capítulo 5

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Já comecei o dia com dor de cabeça, a primeira coisa que fiz quando acordei foi correr preparar um chá de capim limão.

A caminho da cozinha reparei que uma das gatas fez cocô fora da caixinha de areia, com muita raiva interna tive que juntar e lavar o chão que eu já havia lavado no dia anterior. Bola pra frente.
Peguei todos os sacos de lixo da casa e saí de pijama a caminho das lixeiras do condomínio.

Chegando da escadaria, vi a porta de um dos meus vizinhos entreaberta. Eu nunca tinha visto ele por completo, mas imaginava que era um homem pela voz e pelos rápidos vultos entre os corredores do prédio. Curiosa, é claro, espiei sutilmente dentro da casa e dei de cara com uma mulher que aparentava ter seus 50 anos. A moça que aparentava estar discutindo com o cara encostada próxima a porta com a mesma entreaberta, percebeu minha presença, me encarou com feição de nojo e bateu a porta do apartamento rudemente.

Levei um pequeno sustinho e comecei a rir sozinha pela reação da mulher. Após descer o lance de escadas, vi uma movimentação um tanto estranha no condomínio. Gente entrando, saindo, conversando, rindo, crianças correndo, crianças pulando e gritando, cachorros soltos no quintal. Não entendi nada.

Ah. Véspera de Natal. Meu condomínio não estava decorado e eu não podia enfeitar minha casa porque minhas lindíssimas gatas detonariam tudo, então esqueci completamente da data nesse dia.

Joguei todos os sacos de lixo nas latas certas de reciclagem, porque corretíssimamente o condomínio tinha uma política rígida sobre separação de lixo, e quem não separasse teria que pagar multa.
Quando lembrei que eu poderia acidentalmente esbarrar com o neto da Dona Cecília, dei as costas e tentei correr pro apartamento. Não deu nem tempo. O bendito estava vindo como um pedaço de mal caminho, todo arrumado, em direção ao mesmo bloco que o meu. Ele estava levando sacolas da padaria, então provavelmente era o café da manhã dele e do irmão.

Me escondi atrás de uma árvore perto da lixeira e esperei que ele fosse na frente até despistar ele. Para a minha benção matinal, a filha de 6 anos da vizinha conservadora (que ironicamente, me amava apesar da "mãe" dela me chamar de depravada, satanista e mais um milhão de coisas que esse tipo de gente diz)  começou a pegar na minha roupa e me chamar pra brincar com ela.

Na hora deu um pouco de raiva, porque nisso perdi o Pedro de vista. Mas disse pra ela que eu ia tomar um banho e depois descia pra brincar com ela. Ela insistiu em ir pro meu apartamento comigo pra brincar com as minhas gatas e com a minha cachorra, não consegui recusar e levei a menina junto.

Quando achei que Pedro já havia chego no apartamento do irmão dele pelo tempo que já havia passado, subi correndo as escadas com a Suzi (a filha da varoa, digo, vizinha conservadora) que não entendeu nada do que estava acontecendo, só subiu rindo feito a criança que era e eu ria junto.

Ali estava ele, na frente do apartamento 503, curiosamente ou não, como vocês já esperavam, o mesmo apartamento que a mulher bateu a porta de forma agressiva. Aparentemente, um dos pequenos sacos de açúcar que Pedro comprou acabou estourando quando ele estava entrando em casa.

Eu queria fugir e eu ia, pra que nem ele e nem o irmão me vissem. Mas então a benção que é a menina Suzi, para me tapear, começou a apontar para o Pedro e dar risada. Soltou da minha mão e correu em direção a ele:

— Meu Deus, tio! — Ela riu de forma debochada — Como é que cê fez isso?

Ele, agachado, logo olhou pra ela e me viu atrás dela, deu risada, e sentou no chão.

— Longa história, pirralhinha. — pegou um punhado de açúcar que estava no chão e ameaçou a jogar nela.

— Ah, para de brincadeira tio! — me espantei com a menina e dei risada — Acho melhor cê já juntar logo isso aí que senão vai dar formiguinha.

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