Tranquilidade

17 5 1
                                    

       Com dificuldade para controlar o contágio, os Militares resolveram partir com os sobreviventes já resgatados. Aos poucos, caminhão atrás de caminhão se dirigiam até a base, que ainda estava em segurança. Ou era assim que eles pensavam. Sabrina dormia com a cabeça no ombro de Jason, a viagem tinha sido longa, boa parte feita em uma via de duas mãos com florestas e vegetações dos lados. Alguns sobreviventes de casas isoladas foram resgatados, mas no geral não houve muitas paradas. Era um comboio grande, com muitas mulheres, crianças, animais, não podiam por a todos em risco. 

       Ao chegar na base, a esperança final foi destroçada. Boa parte dos veículos militares se encontravam em chamas, corpos ao longo de todo o lugar, tanto de civis quanto de militares. Com receio de entrar, os primeiros veículos do comboio pararam e aguardaram algum sinal de vida dentro daquele campo de morte. De repente, o rádio de todos chiou, pedindo que prosseguissem até o galpão 7, no final da base. Aquile voz ríspida animou a todos, e o comboio voltou a se mover. Lá encontraram mantimentos sendo entregues, como comida, água, cobertores e sacos de dormir. Pediram que formassem grupos pequenos e se sentasse na grama verde ao fundo do galpão vazio, pois o mesmo já estava cheio.

- Jason, vamos ali. - Joel sugeriu um cantinho no meio daqueles sobreviventes. Muitos machucados, semblantes cansados, o medo podia ser sentido ao respirar.

- Joel, vou ver o que me entregam.

- Eu vou com você! - Sabrina se voluntariou. Inseguro, Jason aceitou.

      Ao chegar sua vez na fila dos mantimentos, pegaram os nomes, anotaram e entregaram a cada um uma garrafa de água, três cobertores, dois sacos de dormir e alguns enlatados, além de pão caseiro. Jason estranhou não terem obrigado a apresentarem o conteúdo das mochilas, mas não comentou nada, afinal, estava carregado de itens que com certeza tomariam. De volta ao grupo, um militar se sentava com Joel, Dalton e Holand. Ele se chamava Mike.

- Então, o que é tudo isso? O que está acontecendo? - Joel questionou, enquanto todos se alimentavam. 

O militar suspirou. - Fomos atacados pelos nossos, então, eu realmente não sei no que acreditar.

- Não dá pra ignorar a semelhança com zumbis. - O comentário veio de Sabrina, enquanto fazia uma cara feia para o enlatado.

- Zumbis? Tipo, mortos-vivos? - Jason questionou, incrédulo. 

- Sim, é isso o que são. - Respondeu ela de volta, agora com a boca cheia, e as bochechas verdes. - Eu acho que vou vomitar...

- Hey, segura isso ai! - Jason ordenou, dando risada. - Mike... Zumbis? - Mike deu de ombros.

- Não dá pra dizer que estavam vivos. 

- Isso é impossível. - Dalton murmurou, levando a mão a testa.

- Calma, pai. Não se esforce muito. - Joel disse, segurando-o.

- O que sabem sobre o vírus? Sobre quem fica infectado?

- Não sabemos de nada que todos vocês não tenham visto. Eles surgem doentes do nada, a incubação não dura nem uma hora, a causa da infecção também é desconhecida. Aparentemente é pelo sangue. Sobre quem se infecta, rapidamente se tornam febris, o olhar esbranquiçado, também não há pulso, não reagem a dor, nem parecem pensar na hora de atacar. É tudo tão aleatório. - Mike não acreditava em nada do que dizia, por mais que soubesse da verdade. Com apenas 32 anos e aparência jovial, jamais imaginaria que pessoas mortas, vitimas, se levantaram e arrancariam a carne de seus amigos e conhecidos como canibais.

- Você parece já ter sofrido muito, meu rapaz. - Dalton disse.

- É, meu senhor, eu perdi bons amigos hoje aqui.

- O que aconteceu? Como invadiram a base?

- Não invadiram. - O choque da noticia atingiu até as pessoas em volta. - Já estavam aqui dentro, eram sobreviventes resgatados. De repente um se levantou, agiu estranho, atacou uma mulher e quando fomos conte-lo, ela atacou o próprio filho, e assim o vírus foi transmitido para mais da metade dos sobreviventes, até que conseguíssemos conter. Mas muitos já haviam dado suas vidas...

- Como vamos garantir nossa segurança, com um vírus assim? Qualquer um aqui pode estar infectado e se transformar enquanto a gente dorme. - Mike abaixou a cabeça, pensativo.

- Está escondendo algo. - Joel afirmou.

- Quando os países vizinhos começaram a alertar o mundo do vírus mortal, fomos informados que era uma arma biológica. É algo injetado, de alguma forma, no coração das comunidades. Tem pessoas que não confiam nem mesmo em nós agora. Mas não restou nada da velha guarda, somos todos jovens soldados, alguns jovens demais até. Não sabemos de nada além disso.

- Desgraçados. - Jason quase rosnou, fazendo com que o pai de uma família ao lado pedisse para que fossem conversar em outro lugar, já que estavam assustando suas filhas. Eram gêmeas, como Joel e Jason. Ele resolveu anima-las.

- Sabia que - começou Jason, dirigindo-se a ela, olhando logo em seguida para o pai delas afim de permissão. - eu sou gêmeo daquele carinha ali? Não somos nada parecidos, né? Isso por que eu queria crescer num quarto só meu, na barriga da minha mãe, então cada um tinha seu quarto lá. E, insatisfeito, eu fui lá e nasci antes, 1 mês antes! Somos uma raridade, gêmeos que não fazem aniversário no mesmo dia.

- Você tem sorte então! - A menina mais nova exclamou, segurando com força o ursinho com um braço magrinho.

- Por que? - Jason fingiu uma surpresa exagerada.

- Por que a genti faz aniversário no mesmo dia, ai varias vezes ganhamos um presente só como desculpa! É muito chato!

- Não acredito! Seus pais que fazem isso?

- Sim!

- Ah, que vergonha! Isso é cruel demais. - A menina mexeu a cabeça com força, concordando, e então deram risada.

- Eu prometo que quando passarmos por isso e voltarmos para casa, vou dar todos os anos presente para as duas, okay? - Disse o pai dela, e Jason se virou, vendo que todos os quatro o encaravam.

- Não é estranho você ter tanto jeito com crianças? - Disse Joel.

- Meu filho violento tem jeito com crianças!? - Dalton exclamava, olhando para os céus. Mike só o encarava com um sorriso de canto, e Sabrina com uma expressão de estranheza. Se perguntava o que ele tinha que fazia as crianças confiarem facilmente, até que se deu conta que aconteceu o mesmo com ela, batendo na própria testa.

- Vocês são muito exagerados. Eu só tava... Argh, deixa pra lá. 

       O resto do dia passou tranquilamente, um sobrevivente conseguiu fazer funcionar no meio da tarde um rádio portátil, mas nada além de chiados veio dele, mesmo assim, ele o manteve ligado. Sabrina passou a brincar com as gêmeas, Dalton havia sido chamado para ajudar com os feridos, já que tinha trabalhado no exército como enfermeiro durante uma pandemia de gripe a muitos anos atrás. Joel, Jason e Mike foram chamados para ajudar a organizar os mantimentos e a conferir quem precisava de mais. A noite caiu, tochas e velas foram usadas para a iluminação. O frio cortava, por isso Dalton e Sabrina ficaram com os sacos de dormir, enquanto os outros três ficaram com os cobertores. Foi uma noite tranquila. Uma noite tranquila demais.

Rua dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora