Primeiros Sintomas

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- Jason, encontrei lanternas. Elas podem ser úteis, né? - Sabrina estava animada com a exploração. Por um instante, Jason se perguntou como ela estava se sentindo e se sentiu culpado por não pensar nisso antes.

- São sim. Pilhas para elas também. - Ele respondeu, deixando que ela seguisse sozinha pelos corredores do mercadinho.

     Haviam parado por ali para abastecer, não conseguiram combustível, mas conseguiram um mercadinho fechado ainda com mantimentos. O dono já era um infectado. Assim que pegaram tudo que precisavam ou podiam precisar, partiram novamente. Evitavam ficar muito tempo parados, mesmo com cautela e silêncio, os infectados sentiam a presença e começavam a se aglomerar. Se não for esperto o suficiente, eles vão te cercar antes que perceba.

Como medida de segurança, passaram a intercalar quem dirigia e os grupos. Em um certo momento, Jason ficou de carona e Mike era o motorista. Sabrina dormia no banco de trás, junto com Cintia, amiga mais velha de Priscila, muito calada e Diego, seu filho de 16 anos.

- Mike, o que acha que faz esse vírus se manifestar em algumas pessoas e em outras não? Como vamos definir isso?

- Eu não sei. Estamos a muito tempo só na estrada, sem contato com esses infectados ou com alguma informação.

- Acha que deviamos prender um deles pra tentar descobrir alguma coisa?

- Acho isso loucura.

- Talvez ele tenha razão. - Falou Cintia, querendo expor sua opinião.

- Mãe. - O filho tentou impedir.

- Você concorda com isso? - Jason perguntou, se achava louco, mas se qualquer um desse corda, ele levaria a ideia a diante. Cintia balançou a cabeça em concordância.

- Não sabemos se quem se infectou teve algum contato com os transformados. Talvez possam ter sido mordidos, como nos filmes. Todos nós tivemos contato direto em algum momento, e mesmo assim estamos aqui, não é?

- Nunca tivemos tempo de prestar atenção em quem matamos, também. - Considerou Mike.

- Eu tive. - Jason falou, olhando para a estrada fixamente. - Quando aquelas crianças... Eu vi. Um deles tinham uma marca, um arranhão profundo na perna. Mas não saia sangue, era como se tivesse cicatrizado em horas. Eu não dei atenção por que achei que era um machucado de antes dessa... Epidemia. Mas parando para pensar agora, já vimos infectados por todos os lados e de todos os jeitos...

- Alguns até mesmo sem partes do corpo, como mãos e braços. - Mike concordou.

- Mas nenhum sangue. - Falou Cintia.

Mike parou o carro bruscamente, estavam em uma area limpa, fechado por uma mata, era seguro parar e conversar com todos.

- Jason, você precisa falar. - Ele disse, estendendo a mão em direção ao grupo confuso.

- Precisamos verificar todos. Na próxima parada, precisamos escolher dois lideres de sexos diferentes e faremos uma vistoria em todos. 

- Por que, meu filho? - Dalton questionou.

- Para que? - Disse outro sobrevivente.

- Acreditamos que... É ridículo, mas acreditamos que é transmitido pelo contato. O vírus. Um arranhão, uma mordida... Não me perguntem como funciona por que eu não tenho a resposta. Mas, olhem ao seu redor. Até aqui, temos carros abandonados. Tenho certeza que tem dezenas de mortos floresta a dentro. Por que não há sangue? Nas cidades, onde os infectados se concentravam, não havia sangue. 

- Em todo lugar que passamos, todo o sangue que vimos, era dos vivos. 

- Quem tiver com um machucado, por mais pequeno que seja, mesmo que já tenha cicatrizado, vamos precisar isolar ou, na pior das hipóteses, seguir sem. 

- Não pode falar assim. Estamos todos bem, estamos vivos. - Gritou uma mulher no fundo. Jason lembrava dela da base. Então entendeu e respirou fundo. Consentiu com a cabeça.

- Quem for contra a ideia de vistoria, está automaticamente fora. Estão livres para ir. Juntem-se e peguem um dos carros. O resto é nosso. - Jason disse, de forma ríspida e dura. Joel pensou que o irmão servia para aquilo. Para ser o líder. Como o silêncio se seguiu, o grupo retornou aos seus carros e seguiram até encontrar uma pequena trilha, que dava em uma fazenda. Era uma cabana rustica, muito bela. Próximo a ela, no silêncio da floresta e do mundo, ouvia-se um pequeno riacho. Alguns sobreviventes foram rodear a casa, afim de encontrar a água limpa e refrescante. Jason alertou para irem rápido, pois iriam fazer a vistoria ainda naquele dia.

Como era de se esperar, Priscila ficou como a responsável feminina, mas não antes de disputar o lugar com Sabrina, já que ela já fazia parte do grupo de Jason. Mas tudo se complicou quando questionaram como provariam que os lideres também estariam limpos. O grupo, dividido em dois, não aceitava confiar um no outro.

- Meu corpo não tem nada de especial, se você precisar ver para confirmar, eu apoio a ideia. Precisamos confiar uns nos outros. Você, seu irmão e seu pai são os responsáveis por esse grupo. 

- Sabrina e Mike também. - Disse Sabrina, baixinho.

- Certo. Deixamos isso por ultimo.

    Formando uma fila de homens e mulheres, a vistoria foi sendo feita em quartos separados. Em alivio, ninguém mais do grupo tinha machucados cicatrizados ou que demonstrassem qualquer ligação com a infecção. Até que chegou na vez da troca de grupos. Jason entrou no quarto onde Priscila estava. Joel sentiu um aperto, mas não interviu. Em poucos minutos, os dois já haviam saído, estavam sorridentes.

- Jason. - Joel chamou, enquanto os dois desciam as escadas. - Posso conversar com você lá fora?

       Assim que saíram, se afastaram para perto dos carros estacionados, Jason encarava o irmão sem entender. 

- Então? - Teve de questionar. Joel parecia emburrecido.

- Eu gosto dela. - Disse, firmemente, ainda sem olhar o irmão. Jason começou a rir, primeiro alto, depois com cautela.

- Então você tem sorte.

- Desgraçado. Vocês não tinham trocado muitas palavras, e depois daquilo ficam bem amiguinhos?

- É, ela ficou nua, Joel. Na minha frente, um corpo incrível. Mas ela fez questão de me contar que estava interessada no meu irmão.

A surpresa de Joel, Jason pensou consigo, foi impagável.

- O que? - Questionou, quase balbuciando.

- É isso ai, arrasando corações! - Jason começou a dizer, já de costas, então se virou novamente, e ergueu a mão direita. Joel se sentiu pequeno, e burro.

- Quando eu encontra-la, Joel, esse anel vai para a outra mão. Eu não quero mais nenhuma mulher. 

   O orgulho que preenchia o coração de Joel, vendo o quanto poucos dias tinham transformado seu irmão, e até a ele mesmo. Por um misero instante, Joel pensou que o apocalipse podia ter um lado bom, uma linha tênue, que poderia trazer uma fina luz de alegria. Joel foi em direção ao irmão, brincando sobre o casamento, e os dois retornaram a cabana abraçados, enquanto a tarde se deitava.



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