𝟎 𝟐 𝟔

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Fiquei ali ao lado do corpo dele e sequer fiz menção de me levantar quando ouvi a porta da sala sendo aberta novamente. Meu corpo ainda tremia e a faca ensanguentada que eu segurava firmemente estava entre as minhas mãos, me lembrando constantemente do que eu tinha acabado de fazer. Eu matei meu próprio pai e, provavelmente, acabei com a minha vida também.

O preço seria alto, afinal toda ação tinha sua reação, não era?

— Puta que pariu! — Anahí gritou assim que entrou na cozinha. Não lhe julgava, a cena vista por terceiros devia ser assustadora. O sangue do meu pai começava a escorrer pelo chão, sujando minha calça. — Dulce... — Seus lábios tremeram quando pronunciaram meu nome meio hesitante, ela parecia não acreditar no que estava vendo. — Você matou ele? — Anahí murmurou com a mão na boca, encarando o desgraçado caído no chão da cozinha.

Ele ainda estava de olhos abertos, mas eu não me importava. Não o tocaria mais e por mim estava tudo bem se jogassem o corpo dele na vala junto com os outros indigentes.

Ele deixou de ser parte da minha família quando fez o que fez comigo, quando sequer demonstrou sentimentos pela morte da minha mãe, sua esposa.

— Pelo menos agora vou ter paz... — Respondi, incapaz de sentir remorso ou qualquer sentimento parecido digno com empatia por ele. E pensando agora, faria tudo de novo quantas vezes eu julgasse necessário. César não merecia viver em um mundo onde a vida da minha mãe tinha sido tirada por conta de pessoas cruéis feito ele.

— Do que tá falando? Caralho Dulce, você tá ferrada, isso sim! — Minha amiga me olhou com os olhos arregalados e puxou o facão da minha mão. Custei a aliviar a pressão dos meus dedos envolta do objeto, com medo de que meu pai se levantasse e viesse para cima de mim. — Escobar vai vir com tudo pra cima de tu, tô ligada que ele é mó judaria com quem rouba ou mata aqui.

— Eu sei, vou pagar pelo que eu fiz, mas pelo menos fiz esse... — Apontei para o meu pai, mas guardei o insulto para mim. Respirei fundo. — pagar pelo dele.

A verdade era que, assim como em qualquer lugar, no morro haviam leis e restava aos moradores seguirem. Polícia ou justiça aqui não se crescia, sabia que não seria presa. Mas Escobar me cobraria um preço alto por aquela morte, ainda mais por alguém que devia uma grana preta para ele. Eu chutava que iria me deixar careca ou na pior das hipóteses me mataria de uma vez.

Mas, eu não sentia mais nada, para dizer a verdade eu nem me importava se amanhã estaria viva ou morta.

— Não vai pagar nada, tá ficando maluca, pô? — Anahí uniu as sobrancelhas. Pela sua feição, já chutava que estava bolando um plano em sua mente perfeitamente sádica. — Tu vai se mandar daqui agora, eu arrumo as suas coisas e te entrego depois.

— Eu não tenho para onde ir, Annie. — Sussurrei, sem me mover um milímetro. Minha vida já tinha acabado, restava eu aceitar. — Não tenho dinheiro nem pra evitar que eu morra de fome.

— Só arruma um lugar para passar a noite, beleza? Vou descolar uma meta pra tu, você vai ficar bem, Dul.

Anahí me ajudou a levantar e fez com que eu tomasse um banho antes de praticamente me escorraçar do morro. Não queria envolvê-la em toda aquela sujeira que se tornou minha vida, uma hora ou outra Escobar descobriria o que eu tinha feito e que eu fugi. Meu medo era que ele pegasse Anahí para me atingir.

Sem ter para onde ir, me lembrei que há poucos dias Christopher tinha me passado um número de celular para quando eu quisesse falar com ele. Nunca tinha feito uma ligação ou entrado em contato por telefone, era ele que sempre me procurava.

— Alô.

Prendi a respiração. Era uma voz feminina que atendeu, havia grandes chances de ser a sua noiva ali, sabia que devia desligar e fingir que tudo não passava de um engano, mas a necessidade de vê-lo naquele momento era mais forte, de me despedir dele pois amanhã estaria deixando o Rio de Janeiro para trás.

Atração Perigosa [M] [EM BREVE SERÁ RETIRADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora