Abri a porta da cafeteria e olhei em volta. Ele ainda não chegou. Relaxei meus ombros e andei até uma mesa vazia nos fundos, aonde me sentei. Não demorou muito para uma garçonete, com um rabo de cavalo, aparecer.
— Com licença, senhor, o que deseja?
— Um café com leite, por enquanto.
Ela anotou o pedido e depois saiu, dizendo:
— Já volto com seu pedido.
Mamãe disse que Matteo me encontraria na cafeteria, logo depois de acabar meu serviço no hotel. Eu nunca quis vim, mas ela disse que era para eu ir, era importante, é Nicolle. Nicolle sente minha falta e está triste, Matteo quer dar um jeito nisso, porque eu sei que ele se importa com a gata, assim como eu sempre me importei.
Coloquei minhas mãos sobre a mesa e olhei em volta mais uma vez. Ele não vai vim? Se não vier, que mal faz? Eu também não queria vim.
Meu estômago se embrulhou, eu sei que quero que ele venha, no fim das contas. Quero ver seu rosto mais uma vez.
Escondi minhas mãos de baixo da mesa e as observei apertarem o tecido da minha calça legging. É o que sempre faço quando estou nervoso.
Me conte as coisas!, mamãe disse, ela estava irritada Não esconda mais nada de mim!
Então eu contei sobre Peter, que quebrou a perna no orfanato e até agora não recebi notícias do meu filho, que já não é bem mais meu.— Aqui está, moço.
Ergui o olhar e a garçonete tinha voltado, agora com uma xícara de café, que ela colocou sobre a mesa.
— Obrigado.
— Eu que agradeço.
Ela saiu e eu tomei um gole do café, depois pensei em chamá-la de novo para pedir um pedaço de bolo, mas eu escutei o barulho da porta e Matteo apareceu. Então ele veio, afinal.
Matteo olhou em volta e quando me avistou, sorriu e caminhou em minha direção. De repente, ele estava sentado de frente para mim, apenas me olhando, sem dizer nada.
A garçonete chegou e perguntou o que ele queria. "O mesmo que ele", disse. Ela anotou e foi embora, mas logo voltaria.— Fico feliz que você veio — Matteo apoiou o queixo na mão direita. — Precisamos conversa sério sobre Nicolle. Acho que a sua mãe já te disse tudo.
— Sim.
— Então, eu cheguei a conclusão de que é melhor a Nicolle voltar a ficar com você.
Péssima ideia, eu pensei. Conheço Nicolle com a palma da minha mão, ela não vai melhorar, porque então vai passar a sentir falta de Matteo. Ela gosta de nós dois, como se já soubesse tudo que passou em minha cabeça durante o coma. Eu acho que gatos sabem o que mais ninguém pode saber.
— Eu não sei como ela se apegou a você tão depressa, porque geralmente ela não se dá muito bem com ninguém.
Sim, sim, eu já sei disso.
A garçonete apareceu e colocou a xícara na mesa. Ele agradeceu e ela foi embora.— Se ela ficar comigo, vai passar a sentir sua falta e então vai continuar do mesmo jeito.
— Então o que eu vou fazer? — ele bebeu um gole do café e depois coçou a bochecha, o que ele sempre faz quando está triste.
— Tudo bem com você?
— É que eu terminei meu namoro recentemente — ele coçou a bochecha de novo. — A única coisa que me deixa feliz é Nicolle.
— Entendo. — desviei o olhar para o meu café e bebi mais um gole, tentando esconder minha vontade de sair correndo.
Então, enquanto eu estive em coma, Matteo estava namorando um outro cara.— Eu não posso ficar sem ela mas ela também não pode...
— Não pode ficar sem nós dois — interrompi. — Ela só precisa passar um tempo com nós dois.
— Como?
— Talvez uma semana eu possa ficar com ela e a outra fica você.
Ele afastou a mão da bochecha e bebeu um gole enorme do café.
— Não é uma má ideia — eu tomei mais um gole do café, o que fez com que ele chegasse ao fim. — Então, vamos para minha casa agora, você passa essa semana com ela.
Não, eu não quero ir na casa dele. O que impede de a casa de Matteo ser a mesma aonde morávamos quando casados em meu coma?
Mas é por Nicolle, por Nicolle.— Tudo bem.
Ele chamou a garçonete, pediu a conta e disse que pagaria meu café.
— Você não fala muito, não é? — Matteo perguntou, com um sorriso, enquanto saia do carro. Eu também sai e fiquei feliz por ver que não era a mesma casa do coma, só era uma casa comum que eu nunca tinha conhecido antes.
— Aonde está ela? — ignorei a sua pergunta.
— Siga-me.
Quando entramos, a primeira coisa que eu vi foi Nicolle deitada encolhida no sofá.
— Nick — ela levantou as orelhas. — Olha só quem veio te ver.
Ela levantou a cabeça dessa vez e pareceu sorrir quando percebeu minha presença. Nicolle pulou do sofá e correu com as quatros patas em minha direção. Eu, por minha vez, me ajoelhei para pega-lá no colo, e quando o fiz, acariciei seu pelo.
— Você sabia que o nome dela era Nicolle, não sabia?
— Claro que sabia, estava escrito no cartaz. — eu menti.
— Meu nome não estava lá — ele respondeu e senti meu corpo tremer, o que me obrigou a soltar Nicolle. — Você sabia meu nome e Nicolle gosta de você como se te conhecesse à anos. Tem certeza de que não nos conhecemos em algum lugar antes?
— Nos conhecemos sim.
— Eu imaginei — ele pegou a caixinha de viagem de Nicolle e ela entrou lá dentro, sem ninguém precisa mandar. — Mas eu não consigo me lembrar... como nos conhecemos?
Peguei a caixinha de viajem e me dirigi até a porta, sem intenção de responder aquela pergunta. Só estou aqui por Nicolle, Nicolle.
— Tchau, Matteo, até semana que vem.
— Espera, você não pode fugir pra sempre assim — posso sim. — Foi tão ruim a forma que nos conhecemos?
— Não, foi muito bom — eu respondi. — E esse é o problema, foi bom até demais.
Ele abriu a boca para dizer algo, porém mu celular tocou dentro do bolso, o que fez ele não dizer nada.
Retirei o celular e atendi ao número desconhecido que ligava.— Alô?
— Olá, aqui quem fala é Rachel, sou a mulher do orfanato que você ajudou aquele dia.
— Meu Deus! Como Peter está?
— Bem, o senhor deseja vim vê-lo?
— Eu estou indo agora!
Desliguei o telefone e encarei Matteo. Essa era a última coisa que eu queria fazer, porém também quero chegar o mais rápido possível no orfanato. Então, dei um passo a frente e perguntei:
— Por favor, pode me levar à um lugar? Estou sem carro e preciso chegar lá o mais rápido possível!
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A vida depois de você
RomanceOliver e Matteo se conheceram em 1995 e se apaixonaram. E, como todos os apaixonados, eles começaram a namorar, mais tarde, se casaram e adotaram um filho de 5 anos no orfanato da cidade e uma gata branca que eles encontraram abandonada na rua. Poré...