𝟎 𝟐 𝟓

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— Como a tia Rose está? — Anahí chegou no postinho, me puxando para um abraço. Me levantei de onde estava sentada e a apertei com força, sentindo um conforto em ter alguém ali por mim. Acho que o medo de pelo menos metade das pessoas no mundo, eram ficar sozinhas.

— Eu não sei... Ninguém me fala nada nesse caralho! — Bufei. Pelo menos o imprestável do Juninho serviu para trazer a gente aqui na UBS. Minha mãe chegou desacordada.

— O que rolou? Estava tudo correndo pelo certo, pô. — Anahí perguntou enquanto eu voltava a me sentar na cadeira dura, ela fez o mesmo ao meu lado. Comecei a lhe contar sobre a visita do vapor do Escobar e da sua ameaça quando eu não encontrei o dinheiro que tinha guardado.

O postinho estava lotado, gente socada até onde não cabia mais. Estava com medo de eles terem largado minha mãe em algum corredor imundo daquele lugar. Era feito muito aquilo, abandonavam as pessoas a própria sorte e metiam o foda-se.

— Você tá ligada que foi o desgraçado do seu pai que roubou a grana, não é? — Ela verbalizou minha suspeita em voz alta. Suspirei, escondendo o meu rosto entre as mãos. Apesar do meu pai ser um ser humano desprezível, não queria acreditar que ele fez aquilo comigo mesmo sabendo para que o dinheiro serviria. — Muito filho da puta, Dul. Merece se foder muito na vida, papo reto.

— Eu...

— Vem defender esse desgraçado para mim não, Dulce. Toma vergonha nessa cara, se sua mãe tá nessa situação é por causa dele, se liga amiga. — Respondeu bolada. Fiquei em silêncio, sabia que ela estava certa e tudo aquilo era culpa do meu pai.

— Dulce... — Me levantei assim que ouvi a voz da enfermeira Emily. Senti Anahí se colocar ao meu lado e segurar minha mão com força.

— E aí? Como tá minha mãe? Ela vai ficar bem, não é? — Enchi-lhe de perguntas. Meu coração estava tão apertado no peito. Acho que já estava acostumada a ter aquelas sensações, nunca fui capaz de vivenciar nada além de dor e medo a minha vida inteira.

— Eu sinto muito...

Fiquei sem ar.

— Por... por quê? — Perguntei mesmo já prevendo a resposta. Anahí me puxou para um abraço enquanto eu só conseguia encarar o rosto da enfermeira, devia ser muito difícil dar aquela notícia para um familiar.

Só não era pior do que para a pessoa que estava recebendo.

— Sua mãe não resistiu, já chegou sem vida aqui, não podemos fazer nada. — Ela respondeu e ficou em silêncio.

O mundo parou de girar, papo reto. Tentei puxar o ar para os meus pulmões, mas não conseguia. Um único pensamento me vinha: Minha mãe se foi para sempre! Me deixou sozinha aqui, como ela pôde fazer aquilo comigo?

— Ela está tendo um ataque de pânico! — Ouvi uma voz bem distante dizer e logo mãos me seguraram para evitar que eu caísse no chão.

— Dulce! Eu tô aqui, tá me ouvindo? Estou aqui com tu, não vou te deixar.

Me sentia sem rumo, serião. Só podia ser uma brincadeira de muito mal gosto da Emily, não era possível, minha mãe não estava morta. Ela sempre foi uma mulher muito forte em questão de saúde, apesar dos pesares que passava em casa.

— Minha mãe morreu, Annie? — Perguntei sem acreditar, buscando seus olhos com os meus. Ela era a única que jamais mentiria para mim, nossa amizade tinha como base a confiança uma na outra, era minha amiga 10/10, a que eu podia sempre contar, independente do momento.

Anahí parecia abalada, mas concordou com um balançar de cabeça.

— Nem sei o que te dizer, pô. — Fungou e me puxou para um abraço. Apesar de ser de longe o pior e mais triste dia da minha vida, não consegui derramar uma lágrima sequer.

Atração Perigosa [M] [EM BREVE SERÁ RETIRADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora