Enlouquecidos

26 6 6
                                    

      Quando Jason fez 19 anos, ele conheceu uma garota online. Cabelos castanhos, olhos vibrantes e um sorriso encantador. Faziam parte do mesmo grupo de vídeo-aulas sobre engenharia elétrica. O nome dela era Amanda, e ele sentia que seus olhos jamais veriam algo tão lindo quanto ela. Não demorou para que tomasse coragem e a chamasse para conversar privadamente, e muito menos para que Amanda criasse um certo interesse. Então 1 ano se passou, e os dois já estavam namorando oficialmente.

- Oi, Amanda! - Gritou Joel, entrando no quarto enquanto Jason estava numa chamada de video com ela.

- Oi, Joel! Como vai a busca pelo trabalho?

- Consegui uma chance numa farmácia aqui perto.

- Que bom! Graças a Deus você não é brigão igual esse marmanjo aqui.

- Hey, o cara vem pra cima de mim falando merda e eu tenho que aturar?

- É assim que funciona o trabalho. - Falaram Joel e Amanda em uníssono. 

- Ok, ok! - Jason se rendeu rapidamente, e lançou um olhar mortal para Joel sair do quarto.

- Tchau, Amanda, tenho que fazer algumas coisas, até mais! - Joel se despediu praticamente com o pé fora da porta.

      Jason acordou no sofá da sala, e ainda sonolento segurou o celular sem bateria com força, sentindo saudades de Amanda. Joel já estava acordado, olhando pela janela. Dalton dormia no chão.

- O que você ta olhando? - Jason se levantou, coçando o olho, e foi desligar o rádio que só chiava, baixinho, mas só chiava. - Não estão mais transmitindo?

- Faz um tempo que eu não vejo movimentação nenhum na rua. Será que todos ouviram a mensagem e estão em casa?

- Eu não sei. - Jason abriu a porta, e um ar gelado lhe deu calafrios. Devia ser por volta das 6:36 da manhã, e o dia ia ser nublado, talvez chuvoso.

- Jason, vem para dentro. - Joel falou um pouco alto, acordando seu pai. - Desculpa pai, ainda está cedo, volte a descansar.

- Eu já dormi o suficiente. Eu quem tenho que cuidar de vocês, não o contrário. 

Joel sorriu e o ajudou a se levantar do chão.

- Já somos homens, o senhor já cuidou o bastante. - Joel sentiu que Jason havia saído, e foi até a porta ver o que ele estava aprontando. 

- Jason! - Ele ia em direção ao vizinho, senhor Philipes. Jason se virou rapidamente e pediu silêncio. Então começou a observar e dar voltas na casa, olhando pelas janelas, tentando ver sobre as frestas das cortinas. Até que viu um casal de idosos de costas, de pé na sala de estar, se mexiam de maneira quase imperceptível, suas costas já curvadas pela idade pareciam inchar junto aos pulmões. Jason pensou em chamar, mas foi conferir o vizinho da frente. Não viu ninguém, deveriam estar no segundo andar. 

- Jason! - Joel tentou chamar de novo, agora baixo, como se um grito fosse acordar os cães mais selvagens da vizinhança. Jason pediu calma novamente, e foi observar os vizinhos da direita, mas antes que chegasse a janela, escutou um vidro sendo quebrado na casa de Philipes, e voltou para ver. Joel voltou para dentro de casa e, sem entender por quê, pegou a faca de carnes da cozinha.

- Para que isso, Joel? - Dalton questionou.

- Pai, não sabemos o que ta acontecendo, fique aqui.

Assim que Jason alcançou os barulhos que cortavam a manhã silenciosa, viu o cabelo raso e grisalho da Sra. Philipes coberto de vidro e sangue, na beira da janela, e seu vizinho batendo com seu corpo nos moveis, derrubando os quadros das estantes, alucinado, se cortando, rosnando, violento. Jason entrou, já apavorado, mas querendo entender, e começou a lançar palavras de controle.

- Sr. Philipes, por favor, se acalme. Precisamos ajudar sua mulher, não sei o que houve, mas ainda podemos ajuda-la. - Foi quando Jason notou que a respiração da senhora continuava. - Senhor! - Philipes parou ao ouvir do grito, de costas, novamente respirando profundamente. Jason se aproximou, e enquanto se aproximava, na sua mente ecoava as palavras da mensagem.

             "Febril, não reagem a machucados..."

- O Senhor está sangrando muito, sr. Philipes. - Jason o tocou, e sentiu como se tivesse tocado uma panela quente.

             "Violento, não atendem pelos nomes..."

         Um espasmo fez com que Jason levasse uma cotovelada, aquela não parecia a força de um senhor de mais de 70 anos. Joel surgiu na porta, chamando por eles, e, no susto do grito, Jason foi empurrado contra o sofá, onde a Sra. Philipes caiu sobre ele, com os dentes a mostra e por fim...

            "Olhos esbranquiçados."

        Enquanto Jason lutava com ela, que igualmente não entendia tamanha força, Joel foi atacado pelo Senhor Philipes, deixando a faca cair para segurar seus ombros, sentindo a saliva cair sob seu pescoço, de onde o velho com certeza queria arrancar pedaços. Joel começou a gritar. Jason conseguiu por os pés na barriga dela, e a chutou com toda a sua força, fazendo-a bater novamente sob o parapeito da janela e cair para fora. Então foi até o senhor Philipes, pegou a faca que Joel havia trazido, e cravou nas costas do homem, que reagiu grunhindo, desafinado, se contorcendo como um bicho caçado. Jason procurou por algo para se defender, e do lado de fora viu a velhinha se levantando novamente.

- Mas que porra ta acontecendo! - Gritou, e foi até a cozinha, onde Philipes já havia lhe mostrado o fundo falso na ultima gaveta no balcão da pia, onde ele mantinha uma pistola para segurança sua e da sua esposa.

- Jason, o que você vai fazer? - Joel tentou segurar um irmão alucinado, que conferia as balas, sem sucesso. Não houve resposta.

         Do lado de fora, ouviram os gritos de Dalton. Joel correu, e Jason apontou a pistola para Philipes, já desvencilhado da faca e aprontando um novo ataque aos dois.

- Eu sinto muito, meu amigo. - Jason sentiu a dor no estomago de uma má alimentação nas ultimas 24 horas, e os olhos lacrimejaram com o que estava prestes a fazer. Philipes deu um passo, dois, lentamente, os dentes rangendo. - Muito lento, meu caro.

      O tiro ecoou, e Joel puxou a filha da vizinha, Aline, de apenas 10 anos, de cima do seu pai, enquanto ela tentava ferozmente morder sua barriga. A jogou para longe e os dois correram para dentro de casa novamente. 

- E o Jason? - Dalton perguntou, os olhos arregalados, o medo transparecendo na respiração pesada. Joel o olhou, virou-se para a porta, e ouviu mais dois tiros. 

- Ele está nos protegendo.


Rua dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora