Capítulo Um

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               Corri pelo corredor extenso e, em apenas alguns segundos, consegui chegar até a janela quebrada, saltando ali no mesmo instante em que o explosivo destrói todo o andar. Por sorte, os cacos de vidro e a minha perigosa aterrissagem não me causaram danos físicos, minha roupa me protegeu o tempo todo. – Me ergui, andando o mais rápido que podia, não deixando de vislumbrar o fogo engolir a mansão.
               Encontro as chaves do McLauren, guardo a pistola assim que entro no carro, e piso fundo no acelerador.

— Você é a filha da mãe mais sortuda que conheço – ouvi através do fone. Revirei os olhos. — Você foi descuidada, quase não dá tempo.

— Ainda aí? Pede um hambúrguer pra mim, e Coca-cola.

— Kakashi não vai deixar você tomar nem água quando chegar, ele está louco pra falar com você, corrigindo, gritar com você! Ele sabe o que fizemos.

— Não ligo e não me arrependo. O que ele vai fazer? Me pôr de castigo?

— Bom — sorri com a estrada vazia, desvio um pouco o olhar para procurar alguma música no painel. —, considerando a boação que fizemos, você merece comer quantos hambúrguers quiser.

— Chego em cinco minutos — retiro o fone da orelha, e dou o play para Heathens de Twenty One Pilots. — All my friends are heathens, take it slow...



•••



               Soltei o rabo de cavalo, enquanto ia afrouxando meu uniforme apertado. Olhei para meu reflexo em uma das paredes de vidro daquele andar, admirando meus fios caírem como cascatas em ondulações leves e belas. As madeixas rosadas ganharam forte contraste em meu macacão cinza escuro. – O grisalho estava encostado no batente da porta de seu escritório. Braços cruzados. O rosto, como sempre, coberto por aquela maldita máscara negra, do nariz ao pescoço. Dizem que ele esconde uma terrível cicatriz, que ganhara durante uma batalha antiga.
                 Sem perder a pose, o alcancei, recebendo aquele olhar zangado de sempre, mas eu conseguia ler suas emoções apesar dele tentar escondê-las. Ele se importava comigo, e não com o que eu fazia. O pouco do seu rosto que estava à mostra estava meio vermelho e suado. Ele não estava em missão, o que me leva a crer que ele estava apenas preocupado, nervoso. E advinha quem era um dos motivos para mais rugas em seu lindo rosto?

— Sakura – disse, e soou como um cumprimento.

— Kakashi-sensei – descruzou os braços e adentrou na sala. Lhe segui. — Eu não iria deixar que eles saíssem impunes. – Fechei a porta.

— Eu esperava isso do Naruto, porque geralmente quando dou uma ordem você segue, mesmo não concordando. Me surpreendeu hoje.

— Sabe que fiz o certo, ele seu pessoal traficou e vendeu gente como quem negocia bananas. Matar apenas o responsável e não seus campangas não seria o suficiente. O mal deve ser exonerado por completo! – insisto numa pose firme e séria.

— Matar já é um problema, e uma chacina como essa pode chamar atenção e causar mais problemas... – ele massageia as temporas. Estressado como sempre.

— Eu não vou ficar parada sabendo que eu poderia ter feito algo, como sempre faço. Dessa vez eu fui e fiz!

— Estou realmente considerando em tirar vocês dois do esquadrão... – suspirou, indo até o outro lado da sala. Segurei o ar no peito, correndo os olhos pela sala pouco iluminada. A mesa, com sua bagunça de papéis, de sempre. O sofá no recanto, com uniformes jogados e cartuchos vazios. O armário dele de armas com sua led vermelha sinalizando estar trancado. Kakashi estava passando tempo demais nesse cubículo.

— Sabe que precisa de mim.

— E é isso que está assegurando seu lugar, por enquanto – respirei fundo. Era a minha deixa. Girei os calcanhares, para enfim sair dali, quando ainda escuto algo. — Eu confio nas suas intenções, mas não nas suas escolhas. – O avistei na penumbra, ainda de costas para mim. — O meu maior erro foi ter criado laços com vocês.

— Sempre voltamos pra casa. – Dou de ombros.

— Mas nunca são os mesmos de quando saíram. – Meus olhos caíram para o chão. — Essa vida, esse trabalho, mudou tudo em vocês.

— Nós nos tornamos o que queríamos, você não tem nada a ver com isso. Somos adultos, e já éramos antes mesmo de você nos recrutar.

— Você era a que menos merecia estar aqui... – virou-se. Seus olhos, sua expressão, ele falava amargo. Eu poderia até sentir na língua o gosto de suas emoções. — Eu lhe tirei o que você tinha de melhor.

— E o que era?

— Você teria tido um futuro melhor como médica.

— Você não sabe disso, e eu sinto que faço mais diferença destruindo esses merdas do que faria custurando feridas dos outros. – Respondo sinceramente, o olhando no fundo dos olhos. Kakashi me vê como uma criança, e sempre joga na minha cara o quanto se arrepende de ter me aceitado na organização.

— Eu te tornei uma assassina, é disso que você sente orgulho? – ele estreita os olhos.— E assim que sente que faz a diferença?

— Eu já aceitei o que sou a muito tempo – gritei. — E isso é problema meu — e sai o mais rápido que pude.

                 Kakashi era careta as vezes, nem parecia ter a reputação que tinha. Ele as vezes parecia um cordeiro em pele de lobo. Talvez a idade esteja fazendo ele refletir na vida que escolheu levar, mas por que refletir suas opiniões nos outros desnecessariamente?
                 Eu já sabia do que esse trabalho se tratava quando entrei para o grupo. Além disso, alguém precisa fazer o trabalho sujo. Muitas pessoas andam livres e seguras por aí com nossa ajuda, porque damos um fim no mal de uma vez por todas. O sistema é burocrático e falho demais para praticar a verdadeira justiça. E é por isso que existimos, e para mim o resultado final basta. Irei para o inferno com o maior sorriso do mundo.








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Me Beije ou Me Mate | sasusaku;Onde histórias criam vida. Descubra agora