Depois do Trabalho

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- Jason! Eu não te pedi para guardar aquelas caixas em outro lugar? - Marcus era dono do único supermercado da cidade com pouco mais de 5 mil habitantes, tendo como concorrente apenas duas lojas de conveniência dos postos de gasolina, e mesmo assim, tratava os funcionários como se uma bomba fosse explodir e a organização do lugar fosse salvar o mundo.

- Me desculpe, senhor. A Sabrina disse que essas caixas estavam atrapalhando.

- Talvez se você fizesse o que eu mando, QUANDO eu mando, as coisas não ficassem no caminho, ou nos lugares errados!

- Talvez se o senhor tratasse seus funcionários igual seres humanos, trabalhássemos melhor!

- O que você disse, rapaz? - Seu semblante se alterou de uma forma que Jason deu um passo para trás instintivamente. - Abre a boca e depois tem medo? 

- Eu não quero problemas.

- Mais problemas, você quer dizer! Saia daqui! Saia da minha frente!

- Ótimo! - Jason respondeu, jogando o pano sujo nos pés de Marcus e saindo rapidamente do supermercado, sob olhares de todos. 

     Sabrina, de 14 anos e filha de Marcus, gritou chamando-o do caixa, e só com o mover de lábios Jason pediu desculpas. Era o 5° trabalho que ele era mandado embora após alguma discussão, alguns inclusive com brigas corporais. Jason começava a se perguntar se não tinha puxado o sangue da mãe. Se não estava fadado ao crime, e a brutalidades. Entrou na farmácia onde o irmão trabalhava, batendo os pés, nervoso, andando de um lado para o outro.

- Obrigada, Sr. Gulard. Se sentir qualquer mal estar, não exite em vir conversar com o farmacêutico. 

- Obrigada, Joel, você é um anjo! 

- Se você é o anjo, eu sou o que, o demônio? - Jason falou, assim que a senhora saiu, com um sorriso de canto.

- Toma logo essa água e me conta o que aconteceu.

- Marcus me mandou embora, já era pra mim. Dalton vai me matar.

- Como se nosso pai fosse capaz disso. - Respondeu Joel, apoiando as costas no balcão e cruzando os braços.

- Dalton não faria mal a vocês nem se virassem zumbis. - O dono da farmácia, Holand, saiu por detrás das prateleiras e também tomou um copo d'água. - Não aguento mais ver receitas.

- Senhor Holand... - Começou Jason, pensativo.

- Nem pense nisso! Um Foster é o bastante pra mim.

- Principalmente um que não quebra a cara de velhinhas quando elas perguntam "o queee?" pela milésima vez. 

     Enquanto a piada de Jason surtia efeito, um enorme estouro pode ser escutado, e todos os três saíram para a rua para descobrir o que tinha causado isso. Era o cair da noite, o céu já estava avermelhado, buscando seu sono, e a cidade inteira se viu sem luz. A distancia, por cima das casas, podia se ver a fumaça negra subindo aos céus. 

- Não parece que foi na subestação? - Questionou Joel a Holand.

- Sim. - Holand respondeu, apreensivo. - Meninos, é melhor vocês irem para casa, Joel, ta liberado. - Holand foi voltando lentamente para dentro, fechou a porta e girou a plaquinha. Por mais estranho que aquilo tenha sido, os dois subiram na moto de Joel e foram, não para casa, mas em direção ao centro da cidade, onde as pessoas se aglomeravam numa praça.

      Chegando lá, viram um cenário de caos. Caminhões, tendas, motos, cavalos, todo o exército estava na praça, como se já soubessem de algo que mais ninguém sabia. Uma mãe chorava segurando os braços de um militar, que repetia que "ele precisava ficar em quarentena", e "que tudo seria explicado". Jason desceu da moto e foi em direção a eles.

- Com licença, o que está havendo? O que foi a explosão?

- Por favor, voltem para suas casas e permaneçam lá, é mais seguro. Liguem o rádio e vão saber o que está acontecendo.

       Outros moradores ouviram aquilo, e imediatamente começaram a correr para suas casas. Joel puxou Jason pelo braço e partiram para a casa de seu pai, no caminho, viram muitas pessoas apreensivas, olhando para a fumaça, no total breu. Ao chegarem, Foster os abraçou com força.

- Estava a ponto de ir atrás de vocês, mas sabia que tinha criado homens capazes de voltar para a casa em segurança.

- Por que esse medo na sua voz? - Joel já havia escutado aquele tom de voz trêmulo muitas vezes, tanto vindo de Dalton quanto dos clientes na farmácia.

- Todo o mundo... As pessoas... Enlouqueceram... Entrem, vão saber.

    Ao entrarem, o rádio já estava ligado próximo a janela da cozinha, e repetia uma mensagem militar, que dizia:

          "Permaneçam em casa até segunda ordem, o exército está trabalhando para diminuir o contágio o máximo possível, mas precisamos que fiquem em casa! Não obtemos informações do que é esse vírus, ele se espalhou abruptamente pelo mundo todo, cortando nossos meios comuns de contato, causando caos e inúmeras mortes em poucos dias. Se ainda não chegou até você, fechem as janelas, as portas, escolham um comodo e aguardem novas ordens. Fiquem distantes de pessoas que apresentem esses sintomas: Febril, olhos esbranquiçados, não reagem a machucados, não atendem pelos seus nomes. Atacam com violência, sem se importar com as próprias vidas. Atacam, inclusive, parentes e pessoas próximas. Pessoas nesse estado estão tornando o mundo inteiro num grande inferno, e eu digo agora a vocês, não como militar, mas como ser humano: protejam-se! Estamos chegando." 

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