Chegamos no meu apartamento pela madrugada, Suzi ainda dormia bem, enquanto Yumy pegou no sono no sofá assistindo How I Met Your Mother, Daiana preparava um chá de camomila para todos nós.
— Eu vou pegar um colchão inflável pra você, amiga! — Falei a Daiana enquanto caminhava até a dispensa.
— Obrigada amiga, ficou tarde pra voltar pra casa e acho que amanhã de manhã ainda precisarão da gente aqui, então melhor ficarmos...
— A Yu-mi dorme em qualquer lugar, Santo Deus! — Pedro disse a encarando.
— Ela dormiu assim que chegamos, então é normal? — Daiana perguntou dando risada.
— Cala a boca, Hyun! — Yumy disse despertando do soninho.
— Ih, começou... — Pedro deu risada e colocou chá em sua caneca.
— Gente, eu arrumei o quarto pra vocês duas, podem ir se deitar lá se quiserem, eu e Pedro ficaremos por aqui! — Disse já de pijama e com os dentes escovados, pronta para pegar no sono logo.
— Claro, vamos lá... — Daiana pegou seus pertences enquanto Yumy levantava lentamente do sofá e esfregava os olhos, ainda com muito sono.
Pedro tirou da bolsa um agasalho para dormir, eu achei muito fofo e dei uma risadinha bem baixinho. Apesar de eu estar feliz por ter boas amizades perto de mim, a situação toda de Suzi me deixou arrasada. Com um pai que não se lembra da minha existência e a morte da minha mãe, eu me sentia muito solitária, porém vitoriosa por ter chego aonde cheguei por mérito próprio, estudando muito e trabalhando muito, mesmo tendo aceitado a ajuda dos meus avós para manter a minha própria casa. Apesar disso, eu me olhava no espelho e não me reconhecia, sabe a sensação de não saber quem você é? Eu parecia não ter uma identidade, como se eu fosse outro alguém me observando. Eu tentava dizer a mim mesma "você consegue, você é importante", mas nada saía. Eu realmente achava que eu não era boa o bastante ou que eu não gostava o tanto que eu deveria de mim mesma, assim eu me recusava a me entregar a alguém, e tudo era tão rápido dentro da minha mente, em um momento eu queria estar perto de Pedro, fazer coisas que casais geralmente fazem, mas em outro, eu não me imaginava vivendo uma vida ao lado de alguém, porque eu era tão instável, não conseguia imaginar Pedro sofrendo ao meu lado com as minhas crises existenciais, me sentia mal por ele.
Segurei o choro e disse a Pedro que ia tomar banho. Ele se deitou no sofá e pegou o celular, estava lendo um livro online.
Entrei no banheiro, me despi, e no momento em que fui jogar as minhas roupas no cesto de roupas sujas, acabei as derrubando dentro do box, no piso molhado. As roupas ficaram encharcadas, pendurei algumas peças em espaços vagos no banheiro, e outras coloquei no cesto mesmo assim. Liguei o chuveiro e molhei o corpo e o rosto, até que passeando com o olhar pelo banheiro, reparei que eu não havia pego toalhas. Se fosse em qualquer outro momento, eu provavelmente sairia do banheiro correndo pelada, mas com tanta gente em casa, impossível!
Resolvi abrir a porta do banheiro devagar e ver se Pedro estava deitado e se tinha visão de onde eu estava, e sim, ele tinha.
— Lara? Precisa de alguma coisa? — Ele olhou em minha direção rapidamente.
— N-Não... — Respondi nervosa, mas decidi abrir o jogo — Na verdade sim! Eu meio que esqueci de pegar toalha...
— Meu Deus! — Ele riu e passou a mão no cabelo, mas imediatamente se levantou — Aonde as encontro?
— No varal, na lavanderia. Por favor! — Eu dei um sorriso amarelo, morrendo de vergonha. Fechei a porta do banheiro e me peguei pensando no corpinho de Pedro junto ao meu no banho. Imediatamente briguei comigo mesma pela promiscuidade num momento como esse.
Pedro deu algumas batidinhas na porta bem de leve para não acordar as meninas:
— Aqui, madame... — Ele me deu duas toalhas e sorriu — Vou cobrar, mais tarde.
— Muito, muito obrigada! — Agradeci mostrando apenas a minha cabeça enquanto escondia o resto do meu corpo atrás da porta. Fiz sinal com o dedo para que ele se aproximasse, então quando chegou mais perto, dei um selinho demorado.
— Não, não, não... — Ele disse sério — Não faz isso, Lara! Você sabe que com você eu não consigo me controlar.
— E por que precisa se controlar? — Não sei o que passou na minha cabeça, não sei se por um momento eu me senti em uma série adolescente ou em "50 Tons de Cinza", mas espontaneamente puxei o colarinho de sua camiseta e o dei um beijo intenso como todos os que havíamos dado até o momento.
Sim, eu estava nua. Eu não estava sedenta por sexo, não queria transar com ele simplesmente, sem mais nem menos, era o jeito como ele me tratava, tão puro e singelo, a aparência dele, tudo nele me atraía e fazia o meu corpo colar no dele, como ímã.
Tirei as roupas dele enquanto nos beijávamos calorosamente e então prosseguimos já no chuveiro. Os toques, os beijos, o rosto, os lábios, tudo nele me fazia não querer parar. Deixando claro que não fizemos nada sem camisinha, sexo seguro sempre.
Depois desse episódio aleatório e inesperado, deixamos o banheiro realizados. Coloquei um colchão no chão do quarto onde Suzi dormia e me deitei nele, Pedro se comprometeu a organizar a cozinha. Fiquei um tempo chorando baixinho pensando em Suzi, até que Pedro se deitou no colchão ao me lado e segurou minha mão enquanto me abraçava. As coisas estavam ficando cada vez mais difíceis.
Pela manhã, o despertador tocou cedo. Pedro já estava acordado, já havia até preparado um café da manhã para todos nós. Depois de trocar de roupa, separei algumas que eu havia comprado para Suzi e a acordei. Eu não fazia ideia de como cuidar de uma criança, especialmente de uma da idade dela.
— Bom dia meu amor! — Dei um beijinho na testa de Suzi — O que acha de tomar café e então tomar um banho e vestir roupas novinhas em folha? Deixo você escolher qual quer vestir...
— Bom dia tia... — Ela abriu um sorrisão e brincou — Espera tia, acabei de acordar, deixa eu respirar...
Eu dei risada e então dei um beliscão de leve em seu bracinho. Enquanto Suzi levantava em seu tempo, resolvi abrir a porta do quarto de hóspedes e dar uma olhada em Yumy e Daiana. Tão fofas. Daiana estava com o rosto apoiado no peito de Yumy enquanto Yumy dormia de boca aberta e com uma das pernas em cima de Daiana. Pareciam mesmo com um casal.
Dei "bom dia" a Pedro e agradeci pelo o café da manhã. Ele disse que pegou algumas coisas no apartamento do irmão dele, fiquei chocada, mas agradecida, já que meu estoque estava vazio. Logo cedo, recebi uma mensagem do policial da noite anterior. Aparentemente ele teve notícias dos parentes de Suzi, mas segundo ele, todos sem exceção alegaram que a menina não é parente de sangue e tampouco é registrada com o sobrenome da família. Fiquei sem entender e um silêncio ecoou na minha cabeça. Resolvi ligar para o policial na mesma hora.
— Oi, desculpa ligar agora, mas eu não entendi... O que vai acontecer com a Suzi, então? — Perguntei nervosa e preocupada.
— Bom, nós estamos investigando com afinco todas as informações dadas pela família. Por enquanto, depois de checar o DNA das drogas encontradas na noite passada, bateram corretamente com o da tia da menina e de seu marido. O que temos até agora é que o marido fugiu com o dinheiro das drogas após esfaquear sua esposa e está foragido. A mulher em momento algum mencionou ter uma sobrinha, quando perguntada sobre, ela disse que não sabia. A situação toda está bem difícil de entender, então infelizmente enquanto a situação toda se resolve, precisaremos manter a menina no conselho tutelar ou em algum lar temporário.
— Entendi... E como funciona o lar temporário? — Perguntei interessada em me eleger para cuidar de Suzi.
— Acabou chegando mais evidências por aqui, entro em contato mais tarde e te dou todas as informações necessárias! Vou te mandar alguns links sobre.
Desligamos a ligação e fiquei grata por ter sido um homem tão bom o policial que está cuidando do caso de Suzi. Atencioso e determinado, nós com certeza estávamos em boas mãos!
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Tuas Reticências
RomanceNa vida a gente aprende que existe uma pessoa certa pra cada um de nós. Mas alguém já te disse que essa pessoa é você? A gente aprende que existe alguém que vai nos ensinar como é o amor. Mas alguém já te disse que você pode aprender sozinha? També...