capítulo 10

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Nos dias 28, 29 e 30, nem saí de casa, apenas dei continuidade ao vestido que estava costurando e me afastei do celular para dar um ar para a saúde mental. Arrumei a casa, fiz terapia online com a minha psicóloga, inventei novas receitas veganas, descobri novas músicas.

Já era dia 31, véspera de ano novo. Eu ia passar o ano novo em casa mesmo, já que tenho minhas petfilhas pra cuidar e Daiana tinha viajado para visitar sua irmã na Irlanda.

De madrugada, como eu não conseguia dormir, tomei calmante e chás para insônia, fui acordar já eram 14h da tarde. Tomei um banho e fiz novas receitas. Uma torta vegana de geleia de morango caseira, um empadão vegano de palmito com feta cheese e risoto de palmito. Deixei tudo pronto para a minha ceia de ano novo solitária.

Resolvi abrir o Facebook e notei que havia uma nova mensagem pendente. Abri o chat e vi que era Yumy.
Ela perguntou se eu topava ir numa festa com ela, já que Daiana mencionou que eu ficaria sozinha naquela noite.
Eu respondi que não podia, que eu tinha que cuidar das minhas gatas e da minha cachorrinha. Ela concordou e disse que então ia para a minha casa passar o ano novo comigo, não me opus e disse pra que ela ficasse a vontade.

Yumy chegou cedo, enquanto eu arrumava a mesa pra jantarmos. Ela vestia uma camisa branca com diversas pérolas espalhadas e uma jardineira jeans, nos pés, uma sandália preta de salto bem grosso, eu amei, ela estava impecável.

Eu vestia um vestido de alcinhas, de tecido leve, meio branco meio creme, ele era brilhoso, como se eu tivesse jogado purpurina. Como eu estava em casa, coloquei uma sandália branca também de salto, mas muito confortável. Prendi uma mecha do cabelo com uma presilha vermelho brilhante, pra que combinasse com o delineado em vermelho que fiz no olho.

— Achei que fossem passar o ano novo com a sua avó... Pedro disse que ela está doente.

— Pois é, ela está... — Yumy fez beiço — Mas alguns irmãos dela vieram do Japão pra visitar ela, como eu não sou muito próxima deles, ela mesma sugeriu pra que eu passasse com os meus amigos.

— E os seus pais? — Perguntei, como sempre, muito curiosa.

— Eles são divorciados. Meu pai mora em Santa Catarina... — ela fez uma breve pausa — Minha mãe deve ter saído com o meu padrasto. A minha família é uma loucura, amiga.

— Estou sabendo! — brinquei — Pedro me contou por cima algumas coisas.

— Acho que o Pedro é o mais são dessa família. — ela espremeu os olhos e bebeu uma taça de espumante sorrindo — Ou ele esconde os segredos dele muito bem, ele é bem reservado.

— Falando nele, ele ficou com a sua avó? — A acompanhei com uma taça de espumante também.

— Imagina se não! — ela riu — Ele não desgruda da vó Ceci.

Dei um sorriso com a cabeça baixa porque achava muito fofa a relação do Pedro com a Dona Cecília.

— Percebi que você e a Dada fizeram uma boa amizade também. — Ergui as sobrancelhas, sorri maliciosamente e continuei bebendo da taça.

— Cara... — Yumy suspirou sorrindo e se encostando na cadeira — Ela é sensacional! Eu amei a vibe dela, combinou muito com a minha.

— Concordo! — falei sorrindo — E eu tenho certeza que é recíproco.

Yumy me olhou nos olhos e sorriu, entendendo o recado.

— Eu tenho uma curiosidade... — olhei pra Yumy, pensativa.

— Diga! — Respondeu ela rapidamente.

— Vocês adaptaram os nomes de vocês pra viver aqui no Brasil, né?

— Sim! — Yumy respondeu enquanto comia uma mini torradinha — No começo a minha avó até usava o nome dela mesmo, mas como nem todo mundo sabia pronunciar ou etc, acabamos adaptando os nossos nomes.

Concordei com a cabeça e abri mais uma garrafa de vinho enquanto jantávamos. Ficamos algumas horas conversando sobre várias coisas.

— Gostei muito de conhecer vocês... — Yumy declarou.

— Eu e a Dai? — Sorri a ela, ainda bebendo espumante.

— Sim! Eu me sentia um pouco deslocada porque não tenho muitas amigas.

— Bom, eu só tenho a Dai... Aliás, agora tenho você e a Dai.

— A maioria das minhas amigas ficaram na Coréia e no Japão, no meu trabalho só tem homem... — Ela bufou.

— No meu também. Pra você ter noção, eu não fui nem adicionada no grupo da empresa porque no meu setor só tem homem... — Dei risada, mas de nervoso.

— Nossa! Como você aguenta? — Yumy também riu.

— Não aguento, na verdade. Estou pensando seriamente em largar o emprego. — enchi mais ambas as taças — Inclusive já tenho até uma outra proposta de emprego caso eu me demita.

— Uau! — ela bebeu de sua taça e ergueu as sobrancelhas, simulando surpresa —  Queria ter essa sorte.

— E foi sorte mesmo! Uma estilista bem famosa aqui da cidade me encontrou na rua e disse que estava precisando de alguém com o meu visual na boutique dela. Fiquei de responder ela mas até agora não tive coragem. Vou esperar voltar das férias e ver o que vai acontecer no meu atual emprego.

— Pois é, bem que eu reparei na máquina de costura ali... — Yumy apontou pra máquina na sala de estar.

— Eu não gosto muito de costurar, mas a parte criativa dá um friozinho na barriga que é sensacional.

— Você é mesmo muito criativa! Já tinha reparado nisso antes.

Deu 00h01, corri pra varanda para ver as luzes no céu. A partir daí começaram a chegar diversas mensagens sobre isso também, incluindo uma de Pedro, que eu nem sabia que tinha meu número...

Pedro (online)

Feliz ano novo, metida! 🎊

Lara (online)

Feliz ano novo, Sr. Fotógrafo! 😝
Então quer dizer que andou pedindo meu número por aí, né? Fã n°1. Hahahaha!

Pedro (online)

Percebi que você tá levando a sério o apelido de metida... 😂

Lara (online)

E eu já neguei isso alguma vez? 😘

Pedro (online)

Metida demaissss.

Fiquei dando risada para o celular e Yumy deu uma espiada.

— Hummm, é o Pedro que eu estou pensando ou? — Disse ela, me cutucando e dando um sorrisinho.

— Sim! — respondi desligando a tela do celular — Ele me mandou "feliz ano novo"...

— Safado! Ele não mandou mensagem nem pra mim. — tirando sarro, ela balançou a cabeça em negação.
Fiquei corada e apenas engoli em seco. Não sabia nem o que responder — Vou mandar mensagem pra ele perguntando como está a vó Ceci...

Yumy mandou mensagem a Pedro mas ele acabou não respondendo, então ela ligou para ele. Após a ligação, aparentemente Pedro disse que era bom que Yumy voltasse logo para que Dona Cecília não se preocupasse, Yumy concordou e logo me disse:.

— Tudo bem se eu te deixar? — Ela pôs as mãos nas minhas, chamando minha atenção.

— Claro, amiga! Sem problema nenhum. — segurei suas mãos também — Mas espera só um pouquinho, vou separar um pouco das comidas pra você levar pra Dona Cecília e pro Pedro!

— Olha, eu não vou recusar porque estava tudo uma delícia, hein! E eu nem sou vegana. — Ela me ajudou a pegar algumas embalagens de plástico para colocar as comidas.

Yumy me deixou e foi pra casa. Organizei as coisas, lavei a louça e fui dormir, afinal, já era tarde.

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