24º: O FRUTO DO PECADO - PARTE 1.

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TESEU

CINCO ANOS DEPOIS...

O vento frio correu a grama em volta das pedras que trilhavam o espaço entre meus sapatos e as belas lápides de concreto e mármore frente a mim. Encarei as duas lápides e senti o vibrar do celular no bolso do casaco chesterfield que me protegia da brisa glacial do inverno paulista. Que esse ano, parece ter vindo por encomenda de crueldade.

— Alô? — indaguei.

— Teseu. Há quanto tempo — a voz dela me pegou de surpresa.

— Digo o mesmo. E lamento, sei que estive longe. Mas estive tão ocupado que mal tenho tempo de respirar.

— Fiquei sabendo. Está lançando um novo livro. E quanto a sua empresa...? Nossa, nem acredito que estou dizendo isso. Quem diria que um dia meu filho seria um empresário, e tão cedo. Você tinha toda aquela aura de esportista e sempre odiou ternos. Agora só te vejo em fotos com belos ternos feitos sob medida.

— Nem eu diria. — Sorri. — Precisa de algo, Maria?

— Só quero conversar. Sei que não está tendo tempo de vir me visitar, nem exigiria nada assim. Está com tempo agora? Pode continuar no celular?

— Claro.

— Onde está agora? Está silencioso demais.

— Cemitério.

— Oh... — Ela retraiu a voz. — Já fazem cinco anos. Parece tanto tempo e ainda assim, sinto como se fosse ontem. Tudo aquilo.

— Me sinto da mesma forma. — Fitei as lápides mais uma vez. Em uma pausa. Ainda me doía o peito o simples fato de não poder ter feito mais que isso em sua homenagem. Alguém que fez tanto por mim. — Está mesmo tudo bem, Maria? Se precisar eu vou te ver, sabe disso, certo?

— Meu Deus, você é um filho de ouro, Teseu — disse de forma meiga. — Eu estou bem, querido. Só um pouco perdida. Os remédios me deixam feito zumbi e só queria ouvir algo do mundo exterior.

— O pessoal da clínica cuida bem da senhora?

— Sim. Todos são muito gentis, infernalmente gentis, na verdade — brincou. — Obrigado, Teseu.

— Por?

— Por me perdoar — disse em um timbre choroso. — Fazem cinco anos que repito isso, e acho que vou continuar pelo resto da vida. Eu não acredito que te fiz passar por tudo aquilo. Espero que esse tratamento e a ajuda do Dr. Eliseu possam me deixar consciente do que fiz para sempre, talvez assim eu possa continuar te agradecendo e pedindo perdão.

— Você foi diagnosticada com tantos problemas psicológicos, que nem consigo lembrar de todos. E olha que sou formado em psicologia — devolvi uma risada junto a dela. — Fico feliz que pude ajudar com isso. E se consegui te perdoar, a Eva teve tanto haver com isso quanto eu mesmo.

— O que a Eva fez por você eu nunca vou poder retribuir.

Continuamos uma leve conversa por alguns minutos até que por fim, ela precisou sair para tomar alguns remédios.

Fui para meu apartamento sentindo um cansaço que não se vai há muito tempo. Se eu não tivesse apenas 24, diria que é o peso da idade. Não que os anos até aqui tenham sido leves. E emocionalmente falando, foram mais que aniquiladores.

Saí do elevador e abri a porta, esperando encontrar a fria solidão daquele lugar que parecia bem maior só comigo dentro. Meu velho apartamento. Ao invés disso, escutei um som estridente e infantil.

— Papai! — Impossível segurar o sorriso que se fez em meu rosto ante a sua doce voz. A pequenina veio correndo rumo a mim. A apanhei e levantei, ainda intrigado como estava ali, mas estava feliz. A ergui acima da cabeça, e ela estendeu os braços, como se fosse um avião. — Aviãaaao! — disse ela gargalhando.

Eva O Fruto do Pecado (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora