𝟎 𝟐 𝟕

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Assim que saí do motel, me bati na rua com uma mulher no ombro. Ela me olhou confusa e abriu um meio sorriso, seus cabelos louros chamavam atenção por serem sedosos e bonitos. O que me chamou a atenção foi a barriga saliente, ela estava esperando um bebê. Foi então que caí na real, ela era a mulher que vi na tela do celular de Christopher inúmeras vezes.

Mas o que sua noiva estava fazendo aqui? Será que tinha descoberto tudo?

— Foi mal... — Murmurei, abaixei a cabeça e voltei a andar. Meus olhos ainda teimavam em queimar contra a minha vontade enquanto eu caminhava sem rumo pelas ruas do centro do Rio de Janeiro.

Uó, eu não queria mais chorar, ainda mais por conta de macho, eu hein!

Não tinha para onde ir, e muito menos sabia como passaria a noite no meio da rua. Pensei em ligar para Maite e perguntar se eu podia dormir em sua casa hoje, mas só em pensar que eu levaria problemas para ela, eu desisti. Sabia que sua mãe detestava tudo que envolvesse a favela e era totalmente contra a nossa amizade.

Infelizmente, o preconceito ainda era forte na cabeça de muita gente sem noção. A mãe dela nunca chegou a me ver, não deu sequer a oportunidade de me conhecer melhor, mas eu a entendia como mãe. Ela só queria o melhor para Maite, mesmo que isso significasse passar por cima do direito da sua filha escolher as próprias amizades.

Decidi que passaria a noite na praia mesmo. Eu poderia muito bem me prostituir uma última vez e pagar uma diária em algum hotel, mas sei lá... Fiz o que fiz antes somente porque fui obrigada e agora a situação era completamente diferente.

Meus pés já estavam doendo quando finalmente cheguei à praia. Era final de tarde, mas ainda tinha algumas barraquinhas em grupos no areião. Ajeitei minha bolsa no ombro e fui caminhando para uma parte mais afastada. Assim que arrumei um lugar para passar a noite, minha barriga roncou. Saí tão apressada do morro que não me preocupei em pegar algo para eu comer, se pá não tinha nem dois reais na bolsa, então minha fome teria que aguentar até amanhã.

Acho que nunca passei por algo tão horrível como a situação de agora, devia ser até pecado me sentir daquele jeito. Eu não tinha mais rumo, em apenas um dia eu perdi tudo. Tudo que eu tinha! Minha mãe, minha casa... até o cara que eu curtia de vez em quando.

A brisa do início da noite junto com as ondas do mar atingiu meu corpo e eu me encolhi toda na areia, tentando me aquecer com os braços. Fiquei alguns minutos ali olhando para o horizonte alaranjado, pensando em como tão pouco tempo minha vida tinha se desgraçado toda. Eu nunca tive nada de valor, minha casa era um barraco caindo aos pedaços e minha família totalmente desestruturada, mas sempre foi o suficiente pra mim.

Ter minha mãe viva ao meu lado era minha maior conquista, e apesar de não gostar nem um pouco de estudar, eu queria me formar pra quando eu pudesse pagar uma faculdade, eu seguisse meu sonho de ser enfermeira. Mas agora mais do que nunca meus sonhos estavam arruinados, fugir de bandido era viver sabendo que um dia ele te encontraria e aí acabou, sem segunda chance.

Suspirei, colocando minha bolsa no meio de um dos meus braços e me deitando na areia. O lugar era parcialmente coberto por uma passarela que passava em cima da minha cabeça, então me senti um pouco mais segura.

Meus pensamentos me levaram até Christopher, sem me dar conta fiquei emocionada de novo. Pô, considerava o bofe demais e no fim se tornou apenas mais uma das minhas inúmeras decepções. Ele não fez a menor questão de me ouvir e deixar que eu lhe explicasse tudo, pelo contrário, me julgou sem antes saber o outro lado da moeda.

Pior doença do ser humano era essa, sem maldade. Julgar e apontar o dedo para o outro sem ter a capacidade de se colocar no lugar dele por um segundo.

Atração Perigosa [M] [EM BREVE SERÁ RETIRADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora