2º: ENLOUQUECENDO PELO PECADO.

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Correndo eu me sinto livre. Elimino todos os pensamentos, queimando-os nas brasas de minha adrenalina. Uma manhã tão comum — ainda assim diferente — como essa, pedia minha corrida matinal.

Devo ter escrito umas cinquenta páginas de um novo romance, ontem. Passei o dia pensando nos personagens e toda a construção de arco que desejava para eles, mas sempre que sentava para anotar minhas ideias, era tomada pela imagem do personagem masculino criado a partir da aparência daquele garoto.

O chamei de Adônis, como deveria ser, mas a imagem de Teseu era a que me tomava a mente a cada letra.

Depois de inúmeros minutos e me perdendo de palavra em palavra, descrevendo-o em minha ficha de personagem e o delineando em minha mente, finalmente fluiu com os demais personagens e o resumo da história. Não precisou de muito tempo para que estivesse pronta a colocar em palavras toda a trama que desejava escrever.

Este ponto sempre me empregou imensa dificuldade. Personagens criados, trama pensada, arcos prontos e nenhuma letra do primeiro capítulo vinha nos livros que escrevia. Aprendi a começar a escrever dos capítulos que mais me apeteciam e depois apenas conduzia a história pelos capítulos antecessores até chegar a eles. E eu sabia o que queria escrever.

Cinquenta e três páginas de puro sexo entre os protagonistas.

Dedilhei sobre o teclado e quando dei por mi, estava tão sedenta quanto molhada, mergulhada em meus pensamentos. Ansiava por aquelas palavras como nunca ansiei por outras. Me contorcia na cadeira a cada penetrar de Adônis em minha frágil personagem.

Figurei a perfeita imagem da garota entrelaçando o pau de Adônis com os dedos enquanto era aquecida pela sensação de tê-lo dentro de si. Delineei como nunca a detalhada cena de sua língua e seus lábios envoltos no membro rígido e como ele enrolou os cabelos dela com uma das mãos e conduzia a velocidade de sua movimentação sedenta.

Quando terminei de escrever, não sabia como enfiaria aquelas cenas no roteiro sem que o livro chegasse as duzentas páginas, coisa que eu não queria, ou melhor, não vou. Preciso cortar e encurtar todas aquelas cenas. É uma leitura rápida que pretendo criar e agora, se tornou quase sombrio de tão profundo em um sexo animalesco, tragado pelo desejo infinito de dois corpos.

Salivava como nunca ao final do texto, sempre o faço enquanto escrevo, mas nunca a nível que cheguei. Como um enviado para conter meus desejos, meu marido chegou do trabalho.

Aguentei firme depois de um breve jantar e um banho, desposada sobre a cama ansiando por sua presença. E ele veio a mim. Notou minha ansiedade e mergulhou sobre meu corpo com fome de minha carne. Cada toque seu me parecia diferente de todas as outras vezes e queria eu desvencilhar de pequenos lampejos de imagens de como estaria, se em outros braços, nos braços daquele garoto. Precisava voltar minha cabeça ao lugar hora ou outra para me lembrar do bom homem que tinha para me saciar.

Alguns poucos minutos depois, eu estava onde sempre estive. Tão excitada quanto decepcionada no canto de uma cama. A frustração me nocauteou sobre o colchão, onde fiquei acordada por uma ou duas horas com a mente em branco, desejando algo diferente.

Por isso, assim que acordei, vesti uma legging, uma regata e meus tênis. Disparei às longas áreas laterais do condomínio. O escolhi em partes por isso, longo, perfeito para uma corrida desesperada em busca de esquecimento de uma frustração noturna.

Me perdi em quanto tempo estava correndo, mergulhada em fantasias que resistiram as brasas incandescentes da adrenalina que me queima. O que piora tudo, pois quando não me livra dos desejos, os amplia.

Como que sem razão, olhei para trás. Nessa hora sempre via a sombra de alguns arbustos na lateral do paredão do condomínio, ou as frondosas árvores laterais, as paredes bem pintadas e cuidadas das casas. E deveriam estar ali, mas toda minha visão se focou apenas em Teseu.

Eva O Fruto do Pecado (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora