Capítulo Dois

1K 121 49
                                    






E lá estava ele, em seu inseparável computador. Apenas rodeei as cadeiras próximas, e sentei na outra ponta da mesa. O ar condicionado estava na medida certa, meu corpo estava quente, a adrenalina havia disparado naquela noite, e eu só queria acalmar os batimentos do meu intenso coração.
Foi quando ele pigarreou algumas vezes. E eu sabia que ele só queria saber sobre a bronca que levei.

- Está de mal humor? - me mantive quieta, tirando as luvas pretas de couro. - Acho que isso é um sim...

- Cadê o Naruto? - retirei da coxa minha Glock nove milímetros, esvaziando-a.

- Foi ajudar o Sasuke, ele acabou de chegar - encarei o moreno com um sorriso. - A cara dele pelas câmeras não estava nada boa, melhor você não encher o saco dele hoje!

- Eu não encho o saco de ninguém, Shikamaru, eu só tento ser legal com ele! - dei uma breve olhada em minhas unhas pintadas de vermelho. Algo me dizia que Sasuke gosta dessa cor.

- Acredito em você! - sorriu. Apenas revirei os olhos. Levantei-me levando minhas coisas para um dos armários de armas e equipamentos que ficavam ali. Digitei a senha rapidamente, estava faminta, queria demorar menos possível. Quando a porta da sala se abre, passando por ela o loiro, com uma sacola na mão esquerda; e um moreno de cara fechada logo atrás. - Demoraram!

- Tive que passar na lanchonete pra pegar uns lanches! - o moreno largara sua mochila no chão, caminha até a cadeira em que eu estava sentada e se acomodou ali, em silêncio. - Como foi a bronca do Kakashi-sensei?

- Estressante, ameaçou tirar à mim e você do esquadrão! Mas deve ser a menopausa...

- Você ainda me mata, Sakura-chan! - Naruto cai na gargalhada.

Com um banco que estava ali do lado, pus meu pé, erguendo minha coxa sensualmente, enquanto desejava que ele estivesse com o olhar em mim. Comecei a desprender meu coldre da coxa, o guardando logo em seguida. Fechei a porta do grande armário, e me virei rapidamente, dando para capturar o rosto do moreno se virar na mesma velocidade. Ah, Sasuke, você não me engana mais...

- Mas relaxa, lembrei à ele o quanto sentiriam a sua falta.

- Eu não iria reclamar se não ouvisse mais o Naruto gritando pelo os cantos! - Shikamaru provocou, e o loiro fez o quê? Isso mesmo, gritou.

- EU AINDA VOU DESCER VOCÊ NO PAU, SHIKAMARU!

- Flertem em outro lugar, por favor - comentei desfilando voltando para a mesa, pegando a sacola da mão dele. - Obrigada!

- Vai com calma, comprei pra todo mundo! - reclamou, me ajudando a distribuir os lanches pela mesa.

Todos pegaram um hambúrguer, menos o moreno carrancudo. Sentei-me ao seu lado, e Naruto fez o mesmo com a cadeira enfrente a minha. Cruzei as pernas, relaxando o corpo na cadeira, e virei a cadeira giratória para seu lado.

- Devia ao menos experimentar, está gostoso... - desci os olhos pelo o seu corpo, o uniforme preto lhe caía muito bem.

Seu corpo malhado, os músculos marcados na roupa, seu jeito bruto de agir, sua expressão arrogante... Tudo nele o deixava gostoso. Ele era minha perdição.
Subi os olhos rapidamente, pois estava o revistando por tempo demais. Seus olhos negros estavam opacos, concentrado em mim. Ele realmente estava num péssimo humor. Desviei daquele olhar pesado, me dedicando apenas à terminar a refeição.

- Concordo, você está com fome - Naruto concluiu.

- Estou? - ouvi o moreno responder. Só o grave de sua voz rouca me excitava...

- É, sabe o que dizem sobre cara feia... - Shikamaru segurou o riso, e eu quis ter uma arma no momento para enfiar o cano dela no reto desse idiota. Como ele ousa chamar o Sasuke de feio? Apenas revirei os olhos.

O moreno apenas bufou se levantando, deu passos grandes buscando sua mochila jogada no chão e depois até a saída, e então se foi. Droga!

- Você pedindo pra morrer! - Shikamaru avisou.

- As pessoas andam muito tensas por aqui, isso sim, dattebayo! - dei a última mordida e agarrei uma das garrafas de água. - Não quer a Coca-Cola?

- Não, mas valeu por ter comprado. - Segui para a saída da sala. - Se precisarem de mim, estarei na academia.

Não me julguem. Me tornei uma pessoa antissocial depois dos vinte, só não tanto quanto o Sasuke. É complicado.
Quando tudo a sua volta precisa de uma estratégia, um plano de fulga, um plano 'b', aquela vida corrida de quem faz inimigos por aí... Você tem receio até para ir tomar de sol na sacada, podendo levar um tiro de um sniper a qualquer momento. A minha vida, ou melhor, a vida que tenho era melhor ser vivida estando sozinha.
A questão é, que não dá para se ter uma vida normal, quando as coisas ao seu redor ficam violentas. De repente, alguém que você ama pode morrer ao seu lado, e você só perceberia quando o barulho da bala atravessando o crânio ensudercesse seus tímpanos.
Não se dá para ter uma vida normal, quando você descobre que o mundo que você vive não é tão simples como fazem você pensar que é. A vida é mais que ir para uma boa escola, viver numa casa grande e confortável, ir para uma boa faculdade, ter bons amigos, um emprego que pague bem, e um marido e filhos. Do outro lado do mundo, ou na rua ao lado da sua, uma criança desaparece enquanto brincava no quintal de casa; uma mulher é levada por um carro estranho após sair do seu trabalho e nunca mais foi vista desde então; um policial é morto num acidente de carro; o jatinho particular do juíz some, após dar uma sentença justa à um criminoso de elite; um jornalista é preso depois de publicar uma manchete esclarecedora sobre a política de seu país.
E demora para entender o que tudo isso significa, ou o que você pode fazer para trazer a justiça que todos precisam. É horrivel, você passa a sua infância com uma perspectiva, inocente e sonhadora, e em um instante, a bolha estoura, fizeram você acreditar numa mentira, numa fantasia boba de "a vida é bela". Eu não sou a melhor pessoa do mundo, eu já matei e fiz coisas que eu não me arrependo, porque era necessário. É assim que se resolve algumas questões.
Contudo, não vou mentir e dizer que todo esse meu lado surgiu com o convite de Kakashi Hatake. Meu senso de justiça é militante e afiado, eu nunca enxerguei a dor como uma forma de seguir enfrente, e acreditar que um dia ficaria mais fácil, como a minha família fez, quando meu irmão foi morto por uma gangue idiota de rua. Eu sou diferente. Sempre tive uma força de vontade maior do que eu poderia controlar, e essa foi a razão por eu me tornar quem sou hoje, porque eu nem sempre fui assim.
As pessoas nos chamam de assassinas, mas quando se existe o anonimato, descobrimos o agradecimento delas. O mundo é dividido entre o certo e o errado, e o próprio homem é quem decidiu o que se encaixa em quê, sob suas vontades. E eu, Sakura Haruno, nunca irei me render para um homem. Nós vivemos nas sombras, nós não existimos.

- Dez e vinte e sete... - o relógio digital na parede marcava. Abri o guarda roupa, achando rapidamente o short de ginástica. Precisava evaporar essa raiva de mim.

A resolução é, que Kakashi era um homem muito amargurado. Ele se culpa por tudo, coisas que as vezes ele nem estava envolvido. Ele sempre sente muito por tudo e por todos. É fissurado em querer proteger todo mundo, mesmo não podendo.
Contudo, como disse à ele mais cedo, eu sou adulta e responsável pelas minhas escolhas. - Foi por isso que entrei naquele carro, fortemente armada. Sempre jurei à mim mesma fazer o que eu achava certo, e sempre dar valor às minhas intuições. Dormirei tranquila sabendo que aqueles merdas viraram .
Entrei na sala com os equipamentos de treinos, mais ao fundo avistei o saco de pancadas, e fui até lá. É a minha escolha favorita, quando não tem ninguém para derrubar no ringue.



©

Me Beije ou Me Mate | sasusaku;Onde histórias criam vida. Descubra agora