𝟎 𝟎 𝟒

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Estava sentada olhando para frente, tentando me concentrar na aula entediante de matemática. Sério, não sei de onde aquele professor tirava tanta paciência de soltar aquelas abobrinhas para um monte de adolescentes pouco se fodendo para a matéria.

Senti algo batendo contra a minha cabeça e me virei na cadeira, já pronta para montar o meu barraco. Maite me olhava enquanto fazia um monte de mímicas com as mãos, ela era uma das poucas amigas que eu tinha aqui no asfalto. Não era rica, mas também nenhuma zé ruela feito eu.

Balancei a cabeça, não entendendo porra nenhuma do que ela tentava me dizer.

— O que foi, praga? — Reclamei, sabendo que se o professor Henrique percebesse que eu estava de conversinha iria me dar outra advertência.

Já estava de saco cheio de ir para a coordenação por conta das reclamações dele.

— Vai para o baile da Rocinha mais tarde? — Perguntou e eu apenas concordei com a cabeça. — Beleza, vou com você!

— E sua coroa vai deixar por acaso? — Ergui as sobrancelhas. Maite quase nunca ia para os rolês com a gente porque sua adorável mãe era uma chata do caramba e não gostava de ver a filha andando com o pessoal do morro. Aposto que na cabeça da velha, todos que viviam lá eram bandidos.

— Não, mas eu dou meu jeito. — Maite piscou um dos olhos e eu fingi estar impressionada.

— Senhorita Arantes, creio que a conversa com a Maite esteja muito interessante, não é? — Ouvi a voz daquele pé no saco do Henrique e me virei abrindo o meu sorriso mais inocente.

— Na verdade, está sim. — Concordei e ele ficou boquiaberto com a minha resposta audaciosa. — Mas prefiro mil vezes assistir a sua aula, é claro. — Acrescentei e todos começaram a dar risadinhas. Vi o rosto do professor atingir o grau mais vermelho possível e logo em seguida bater os pés no chão, feito uma criança mimada.

Eu hein, cara estranho!

— Pois bem, caso não queira fazer uma visitinha para a diretora, me responda com exatidão. Qual a raiz quadrada de 225?

Ah, essa era moleza!

— Hum... 9. — Respondi com certeza, mas pela gargalhada dos meus colegas vi que tinha passado longe.

— Fora daqui, senhorita Arantes! Agora! — Apontou para a porta da sala, me olhando com fogo nos olhos. Já até sabia que não tinha como mudar sua decisão, por isso guardei meu material na mochila e fui saindo. — Só volte a frequentar minhas aulas quando estiver realmente com vontade de aprender.

— Então já deixa eu me despedir de você. Adeus! — Abracei ele, que ficou perplexo com o meu comportamento. Soprei um beijo para a minha amiga e fui em direção a coordenação.

A diretora nem ficou surpresa quando me viu entrando na sua sala. Apenas rabiscou mais uma das suas advertências e entregou para que eu assinasse.

— Não terá uma próxima, Dulce. Ligaremos para os seus pais caso for expulsa da sala de aula mais uma vez. — Ela falou quando eu me preparava para sair.

Dei de ombros e lhe abri um sorriso debochado.

Assim que o sinal para a última aula bateu, caminhei até a quadra de educação física. Ao contrário do Henrique, o professor Rogério me adorava.

— Olá, profe! — Falei com um sorriso no rosto. Vi seus olhos se estreitarem de acordo que desciam pelas minhas pernas, ele odiava quando alguém vinha de calça jeans sabendo que teria sua aula.

— Cadê sua sala?

— Já estão vindo. — Respondi e me sentei na arquibancada vazia. Ele começou a organizar a quadra, pelo jeito teríamos queimada de novo.

Atração Perigosa [M] [EM BREVE SERÁ RETIRADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora