[09] O beijo

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Mas porque será que esta criatura de Deus quis vir comigo à enfermaria? Depois de eu o tratar mal, ele insiste em estar comigo e a ajudar-me, mesmo tendo namorada. Ele não devia fazer isto tendo namorada. Mas bem, secalhar está só a tentar ser simpático. Mas será só isso?

A voz dele retira-me dos meus pensamentos, e vejo que está a olhar para mim como quem se encontra à espera de uma resposta.

- Repete o que disseste, não ouvi. - peço-lhe com a maior simpatia que consigo.

- Mas eu por acaso tenho cara de papagaio? Eu tenho lá culpa que tu estejas sempre com a cabeça na lua. - ele sorri ao dizer isto, um meio sorriso que me faz sorrir também.

- Olha, eu acho que me devias tratar de outra maneira, tendo em conta que estou aleijada. - aponto para o joelho ferido.

- Sim, era isso que te estava a perguntar. Dói-te muito? Custa-te a andar? - ele fixou os seus olhos castanhos nos meus com uma expressão preocupada.

- Não, eu estou perfeitamente bem e não me dói nada. Não te preocupes comigo. - tentei tranquilizá-lo.

- Mas quem é que te disse que eu estou preocupado contigo? - ele questiona.

- É óbvio que estás, caso contrário não perguntavas nem te terias oferecido para me acompanhar à enfermaria.

Ele encolheu os ombros e disse simplesmente:

- Fiz isso a ti como faria a qualquer outra pessoa, porque sou simpático e prestável. Não te sintas especial por isso.

- E quem disse que eu me sentia especial por isso? Por amor de Deus, deves-te achar uma pessoa muito importante realmente. Mas acredita, não és nada importante para mim. És um colega que eu acabei de conhecer, nada mais.

Ele ficou com uma expressão muito aborrecida, mas eu não fiz caso disso.

Chegámos à enfermaria e eu expliquei à funcionária o que tinha acontecido comigo, ao que esta disse:

- Aí menina, você devia ter mais cuidado. Desta vez, não lhe aconteceu nada de grave, mas já tem havido casos em que o joelho fica tão mal que tem de ir para o hospital. Por isso, por favor, tenha mais cuidado da próxima vez que estiver a ter educação física.

- Sim, não se preocupe, eu terei. - tranquilizei-a.

- Ela é uma desastrada, é normal que essas coisas aconteçam. - ele olhou para a funcionária, encolhendo os ombros, como se estivesse a dizer uma verdade inquestionável.

- Cala-te, ninguém falou contigo. - olhei para ele de forma a obrigá-lo a calar-se, mas ele limitou-se a sorrir e abanar a cabeça.

A senhora não fez qualquer comentário a este diálogo e foi buscar os produtos para desinfetar a minha ferida.

Estive a observar o pequeno espaço da enfermaria. Tinha uma mesa de cabeceira com um computador e uma cadeira de madeira. Apresentava também duas camas próprias de um consultório médico e um rádio onde estava a dar lofi hip-hop.

A senhora chegou com o que precisava para desinfetar a minha ferida. Eu soltei um "Aí!" porque me ardeu, mas a funcionária disse para eu ter calma que dali a nada estava prontinha para me ir embora.

Realmente, ela estava certa, pois passados cinco minutos, a ferida estava desinfetada. Colocou um penso, eu agradeci-lhe o seu cuidado e sai da enfermaria, acompanhada pelo Adam.

Saímos juntos da enfermaria em silêncio... Comecei a achar estranho haver tanto silêncio e senti que algo estava próximo de se passar. O que é que ele vai fazer?

De repente, ele puxou o meu braço para dentro de uma sala.

- Mas tu estás maluco?! - quase gritei.

- Tu tiras-me do sério! - ele respondeu-me enfurecido e no mesmo tom de voz.

- Oh coitadinho! Eu tenho lá culpa que tu sejas um estúpido presunçoso e que se arma em boa pessoa, quando não passa de uma criatura impossível de se aturar! - levantei demasiado a voz, pelo que ele ficou a olhar embasbacado para mim.

- E tu? Eu tento ser uma boa pessoa para ti e tu repeles-me sempre e nunca me deixas aproximar-me, pois és uma ciumenta desmedida! - ele levantou os braços em jeito de desculpa.

- Eu? Ciumenta? Adam, eu só te quero que tu e a tua namorada estejam bem longe de mim!

- Porque morres de ciúmes. - ele disse isto, aproximando-se de mim.

- Para com essa treta de eu morrer de ciúmes! Eu não quero nada contigo e a tua mania de te armares em superior.

- Sabes tão bem como eu que isso não é verdade. - afastou-se para trancar a porta.

- O que é que pensas que estás a fazer? - questionei e comecei a ficar nervosa.

- O que quero fazer desde esta manhã.

- É que tu nem penses que...

Não consegui acabar a frase, pois ele encostou-me contra a parede. Ficámos a olhar um para o outro e, ao fim de uns segundos, ele beijou-me. Ao início, um beijo lento, mas, depois, começou a tornar-se mais veloz e profundo. Já sentia a língua dele a invadir a minha boca e eu acedi a isso, porque também o queria...

Não! Não podia ser! Isto não estava certo! Eu não podia andar aos beijos com uma pessoa que está comprometida e que eu conheço à menos de 24h. É de doidos!

Empurrei-o para a frente e quando ele saiu eu estava a arfar. Ele ficou com uma expressão confusa a olhar para mim e quando se ia preparar para falar, eu interrompi:

- Adam, eu não vou ser mais uma das tuas conquistas! Tu tens namorada e eu não vou ser uma amante nem ficante para ti! - ando de um lado para o outro na sala, porque não consigo o encarar depois do que aconteceu.

- Mas ela não é minha namorada! Ela é só "uma diversão"... - ele encolhe os ombros, sem jeito.

- Pois, mas eu não sou rapariga de ter "diversões" e não estou para isto. Tu dás-me raiva e eu não quero nada contigo! - afirmo com toda a certeza.

- Tens a certeza disso? Porque não foi isso que eu senti quando te beijei... - ele encaminha-se para mim, mas eu vou para o lado oposto da sala.

- Tenho, e escusas de me olhar perverso que eu não vou ceder ao que tu queres comigo. Estou bem decidida e eu de ti só quero distância. Sei perfeitamente como são gajos como tu. - ele arregala os olhos perante a minha forma de falar tão madura e frontal. - Dão esperanças às raparigas para terem o que querem delas e depois quando se cansam, descartam-nas. Não é isso que eu quero para mim. - declaro prontamente.

- E se eu acabasse tudo com a Roselyn? Tu tinhas algo comigo? - ele tenta aproximar-se de mim de novo e inclina o meu queixo para a frente, de modo a eu o olhar nos olhos.

- Não consigo confiar em ti para algo sério e não sei se isso alguma vez irá mudar. - ele muda para uma expressão fria e distante e afasta-se de mim.

- Então desculpa, isto foi tudo um impulso, eu não sei o que me ia na cabeça. - ele coça a cabeça em jeito embaraçado. - Prometo que não vou voltar a chatear-te. - Adam sai da sala de rompante e fecha a porta atrás de si com estrondo.

Eu saio daquela sala em direção ao ginásio, mas olho para o relógio que está no corredor e vejo que a aula já acabou. Então, dirijo-me em direção aos cacifos para procurar a Aurora.

O DESTINO DE EVELYNOnde histórias criam vida. Descubra agora