Dois irmãos

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- J J, venham já aqui! - A mãe dos pequenos Joel e Jason não tinha muita paciência para barulhos, e nunca os chamava pelos seus nomes, tornando os dois como um só, como um filho, uma criança. E assim era sobre tudo: um quarto, uma cama, uma mochila, um caderno. Ela ainda os alimentava, mas por dezenas de vezes esquecia de um, ou do outro. Sem sequer ter um preferido. Assim foram suas infâncias, até atingirem 16 anos, e ela morrer em um acidente, onde ela mesma fora a culpada.

        Plaft!, o tapa veio como um relâmpago em meio a trovoada, todos no enterro engoliram seus choros ao ouvirem o som da palma da mão da agora viúva, acertando o jovem adolescente com toda sua ira, que veio em palavras logo em seguida. O tapa foi em Jason, e Joel só podia abaixar sua cabeça e sentir a dor de seu irmão como se tivesse sido em si mesmo.

- Eu sinto muito. - Repetiu Jason a ela, enquanto lambia os lábios rapidamente, em nervosismo, e segurava as lágrimas. No enterro de sua mãe, alguns instantes antes e a alguns metros dali, não houve choro ou emoção, ira, ou qualquer sentimento. Bem como nenhum parente conhecido veio. Era eles e o coveiro, que se lamentava sem falar diretamente com eles.

- Pobres crianças. - Ele dizia, e aquilo descia arranhando goela abaixo. - Tão novos e tendo de enterrar a mãe. Pobrezinhos.

            Quando Jason soube que ela havia morrido, ele olhou para seu irmão e suspirou. 

- O que será de nós agora? - No corredor da escola, no dia seguinte, ainda sentindo o cheiro de creme da mão da viúva, Jason finalmente deixava florescer a raiva contida. Um toque genérico de celular veio a interrompe-lo.

- Alô? - A voz de Joel, calma e baixa, pareceu assustar quem estivesse do outro lado da linha, que se recompôs no mesmo instante.

- Joel Marsh? Eu sou do conselho tutelar, Emerson Dantes. Preciso conversar com vocês.

- Está bem. Onde? 

- Já estou na frente da sua escola, entrando.

           Quando a porta de entrada se abriu, e aquele homem de terno cinza entrou a passos largos, os dois meninos pressentiram que sua jornada, só estava começando.

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