Capítulo Dezesseis

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          Os porta-retratos ainda continham as mesmas fotos. Sua organização e perfeccionismo podiam serem notados nos primeiros detalhes de sua sala, a pilha de pastas em cima da mesa, as canetas em fileiras, seus equipamentos em ordem decrescente por tamanho e especialidades nas bancadas, até as provetas. A música tocava baixo, ela não gostava de barulho, não sem antes algumas doses de saquê.
          Seus olhos se estreiram para mim, me avaliando rapidamente, voltando sua atenção para algo que escrevia numa pequena agenda.

— Achei que não viria. — Foi o que disse, e soava tão decepcionada. É claro que ela estava.

— Desculpe, é minha especialidade enrolar com minhas obrigações.

— Isso eu não te ensinei, e eu não sabia que me enxergava como uma obrigação.

— Você me ensinou a ter educação, e eu soube que cuidou de mim na enfermaria, então no mínimo deveria vir te agradecer.

— Tanto faz — ela puxa os óculos do rosto e me olha novamente, se erguendo preguiçosamente da cadeira. Ela fazia isso quando se sentia incomodada com alguma situação, cambalea para outra mesa mexendo em alguns objetos. — Como está lidando com as informações sobre seu irmão?

— Você sabia de alguma coisa? — lhe observei atentamente, mas eu sei que ela nunca mentiria pra mim.

— Lembro de Kakashi me rondar com perguntas sobre ele, quando decidiu partir. Ele parecia saber de algo, fazia perguntas específicas... — abre uma pasta, folheando as páginas distraidamente.

— É, já discuti com ele sobre isso. É confuso — ela para. —, me sinto idiota.

— Porquê? — continua parada.

— Meu irmão está morto, aquele assassino não é ele. — ela respira dramaticamente.

— Gosto de como enxerga a situação — é tudo o que diz, depois de muito tempo em silêncio.

— É a forma que encontrei de não enlouquecer. Preciso fazer minha parte pra resolver essa merda.

— Veio me pedir o quê dessa vez? — suspiro.

— Dá última vez que nos encontramos, você trabalhava com um sistema de reconhecimento. — Ela continua inerte, apenas me ouvindo. — Conseguiu desenvolver o programa?

— Para quê, exatamente, o usaria?

— Precisamos encontrar a Rin.

— Entendo. — Ela joga a pasta na mesa e se vira para mim. — Sakura, eu nunca julguei suas decisões, é claro que expressei meu ponto de vista sobre seus passos enquanto ainda estava aqui, mas isso é diferente.

— Eu sei o que vai dizer...

— Eu lhe dei habilidades específicas, mas também lhe dei orgulho. — Puxo o ar e o seguro no peito. — Lhe dei as ferramentas e o conhecimento adequado para utilizá-las. Uma arma só é uma arma quando é usada para ser uma.

— Você não me tornou assassina.

— Mas lhe dei o que precisava para ser.

— Você e o Kakashi são iguais, vivem tomando minhas responsabilidades para si, é irritante! — dou meia volta para ir em direção a porta, mas meu corpo é puxado para trás. Agora estávamos cara a cara, tão próximas, mas ainda tão distantes.

— Sei que se culpa por tudo, sei que se sente impotente, mesmo sabendo tudo o que tem em suas mãos.

— Eu não tenho nada... — a voz me falha. — eu só sinto dor, e...

— Eu não me arrependo de nada, eu sei que você faz o que julga ser o certo, muitas vezes não se importando com as consequências. Você era uma menina tão doce... — suas mãos largam o meu braço, e me acariciam no rosto. Eu senti a parede desmoronar aos meus pés, quando me vi puxando-a para meus braços. Tsunade-sama era para mim aquilo que chamamos de porto-seguro. Com ela não havia fingimentos, nem mentiras. Com ela era puro e simples. — Eu sei de tudo.

— Eu não consigo — sussurro.

— O quê? — me aperta em si com força.

— Me manter firme — soluço. —, todos esperam que eu seja forte, pronta para apontar uma arma pra ele...

— Ele não é mais aquele rapaz que está em suas memórias... — ela sussura de volta.

— E se nos vermos?

— Siga seu coração.








— Sigam as coordenadas, elas estão configuradas no automático, não vou poder estar online com vocês quando partirem, senão poderiam rastrear vocês, então mantenham o modo furtivo. — Shikamaru termina de acrescentar, com um olhar penoso para nós. Como se nunca mais fôssemos nos ver, e eu carregava a mesma sensação. Para onde quer que tudo isso nos leve, terá de ser assim. É o nosso destino.

— Obrigada por tudo — ele acena positivo para mim, e então Naruto faz um toque de mãos com ele.

— Devemos muito a você! — ah, sim. Muito mesmo. Foram tantas missões... Quem diria que todo aquele estresse viraria uma nostalgia como esse sentimento em meu peito.

— Cuida da Temari — sussurro mais perto. Eles não poderiam desconfiar daquela despedida.

— Pode deixar — responde baixo. — Uchiha — ele cumprimenta o moreno atrás de mim.

— Nerd da cadeira — Sasuke retribui, e eu estava por fora desse apelido. Shikamaru se afasta com um sorriso leve no rosto. Ele acreditava que conseguiriamos voltar pra casa, repetira isso muitas vezes após contarmos nossos verdadeiros planos.

— Até daqui à algumas horas. — disse por fim, quando já estava perto dos outros funcionários, que terminavam de abastecer o Quinjet.

— Prontos? — pergunto. Sasuke põe o fone e eu sigo para o painel. Naruto fecha as portas e o portão de saída no fim do túnel se abrira.

— Vamos nessa!

Me Beije ou Me Mate | sasusaku;Onde histórias criam vida. Descubra agora