capítulo 18

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Como dizia Daiana. Sexta-feira, dia de sair, dia de balada, dia de loucura, dia de pegação e mais um monte de besteiras que ela ama falar pra me fazer rir. Depois de um longo dia de trabalho, monótono e cansativo, sem nem ter tido tempo pra almoçar, fui pra casa me arrumar para o happy hour do dia.

Como amo dar detalhes, vesti uma saia cós alta num jeans claro, uma camisa vermelho escuro transparente com um cropped bordô e um coturno também bordô. Fiz babyliss no cabelo e passei a maquiagem de sempre, preferi não abusar da sorte pra não me estressar e no fim sair uma merda.

Eu e Daiana nos encontramos na metade do caminho da casa de ambas e pedimos um Uber para o pub que escolhemos. Quando chegamos, Pedro e Yumy já estavam nos esperando encostados no bar. Eles estavam rindo distraídos conversando, mas assim que repararam em mim e em Daiana se espantaram.

— O que foi? Estamos muito feias? — Daiana perguntou dando risada enquanto os cumprimentava.

— Pelo contrário, vocês estão lindas! — Yumy olhou pra Daiana de cima a baixo, ela estava vidrada, mas então deu um cutucão em Pedro que me encarou por alguns segundos — Num é Pedro?

— S-sim! — Ele gaguejou tímido.

— Vocês estão lindos também! — Sorri pra eles me sentindo lisonjeada.

— Yumy, está ouvindo essa música? — Daiana se aproximou de Yumy e pegou na mão dela, a arrastando para a pista de dança — Vamos, vamos dançar.

Daiana fez de propósito, quis me deixar sozinha com Pedro.

— E como está a Dona Cecília? — Olhei pra ele que parecia estar com um olhar vazio.

— Ela está bem melhor. Já paramos o tratamento da inalação. — Ele deu um sorriso breve, logo murchou de novo, com o mesmo olhar vago.

— Então o que está te preocupando? — Falei calma, olhando para os olhos dele, que então se dirigiram a mim.

— Durante nove anos da minha vida, eu nunca soube qual carreira eu gostaria de seguir realmente. Eu fiz um curso técnico de fotografia e ganhei um diploma porque eu gostava disso, mas não é o que eu quero ser. É um hobby, pra mim é como um hobby. — Ele respirou fundo e bebeu um gole de energético.

— Tem algo que você goste ainda mais do que fotografia?

— Eu gosto de escrever. Gosto de ler.

— Nunca considerou fazer Literatura? — peguei um copo de energético pra mim também — É um curso ótimo e que tem muitos campos para escolher num futuro próximo.

— Eu já pensei muito sobre isso. Mas não sei, acho que demorei tanto tempo pra pensar em seguir uma carreira que acabei ficando confortável assim.

— E por que agora resolveu pensar nisso? — Olhei pra ele que estava com uma aparência abatida.

— Não sei... — ele dessa vez pegou uma garrafa de cerveja do balcão e tomou uma golada que parecia que estava dez anos com sede — Depois que vi aquele seu amigo todo engravatado, com uma maletinha, parecia ter a minha idade e ter o triplo do dinheiro que eu tenho, fiquei pensando que poderia ter sido eu se eu não tivesse me enrolado...

— Ah, Pedro, não fala assim! — cheguei mais perto dele e coloquei o meu braço envolta de sua cintura, tentando o confortar, ele olhou pra mim arregalando os olhos, surpreso com o meu abraço — Não se compare a ele, a gente nem sabe se ele tem o que tem hoje por esforço próprio ou por privilégios familiares. Nem todo mundo tem a mesma oportunidade, vai ver o seu destino era trabalhar na livraria mesmo e poder me ver todos os dias...

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