteo abriu espaço, para que eu pudesse entrar. — Entre, por favor.
Larguei o carrinho de limpeza e entrei, mesmo que tudo dentro de mim pedisse, ou melhor, gritasse, para que eu fosse embora.
— Se sente — obedeci, e me sentei no sofá. — Quer uma água ou algo do tipo?
— Água, por favor. — respondi, apenas para ganhar mais tempo.
Ele deu de costas e foi buscar a água, e eu, por minha vez, tentei relaxar, mas ficar sozinho parece ter me deixado mais nervoso, ainda mais com todos esses cartazes de Nicolle desaparecida espalhados sobre a mesa, porque eu sei aonde ela está. Matteo deve sentir a falta dela, deve estar se sentindo péssimo, assim como eu me senti quando soube que Matteo, Peter e Nicolle não passavam apenas de pessoas em minha cabeça. Mas agora eu sei que eles são reais, porém, a questão é, tem como as coisas voltarem a ser como antes?— Sua água.
Segurei o copo e bebi alguns goles, percebendo que minhas mãos estavam tremendo.
— Então, eu te conheço de algum lugar?
Coloquei o copo, agora vazio, sobre a mesa, junto com os cartazes.
Observei a foto de Nicolle, ela estava deitada em cima de um livro aberto. Será que ela também sente a falta dele, como eu sinto?— Moço?
Eu os amos tanto, não posso fazer isso com eles.
— Eu sei aonde está sua gata!
Ele arregalou os olhos, parecia surpreso, acho que era a última coisa que ele esperava ouvir.
— Deus! Você sabe onde está Nicolle? — balancei minha cabeça. — Aonde?
— Em minha casa — respondi. — Pensei que ela não tivesse dono então... me desculpe.
— Pode me levar até ela?
— Eu preciso termina meu trabalho.
— Tudo bem, eu espero.
— Limpeza hoje?
— Não, obrigado.
Me levantei e sai andado o mais rápido possível, com medo que ele pudesse me fazer mais perguntas.
Eu vou sentir tanta falta de Nicolle, mas sei que isso fará de Matteo feliz de novo, então tudo bem. Alguns sacrifícios, são necessários às vezes.
— Mãe? — nenhuma resposta, ela deve estar no mercado ou algo do tipo. — Acho que ela não está, pode entrar.
— Quantos anos você tem?
— Vinte sete, ainda moro com a minha mãe porque sofri um acidente de carro — expliquei. — Entrei em coma por 5 anos e só despertei à 2 meses atrás.
— Eu sinto muito.
Tudo bem, eu pensei Essa nem é a pior parte da história.
— Pode se sentar, fica a vontade, quer alguma coisa?
— Não, obrigado — ele olhou aos redores. — Aonde está ela?
— Nicolle! — chamei por ela e, de repente, ela apareceu, descendo as escadas correndo.
— Nick! — Matteo se ajoelhou, abriu os braços e pegou Nicolle no colo. — Nunca mais faça isso com o papai, nunca!
Forcei um sorriso, para esconder minha tristeza. É uma cena bonita de se ver, mas daqui alguns minutos ele vai levá-la e então nunca mais vou ver seu rosto de novo.
Existindo ou não, vou ter que me acostumar a viver sem.
Nem tudo é como a gente quer, papai me disse isso uma vez, antes de perde a batalha contra o câncer quando eu era apenas uma criança.
Coloquei minhas mãos dentro do bolso e as apartei, forte, tentando controlar tudo.— Muito obrigado — ele estendeu a mão para mim, mas preferi não aperta-lá, então ele apenas a abaixou, envergonhando. — Qual o seu nome mesmo?
— Oliver.
— Muito obrigado, Oliver.
— Não foi nada — acariciei o pelo branco de Nicolle. — Vou sentir sua falta, garota.
— Me desculpe, por estar tirando ela de você.
— Nem tudo é como a gente quer, Matteo. E, além disso, fui eu quem a tirei de você.
— Afinal, como sabe meu nome? — afastei minha mão de Nicolle e a coloquei dentro do bolso novamente. — A gente se conhece de algum lugar?
— Não.
— Então como...
— Tchau, Matteo — interrompi. — Foi bom conhecer você.
— O mesmo, Oliver.
Ele me encarou, curioso. Abriu a boca, para dizer algo, porém a fechou de novo.
— Obrigado mais uma vez.
— Não foi nada.
Ele saiu pela porta, levando Nicolle junto e, automaticamente, levando uma parte de mim também.
— Porra! — gritei e me joguei no sofá, deixando as lágrimas rolarem. — Porra.
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A vida depois de você
RomansaOliver e Matteo se conheceram em 1995 e se apaixonaram. E, como todos os apaixonados, eles começaram a namorar, mais tarde, se casaram e adotaram um filho de 5 anos no orfanato da cidade e uma gata branca que eles encontraram abandonada na rua. Poré...