15º: BRISA DE ORLANDO.

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— Eva. — Uma voz rouca quase desconhecida me chamou. Removendo a escuridão dos meus olhos vi alguns raios de sol invadindo a janela e vi que já é de manhã. Que horas poderiam ser?

— Tiago? — perguntei ainda meio perdida. O tio de Teseu me cumprimentou.

— Estamos prestes a chegar — explicou.

— Ah, sim, obrigado.

— Você é como eu — disse se sentando na poltrona de frente a minha. — Dorme independente do lugar e da hora.

— Sempre fui assim. — Sorri me ajeitando debaixo do cobertor. Olhei em volta e não achei Teseu.

— Ele foi tomar um banho — confirmou, Tiago. — Se quiser um, fique à vontade.

— Estou bem, por enquanto.

— Queria conversar com você um pouco. Essa parece ser a melhor hora.

— Sobre?

— O Teseu. — O homem desabotoou o paletó e se acomodou. — Quando disse que a conhecia na festa, não é pelos seus livros, mas pelo que Teseu já me contou. Mas claro, já sabia de sua carreira.

— Ele falou sobre mim?

— Conversamos poucas vezes, mas sempre que o fazíamos, ele não resistia. Acho que sou a pessoa para quem ele conta as boas partes da vida.

— Quando foi a última vez que se falaram?

— Bom, ontem, mas antes disso, há três dias. Sua amiga, Débora o pediu para que vocês dois se encontrarem e ele me ligou desesperado.

— Desesperado, o Teseu?

— Ele estava com medo, Eva. Teseu disse que você terminou com ele.

— Sim. Eu não deveria, ele precisava de mim e eu dele — admiti. Era estranho colocar todos os meus sentimentos na mesa frente a um homem que mal conheço, ainda mais quando esse homem sabe tanto e que eu e Teseu temos essa diferença gritante de idade.

— Se realmente pensa assim, posso prosseguir. — Ele sorriu, aliviado. — Ele tem medo, porquê acha que você terminou com ele por saber do passado dele, por saber o tipo de coisa que ele já fez. Nem eu sei todo esse passado, na verdade ele esconde de mim a todo custo. Provavelmente, temendo que eu o julgue.

— Não. Eu terminei porquê estava com medo. Eu só não queria sofrer pelo temor de perdê-lo. Tiago, acredite quando digo que eu realmente gosto do seu sobrinho. Foi uma decisão idiota e pretendo me redimir dela.

— Nesse caso eu fico mais tranquilo. Eu sei o tipo de relacionamento que ele tem com as garotas que fica e apesar de ele dizer que também é usado tanto quanto as usa, a verdade é que ele está profundamente magoado com tudo isso.

— Eu sei, ele se sente completamente usado.

— Não, esse não é o problema. A verdade, Eva, é que todos desistiram do Teseu. — Seu tom desceu em uma vibração baixa e rouca. — Eu cometi meus erros, erros feios, mas o Teseu nunca me julgou por eles, por que eu nunca desisti dele. Eva, ele é um órfão, as pessoas vêm desistindo dele desde o segundo em que nasceu, porra, a própria mãe o fez. Teseu não admite, mas ele tem um complexo de abandono, tudo o que ele mais quer, é que alguém não desista dele. Que acreditem que lá no fundo ele é uma boa pessoa.

— E eu fui igual as outras... — disse com certo ardor no nariz, como se quisesse chorar.

— Mas nunca é o fim, Eva. Teseu me ligou três dias atrás com medo, como eu disse. Medo de te rever de tão perto, conversar com você, medo por que ele sente que não é o suficiente para você. Contudo, um mês se passou, Eva, um mês e ele não consegue parar de pensar em você. Isso pode parecer pouco, mas para ele...

Eva O Fruto do Pecado (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora