7º: FELICIDADE E TERROR.

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— Eva.

Antes mesmo que eu abrisse os olhos um sorriso bobo propagou por meus lábios, isso pelo simples ouvir de sua voz. A escuridão das pálpebras se vai e minha visão dá para uma janela escondida sob cortinas brancas de renda, quase transparentes. Curvando para o lado, tentando reconhecer o quarto, eu me deparo com seus profundos oceanos oculares dominando todo o espaço.

— Teseu... — Me ergui e vi que estava coberta por um robe masculino de cetim cor vinho.

— Espero que não se importe de tê-la vestido nesse robe — disse ele ao que me sento, ajeitando-o e agradecendo por tê-lo feito. Seu rosto, aproximando vagarosamente, dominando minha visão e meus lábios. Sua mão esquerda agarrou a lateral do meu pescoço, suave, mas pressionando enquanto mergulha seus lábios macios nos meus. — Que tal um lanche pela manhã? — Sua voz sedutora me fez sorrir e lamber os lábios.

— Adoraria, mas minhas pernas ainda estão um pouco fracas — respondi na mesma altura de sua voz. Teseu sorriu e se afastou.

— Gostei de como pensa, Eva, mas estou falando de café da manhã.

Apontou a bandeja sobre a mesinha de madeira aos pés da cama. Senti todo meu rosto ruborizar e aquecer pelas maçãs. Meu Deus! Mal acordei e já estou pensando em sexo. Mas olhando-o assim, impossível evitar. Sem camisa, me mostrando a luz do dia todo o poder escultural de seu torso, entre essa cor branca rosada e um leve bronzeado. De cabelos levemente bagunçados, o que lhe confere um ar bestial, do tipo que me faz pensar que posso ser deliciosamente atacada a qualquer segundo.

Me tirei do devaneio quando vi algumas leves cicatrizes em suas costas. Não só ali, mas uma também ao lado de seu abdome, essa ainda mais apagada que as outras, mas certamente uma cicatriz, ignorei por um segundo.

— Café também serve — disse, procurando disfarçar. Ele posicionou a mesinha sobre minhas pernas quando escorei na cabeceira. Teseu se levantou e foi a um guarda-roupas cor tabaco, mas de portas brancas. Estava em uma bermuda sarje marfim. Olhei em volta. — Que lugar é esse? — indaguei mordiscando a torrada que me trouce, logo após um gole no delicioso café.

— Eu te disse ontem no elevador.

— Estava perdida entre a pizzaria e aqui. Não ouvi uma palavra. — Dei de ombros.

— Meu apartamento — respondeu sorrindo.

— Seu? — indaguei olhando em volta, mesmo vendo um pouco além da porta de vidro fosco com desenhos de ondas em alto relevo. Pensei no quão caro parece com suas janelas que estendem do chão ao teto e toda o piso de madeira, clara e reluzente. — Seus pais tem tanto dinheiro assim?

— Meu pai tem, mas eu comprei esse apartamento.

— Você tem tanto dinheiro assim?

— Não, juntei por um ano.

— Não sabia que trabalhava. Com o que?

— Eu tenho um orfanato. — Ele fuçou no guarda-roupas e tirou uma camisa vermelho-sangue.

Parei com os dentes sobre um pedaço da torrada e encarei-o enquanto me devolvia um olhar simples e descompromissado.

— Como? — devolvi em confusão.

— O Ricardo me deu um carro caríssimo de presente de 18 anos, eu vendi e comprei parte de um orfanato. Sendo sucinto, é isso — disse após colocar a camisa, tirando meus olhos de seu tórax bem formado. — Mas não é bem um trabalho, eu só tento conseguir festas e jantares beneficentes para ajudar. Devo admitir que tem me rendido mais do que esperava. Eu precisava de um canto só meu, então comprei esse lugar, conheço o dono e ele me fez um preço mais gentil. — Teseu se aproximou e sentou à beira da cama, mordendo parte da torrada.

Eva O Fruto do Pecado (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora