- O pai de vocês é veterinário. - Emerson falava pausadamente, olhando para todos os lados enquanto dirigia. - Eu sei que foi uma grande surpresa para vocês, e sinto muito pela mãe de vocês ter escondido isso.
- Estamos bem. Não precisamos nem que ele nos dê um motivo para tê-la deixado. - Jason segurava firme a porta do carro. Como alguém do conselho tutelar podia dirigir de forma tão imprudente?
- Vocês tiveram uma infância turbulenta com ela, hã? - Dantes, finalmente fez a ultima curva, de acordo com o GPS, e mais a frente, numa casa branca de dois andares, um homem se prostrava, com as mãos nos bolsos, olhando para o chão.
- É ele? - Joel disse, se ajeitando no banco de trás.
- Sim.
Quando o carro parou ao seu lado, ele fora abrir a porta, mas Jason não o daria tempo para isso. Com seus dois filhos, já com 16 anos a sua frente, o homem, onde somente o cabelo mostrava a idade, sorriu amavelmente.
- Olá, eu sou Joel Marsh. E este é o Jason.
- Olá meninos. Entrem, temos muito o que conversar.
- Ligarei quando os papeis ficarem prontos, Sr. Foster. - Dantes consentiu para os meninos, erguendo a palma da mão, então entrou no seu pequeno carro amarelo e foi embora.
A casa era formidável, diferente da escura e mal acabada casa dos Marsh. Os meninos esperaram na varanda até que Foster entrasse primeiro e os convidasse.
- Pelo menos ela os educou. - Ele disse ao entrarem.
- Quem nos educou foram nossos professores. - Jason falou, pela primeira vez.
- Ah, achei que era mudo, já tava me perguntando se deveria aprender libras.
Por mais que a situação inicialmente parecesse tenebrosa e inquietante, os três riram. E Foster abraçou os dois com força.
Depois de preparar um bom café e oferecer algumas fatias de pão, Foster começou a contar sobre sua vida, pois já sabia o suficiente da mãe dos garotos para ouvir o quanto devem ter sofrido nas mãos dela.
- Eu não tenho minha própria clinica, sou veterinário na "Patas do Bem", um pequeno consultório na cidade. Era casado a 22 anos com uma mulher incrível, que por Deus eu desejei que fosse a mãe de vocês, e não aquela... Espero que para onde ela foi, se foi a algum lugar, que ela aprenda alguma lição de como ser humana. Vivian, minha esposa, faleceu a 3 anos, ela adoeceu...
- Eu sinto muito. - Joel disse, vendo que aquilo o abalava muito.
- Ta tudo bem, por que eu vou superar com vocês perto de mim.
- Por que nunca ficamos sabendo de você? Por que ela escondeu isso?
- Quando eu conheci sua mãe, ela ainda era uma jovem adorável, boa, sonhadora. Mas então ela perdeu seus avós e eu me tornei alguma espécie de monstro por que ela não me deixava se aproximar. Não deixava ninguém se aproximar. Quando ela foi embora, sem dizer a ninguém, ela foi com vocês já crescendo dentro dela, sem eu sequer ter conhecimento disso. Eu descobri quando vocês tinham 3 anos, por um amigo em comum nosso. Ele me disse coisas horríveis sobre ela, como ela estava agindo, o que ela fazia.
- Crescemos sozinhos, uma vizinha, uma senhora, quem nos cuidava, sempre escondida, com medo que a nossa mãe fizesse algo a ela. - Jason contou, olhando para o copo de café preto.
- Sua mãe se envolveu com muitas pessoas erradas. Ela mesmo se tornou uma. Drogas, crimes, violência... Eu não acreditava que ela era a mulher que eu amava na juventude e a mãe de vocês. Então, como ela dava pro desgraçado do Barner, é, o delegado, ele criou um B.O falso de que eu havia machucado ela e vocês, me afastando judicialmente. Eu nunca sofri tanto. Cheguei a ver vocês na delegacia, mas não me deixaram sequer gritar para chama-los. O soco no estomago que eu levei aquele dia não superou nem a dor da apêndice estourada anos depois, haha.
- Eu lembro mesmo de ter ido a delegacia quando era pequeno, mas eu esqueci conforme crescia...
- Não se culpem por nada, pelo amor de Deus. Agora podemos ficar juntos, ainda tenho dois anos até se tornarem homens e me deixarem. - Ele riu, já com tristeza no olhar.
Dalton Foster já mostrava, em poucas horas, alguém que valia a pena confiar, e aceitar como pai. Os meninos, antes apreensivos pelo futuro que os aguardava, agora sentiam um alivio imenso. Ele os tratava igualmente, mas como pessoas distintas. Os apoiava, repreendia, ensinava. Era tudo aquilo que eles jamais tiveram em suas vidas. Assim os meninos amadureceram, em dois anos, tudo que ficou para trás enquanto viviam com sua mãe, até atingirem suas fases adultas. Do contrário do que Dalton achava, eles não foram embora aos 18 anos, mas permaneceram como bons homens, trabalhadores, até os 23, quando, sem perguntar a ninguém, o mundo começou a desmoronar.

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Rua dos Mortos
HorrorNinguém imagina o que pode se tornar quando o mundo e a rotina que conhecia é alterada drasticamente. Os fracos podem se sobressair sobre os mais fortes, os inteligentes podem ter mais chance de sobreviver do que os que só se preocupavam com a força...